DE VOLTA AO NOVO TESTAMENTO:
Os Movimentos de Restauração do Cristianismo Apostólico
Introdução
Reconhecemos que o desejo de restaurar as formas e os padrões da Igreja do Novo Testamento é um tema muito antigo. Ele tem origem na Pré-Reforma, foi desenvolvido pela tradição suíça da Reforma Protestante e levado ao extremo pelos Puritanos nos séculos XVI e XVII no Reino Unido e nos EUA, tanto que ainda hoje é identificado como um dos seus lemas.
Em meados do século XVIII e por todo o século XIX surgiram nos EUA e Reino Unido vários movimentos que resgataram o tema puritano da restauração do cristianismo primitivo. Portanto, podemos afirmar com toda certeza que os fundadores do nosso Movimento não foram os primeiros a buscar a unidade e a simplicidade do cristianismo bíblico. Havia, inclusive, outros movimentos similares, mas nunca iguais, e alguns contemporâneos ao dos nossos pioneiros. Podemos citar alguns deles:
1. Os Batistas Separatistas;
2. Os Batistas Escoceses;
3. O Movimento de James O'Kelly (Igreja Cristã);
4. O Movimento Smith-Jones (Igreja Cristã);
5. A Conexão Cristã (O'Kelly/Smith-Jones);
6. O Movimento de Barton W. Stone (Igreja Cristã/Igreja de Cristo);
7. O Movimento dos Campbell's (Discípulos de Cristo);
8. O Movimento Stone-Campbell;
9. O Movimento de Chester Bullard;
10. O Movimento Wright-Hostetler (Igreja de Cristo);
11. As Igrejas de Cristo no Reino Unido;
12. Os Cristãos-Evangélicos da Rússia.
Neste artigo apresentaremos um sumário destes movimentos de restauração do cristianismo do Novo Testamento. Alguns influenciaram fortemente o Movimento de Restauração de Stone e Campbell, ao qual somos afiliados e herdeiros, outros se unificaram com o nosso Movimento e, por fim, há os que nunca se associaram conosco, apesar das similaridades.
Vale salientar que a lista dos movimentos acima citados e as informações aqui contidas não são completas e estamos abertos às correções e sugestões pelo e-mail: pedrojrosalia@hotmail.com . Confira abaixo um sumário destes grupos.
1. Os Batistas Separatistas
Durante o Primeiro Grande Avivamento nos EUA os evangélicos ficaram divididos entre os que se opunham a ele (Velhas Luzes) e os que o apoiavam (Novas Luzes). Estes últimos, por fim, estavam divididos em Moderados (que queriam permanecer em suas igrejas) e Separatistas (radicais que queriam deixar as igrejas estabelecidas).
Os Batistas Separatistas da década de 1750 eram Novas Luzes e foram influenciados pelos puritanos norte-americanos quanto a um retorno ao cristianismo do primeiro século. Eles foram liderados por Isaac Backus, Shubal Stearns e Daniel Marshall na Nova Inglaterra e no sul dos EUA (Carolina do Norte, Virgínia, Carolina do Sul, Kentucky e Tennessee). Os Batistas Separatistas tinham a Bíblia como a "regra perfeita", rejeitavam os credos e buscavam resgatar a forma da Igreja do Novo Testamento. Entre suas práticas estavam o batismo, a ceia do Senhor, a refeição da comunhão, o lava-pés, o ósculo santo, a unção dos doentes, a imposição de mãos, a dedicação de crianças e a destra da comunhão. Eles também ordenavam presbíteros, diáconos e diaconisas. Os Batistas Separatistas prepararam o solo para vários outros movimentos restauracionistas norte-americanos. Isto é tão verdadeiro que até 1811 mais de 13.000 deles se uniram ao movimento de Barton Stone e no Kentucky, entre 1824 e 1832, outros 500 fizeram o mesmo com o movimento dos Campbell's1.
2. Os Batistas Escoceses
Alexander Campbell, que foi o principal teólogo e organizador do nosso Movimento de Restauração (Stone-Campbell), foi muito influenciado pelo movimento iniciado pelos irmãos Robert Haldane e James Haldane em 1790. Estes reformadores imersionistas escoceses defendiam “um reavivamento evangélico e um maior zelo missionário na Igreja da Escócia”. Os Haldane’s iniciaram uma igreja “independente” em 1799, pregavam a autonomia congregacional e celebravam a Ceia do Senhor semanalmente. James Haldane afirmou em 1805 que “todos os cristãos têm a obrigação de observar as práticas universais aprovadas pelas primeiras Igrejas registradas nas Escrituras”.2
O Dr. B. J. Humble escreveu que este movimento estabeleceu muitas igrejas pelo Reino Unido (Escócia, Inglaterra e Irlanda) e, também, nos EUA. Ele também afirmou que o contato de Alexander Campbell com eles se deu através de Greville Ewwing, que estava dirigindo um seminário em Glasgow e se tornou amigo da família.3 Os Batistas Escoceses estabeleceram igrejas na Virgínia, Vermont, New Hampshire, Connecticut, Kentucky, Pensilvânia e Nova Iorque.
3. O Movimento O'Kelly (Igreja Cristã)
Alguns metodistas reclamaram da concentração de poder nas mãos do Bispo Francis Asbury, enviado por John Wesley. Não conseguindo seu intento de descentralização, no dia em 25 de dezembro de 1793, James O’Kelly e outros metodistas deixaram sua denominação e formaram a Igreja Metodista Republicana.
Em 1794, por sugestão de Rice Haggard, adotaram o nome de Igreja Cristã, declararam o Senhor Jesus como o único cabeça da Igreja e tomaram a Bíblia como seu único credo ou regra de fé e prática. Este movimento se estendeu pelos estados do Sul e Oeste dos EUA e em 1809 sua membresia era superior a vinte mil fiéis.4 Suas congregações eram independentes e tinham uma convenção anual, mas ela era apenas consultiva e não tinha autoridade sobre as igrejas ou ministros. Quanto ao batismo O'Kelly continuou aceitando a aspersão.
Alguns ministros do movimento liderado por O'Kelly, quando chegaram ao Oeste, se uniram ao movimento de Barton Stone (outro grande pioneiro do Movimento de Restauração que fazemos parte), pois eles estavam vivendo de acordo com os mesmos princípios que tinham aceitado no Norte. Entre estes ministros estavam Rice Haggard, David Haggard, Clement Nance, James Read e John O'Kelly.5 O movimento liderado por O'Kelly veio a se unir posteriormente com o movimento Smith-Jones que veremos a seguir.
4. O Movimento Smith-Jones (Igreja Cristã)
Um movimento similar ao anterior, porém independente deste, surgiu na Nova Inglaterra liderado pelos batistas Elias Smith e Abner Jones. Elias Smith era um pastor batista que ficou insatisfeito com o calvinismo em meio ao debate teológico daqueles anos e em 1808 iniciou a publicação do Arauto do Evangelho da Liberdade (Herald of Gospel Liberty). Já Abner Jones deixou os Batistas do Livre Arbítrio em 1801 e iniciou uma Igreja Cristã independente em Lyndon, Estado de Vermont, como protesto aos nomes e credos sectários. Após seis anos existiam quatorze congregações e doze ministros.6 Os grupos de Elias Smith e Abner Jones se uniram em 1812 e estabeleceram igrejas por toda a Nova Inglaterra. Mais tarde este movimento foi um dos que formaram a Conexão Cristã.
5. A Conexão Cristã (O'Kelly/Smith-Jones)
No início da década de 1840 o movimento liderado por James O'Kelly (Igreja Cristã) se uniu ao grupo homônimo de Elias Smith e Abner Jones. Este grupo ficou conhecido como Conexão Cristã.
Este movimento restauracionista permaneceu separado do Movimento Stone-Campbell. Uma das razões para isto foi a atitude beligerante do jovem e polemista Alexander Campbell no início do nosso Movimento. Ele desenvolveu seu trabalho na mesma região dos EUA (Noroeste) onde os grupos de O'Kelly e Smith-Jones haviam surgido e cujas posições, até então muito sectárias, eram conhecidas por todos.
Em 1930 a Conexão Cristã se uniu aos congregacionais formando a Igreja Cristã e Congregacional. Esta, por sua vez, se uniu à Igreja Evangélica e Reformada em 1957 dando origem a Igreja de Cristo Unida, uma denominação de teologia liberal.
6. O Movimento de Barton W. Stone (Igreja Cristã / Igreja de Cristo)
A origem desse movimento aponta para o ano de 1801, quando milhares de pessoas estiveram reunidas no Acampamento de Avivamento em Cane Ridge liderado pelo avivalista presbiteriano Barton W. Stone. Cerca de trinta mil pessoas estiveram presentes e responderam às pregações com confissões, orações fervorosas, ações de graça, louvor a Deus, libertação, testemunhos, exortações ao arrependimento dos pecados e fé em Jesus como Senhor e Salvador. Os presbiterianos reagiram forçando Barton Stone e outros pastores a deixarem a igreja. Eles formaram o Presbitério Independente de Springfield que foi dissolvido em 1804. Esse avivamento deu origem às Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo e seus membros gostavam de ser chamados unicamente de "cristãos".
Por volta de 1820 as igrejas desse novo movimento somavam cerca de vinte mil fiéis. Sobre os primeiros anos desse movimento os autores do livro “Raízes da Restauração” escreveram o seguinte:
“No início se concentrou na vida em santidade, buscando restaurar o estilo de vida da Igreja Bíblica. O ideal de liberdade era a pedra fundamental desse movimento e até o batismo era deixado a critério de cada um. O caráter cristão e a liberdade eram muito preciosos. Para eles a restauração da Igreja do Novo Testamento passava pela negação das tradições opressoras das igrejas estabelecidas e a unidade da Igreja Primitiva era a unidade na liberdade e não unidade na concordância”.7
Em 1832 os “Cristãos” se unificaram com os “Discípulos de Cristo”, um grupo que foi organizado pelo irlandês Thomas Campbell, pastor presbiteriano desde 1787 e Alexander Campbell, seu filho.
7. O Movimento dos Campbell's
(Discípulos de Cristo)
A origem dos Discípulos de Cristo se volta para o ano que o pastor Thomas Campbell e outros presbiterianos criaram a Associação Cristã de Washington no 17 de agosto de 1809, publicaram a "Declaração e Discurso" (o mais importante documento histórico do nosso Movimento de Restauração) e deram início a um movimento que buscava a unidade da igreja e a restauração do cristianismo primitivo.
Logo depois de desembarcar nos EUA, Alexander Campbell, seu filho, aderiu a este novo movimento e posteriormente assumiu a liderança do mesmo. Um outro grande pioneiro foi o batista Walter Scott, que com seu "exercício dos cinco dedos" (fé, arrependimento, batismo, remissão dos pecados e o dom do Espírito Santo) forneceu uma ordem em que as pessoas poderiam vir a Cristo e se associar à igreja. O grupo dos Campbell's se uniu ao de Barton Stone como veremos abaixo.
8. O Movimento Stone-Campbell
Os grupos de Stone e Campbell começaram a dialogar no início dos anos 1830 graças a articulação de John T. Johnson (“campbellista”), o próprio Barton W. Stone, Racoon John Smith (“campbellista”) e John Rogers (“stoneíta”). No fim-de-semana do ano novo de 1832 eles se unificaram, mas a uniformidade nunca foi alcançada. “Campbellistas” e “Stoneítas” eram semelhantes nos seguintes pontos:
1. Ambos os movimentos aceitavam a Bíblia como única autoridade em matéria de fé e prática cristã e concordavam que Credos ou Confissões de Fé não deviam ser impostos sobre a igreja;
2. Eles promoviam a unidade cristã com base em uma volta à Bíblia;
3. Eles reagiram contra a teologia calvinista da Igreja Presbiteriana aceitando muitas das idéias da teologia arminiana;
4. Ambos aceitavam o batismo de crentes, rejeitando o batismo de crianças (pedobatismo);
5. Procuravam se designar por nomes bíblicos: “cristãos” ou “discípulos”, “Igrejas Cristãs” ou “Igrejas de Cristo”;
6. Eles eram puramente congregacionais e não aceitavam outras formas de governo além da igreja local.
As diferenças também eram muito claras e o historiador Leroy Garrett identifica seis delas:
1. Nome: os "campbellistas" usavam Discípulos de Cristo. Os "stoneítas" Igrejas Cristãs/Igrejas de Cristo e cristãos;
2. Batismo: os "campbellistas" enfatizavam o batismo para o perdão dos pecados. Os "stoneítas" a imersão de crentes, mas não necessariamente para o perdão dos pecados;
3. Ceia do Senhor: os "campbellistas" mantinham uma periodicidade semanal (aos domingos). Os "stoneítas" diziam que não havia nenhum mandamento bíblico quanto à periodicidade da Ceia do Senhor (eles faziam trimestralmente);
4. Ministério Cristão: os "campbellistas" não favoreciam um ministério ordenado. Os "stoneítas" acreditavam que somente um ministério ordenado poderia batizar os conversos ou dirigir a Ceia do Senhor, por exemplo;
5. A Unidade Cristã: os "campbellistas" estavam preocupados em restaurar um padrão ou modelo antigo para a Igreja. Os "stoneítas" estavam mais interessados em unir todos os homens em Jesus Cristo.
6. Método Evangelístico: Os "campbellistas" foram muito influenciados pela filosofia secular (o “racionalismo” e o “realismo sensato”) enfatizavam a “razão” ou no “linguajar evangélico” enfatizavam a Palavra. Os "stoneítas" usavam os métodos do Segundo Grande Avivamento, onde as reuniões de avivamento organizadas se tornaram o meio mais comum de evangelizar, com pregações emocionais e conversões com manifestações físicas e sinais.8
As igrejas do nosso Movimento eram tão diferentes que o maior teólogo batista de todos os tempos e contemporâneo dos nossos pioneiros testemunhou sobre este fato.9
No entanto, não foi pequeno o número de igrejas locais do movimento de Barton W. Stone que recusaram a se unir ao de Alexander Campbell devido ao seu sectarismo, exclusivismo e arrogância. Estas atitudes, que ainda hoje influencia muitos da nossa família na fé (Movimento Stone-Campbell), pouco contribuiu para a unidade cristã. Naquela época, alguns movimentos similares ao nosso deixaram de caminhar conosco por causa disto.
Sabemos que a indiscutível liderança de Alexander Campbell sobre o nosso Movimento teve duas fases bem distintas. Na primeira fase, especialmente durante a publicação de “O Cristão Batista”, o jovem Campbell foi um discutidor vitalício, um polemista agressivo e radical. Thomas Campbell, seu pai, diversas vezes recomendou baixar o tom dos ataques, mas não foi atendido.10 Intransigente, o imaturo Alexander Campbell girava sua metralhadora contra todos que divergiam dele sobre "a restauração da antiga ordem das coisas"11 levantando uma enorme oposição ao nosso Movimento. Portanto, o exclusivismo e o sectarismo de Campbell prejudicou a união cristã. Além de ser uma doença infantil de alguns da nossa família na fé, esta postura também contamina muitos outros crentes e denominações evangélicas.
Graças a Deus, na segunda fase da sua liderança, que se iniciou por volta de 1840, Alexander Campbell percebeu que algumas das suas posições eram insustentáveis. Mais experiente e conciliador ele passou a aceitar a unidade na diversidade pluralista e minimizar a necessidade de uma postura rígida pelo ideal restauracionista.12 Para você ter uma idéia da natureza e profundidade destas mudanças observe a opinião do maduro Campbell quanto ao batismo cristão, assunto de tanta controvérsia no passado:
"O que deduz que só é cristão aquele que tenha sido submergido está em tão grave erro como aquele que afirma que ninguém está vivo, senão os que tem uma visão clara e completa... Eu pecaria contra as minhas próprias convicções se ensinar que alguém por não haver entendido o significado de um sacramento (instituição), ainda que sua alma anele conhecer por completo a vontade de Deus, deva perecer eternamente”.
E sobre as diferenças doutrinárias dentro do nosso Movimento ele disse: "Nós temos entre nós toda a sorte de doutrinas pregadas por toda a sorte de homens”.
Só não muda de opinião quem não tem opinião!!! O maduro Alexander Campbell, e os membros do nosso Movimento no Noroeste dos EUA que foram mais influenciados por ele nesta fase, mudaram de opinião.13 Mesmo com todos os seus erros e acertos Alexander Campbell foi considerado um dos líderes cristãos mais proeminentes de sua época.
Não nos envergonhamos nem tentamos esconder a nossa história. Pelo contrário, somos gratos a Deus por sermos herdeiros de uma tradição tão apaixonada pela Bíblia e pela Igreja. Porém, sabemos que os movimentos de "restauração" ou "reforma" da igreja, por serem esforços humanos, não são perfeitos e o Movimento Stone-Campbell não fugiu à regra. Não estamos cegos quanto aos erros cometidos no passado. Alexander Campbell percebeu o quanto era instável algumas das suas posições e passou a aceitar a pluralidade religiosa. Essa mudança na teologia e na prática do nosso Movimento apressou a sua divisão.
Em 1906 as Igrejas de Cristo (Anti-Instrumental), o ramo radical do nosso Movimento, que eram concentradas no Sul dos EUA e permaneceram mais próximas dos ideais do jovem Campbell,14 formaram um corpo separado e estão continuamente se dividindo desde então. Entre a década de 1920 e 1968 uma outra divisão ocorreu quando o grupo mais liberal e ecumênico se reorganizou como a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo). Os Discípulos que não desejaram ser parte dessa nova denominação formaram uma comunhão de Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo conhecida como os "Independentes".
9. O Movimento de Chester Bullard
O metodista Chester Bullard foi influenciado pelos escritos de Alexander Campbell e deixou a sua igreja quando esta se recusou a imergi-lo, segundo a sua compreensão sobre o batismo bíblico. Em dez anos estabeleceu cerca meia dúzia de igrejas na Virgínia e Carolina do Norte. Bullard não quis uma aproximação com Campbell devido às posições exclusivistas e sectárias que este defendia. Foi a mesma atitude que os movimentos de O'Kelly e Smith-Jones citados acima tiveram. Todavia, com o amadurecimento de Alexander Campbell, os "Bullarditas" se aproximaram e realizaram uma Convenção Estadual na Virgínia em conjunto com os seguidores de Campbell. Isto se deu em 1840, ocasião que se conheceram e deste ponto em diante marcharam juntos em união.15
10. O Movimento Wright-Hostetler (Igreja de Cristo)
No Estado de Indiana, em 1810, John Wrigth organizou a Igreja Batista Blue River (Livre-Arbítrio) e logo tinha dez congregações associadas. Em 1819 esta igreja passou a se chamar Igreja de Cristo Blue River e seus membros gostavam de ser chamados discípulos, amigos ou cristãos.
John Wright foi um personagem decisivo para unir várias igrejas em Indiana que enfatizavam o nome de “cristãos” ou “discípulos”. Em 1827 Wright promoveu a união do seu movimento com o de Joseph Hostetler, que havia liderado um ano antes a dissolução da Associação Batista Dunkards (alemã). O movimento Wright-Hostetler se uniu aos seguidores de Barton Stone em Edinburg, no mês de julho de 1828, quando estes chegaram a Indiana.
Um outro grupo deixou a Associação Batista Silver Creek liderado por Absalom Littell, que foi influenciado pelos escritos de Alexander Campbell em "O Cristão Batista". Em 1829 a Igreja Silver Creek abandonou os artigos de fé aceitando "somente a Bíblia".16
11. As Igrejas de Cristo no Reino Unido
Os Batistas Escoceses dos irmãos Robert e James Haldane tinham um forte desejo de restaurar o cristianismo bíblico e exerceram uma grande influência sobre Alexander Campbell. Quando os seus escritos chegaram na Inglaterra e Escócia nos anos 1830 encontraram solo fértil no coração e nas mentes de homens como William Jones e James Wallis que eram batistas escoceses e passaram a formar Igrejas de Cristo. Por volta de 1840 a imigração de membros das Igrejas de Cristo das ilhas britânicas para a Austrália e Nova Zelândia contribuiu para a formação das Igrejas de Cristo na Oceania.17
12. Os Cristãos-Evangélicos da Rússia
No norte da Rússia por volta de 1860 um grupo deixou a Igreja Ortodoxa Russa buscando restaurar a fé e a prática da Igreja Bíblica. Os "cristãos-evangélicos", era assim que se chamavam, em sessenta anos alcançaram a membresia de mais de 2.000.000 de fiéis espalhados pela Rússia, Polônia e outras nações do Leste europeu. Após terem acesso ao periódico "Christian Standard" em 1918 eles descobriram as similaridades com as Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo do EUA. Após muito diálogo estes grupos resolveram se unir em 1920.18
Conclusão
O nosso Movimento de Restauração, que é mais conhecido hoje como Movimento Stone-Campbell, não foi o primeiro nem o único movimento que buscava restaurar o cristianismo do Novo Testamento. Muitos outros tiveram a mesma iniciativa. E nesta caminhada, tudo aquilo que representava um impedimento foi paulatinamente deixado de lado: as estruturas denominacionais sufocantes; a imposição dos credos, confissões de fé ou qualquer outro documento doutrinário como condição de aceitação e comunhão na Igreja; as opiniões e pareceres humanos e etc.
Assim como o nosso Movimento, muitos outros pregaram uma volta à Bíblia, a união em Cristo Jesus e a simplicidade da fé dos primeiros cristãos. Acredito que todos estavam com boas intenções, porém muitos enveredaram pelo exclusivismo e sectarismo se achando os únicos cristãos e apenas criaram mais divisões entre os cristãos. Outros foram enlaçados pelo liberalismo teológico e "a alta crítica da Bíblia" que predominou entre o fim do século XIX e início do século XX e se tornaram altamente ecumênicos e humanistas.
Todavia, penso que a mensagem do nosso Movimento continua atual no século XXI. A Igreja, no sentido universal, não está unida. Há milhares de denominações cristãs competindo uma com as outras e seus membros vivem, muitas vezes, oscilando entre a indiferença e a hostilidade. O ideal da unidade dos cristãos, segundo o ensino do próprio Senhor Jesus Cristo na sua oração em João 17:20-23, deve ser buscado continuamente por todos nós. E unidade não significa uniformidade doutrinária, pois as páginas do Novo Testamento mostram que os Apóstolos e as igrejas bíblicas não concordavam em tudo. Pelo contrário, naquilo que era essencial eles tinham unidade, mas nas opiniões usufruíam da liberdade que há no Espírito.
Este é o desejo da Igreja de Cristo no Brasil (Independentes) desde quando o Pr. David Sanders, o pioneiro do Movimento de Restauração em nossa nação, aqui chegou em 1948 e estabeleceu a primeira igreja da nossa comunhão no Estado de Goiás.
Pedro Agostinho Jr.,
Ministro do Evangelho de Cristo
www.igrejadecristope.blogspot.com
www.movimentoderestauracao.com
www.worldconvention.org
1. ALLEN. C. Leonard. "Raízes da Restauração" / C. Leonard Allen e Richard T. Hughes ; tradução Newton Bernardi. - São Paulo : Editora Vida Cristã, 1998, pág. 80 a 82.
2. HUMBLE. B. J. "La Historia de La Restauración" / disponível na Internet, pág. 09 e 10.
3. Ob. cit., pág. 10.
4. Ob. cit., pág. 03 e 04.
5. Ob. cit., pág. 04.
6. Ob. cit., pág. 07.
7. ALLEN, pág. 111 a 113.
8. SOTO. Fernando. "La Reforma Presente" / Fernando Soto : Literature and Teaching Ministries, 1997 (citando “The Stone-Campbell Movement: Na Anecdotal History of Three Churches” de Leroy Garrtett, 282), pág. 32.
9. STRONG. Augustus H. "Teologia Sistemática" / Augustus Hopkins Strong ; prefácio de Russell Shedd ; [tradução Augusto Vitorino]. - São Paulo : Hagnos, 2003, pág. 720.
10. SOTO, pág. 67.
11. HUMBLE, pág. 16.
12. ALLEN, pág. 116.
13. Ob. cit., pág. 116.
14. Ob. cit., pág. 116.
15. NORTH. James B. "União em Verdade", artigo em inglês publicado no Christian Standard, 2008 / James B. North, prof. de História na Cincinnati Christian University. / disponível na Internet, pág. 02.
16. Ob. cit., pág. 02 e 03.
17. Ob. cit., pág. 03.
18. MALLETT. Robert. "O Que Dizer Sobre o Movimento de Restauração?", artigo em inglês disponível na Internet, pág. 04 e 05.
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