quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O DNA das Igrejas de Cristo - 1

O Batismo e a Ceia do Senhor


O batismo nas águas

Antes de tudo, é bom deixar bem claro que as igrejas oriundas do Movimento de Restauração nunca tiveram uma confissão de fé ou manual para regular a adoração. Por essa razão sempre existiu uma enorme diversidade de opiniões e práticas, inclusive sobre o batismo (Jimenez, 5). Este estudo está afinado com o que Isaac Errett em 1863 apresentou como a posição da Igreja de Cristo sobre o batismo nas águas.

Mas, o que é o batismo? O batismo é um mandamento perpétuo ordenado pelo Senhor Jesus (Mt 28:19), que ao ser batizado por João nos deixou o exemplo (Mt 3:5-6,13-17). A palavra grega transliterada para o português como batismo é “baptizo”. Se essa palavra fosse traduzida para o nosso idioma seria “mergulhar” ou “imergir”, pois é isso que ela significa. Se os escritores inspirados do Novo Testamento quisessem dizer “aspergir” usariam a palavra “rantizo” ou se quisessem falar “derramar” usariam o termo “ekqueo”. Portanto, no Novo Testamento, batismo é imersão. Isso fica evidenciado pelo que o batismo requer na Escritura:

1)     Água (At 10:47; Mt 3:13);
2)     Muita água (Jo 3:23);
3)     Ir à água (Mt 3:5-6; At 8:36);
4)     Entrar na água (At 8:38);
5)     Sair da água (At 8:39; Mc 1:10).

Quem deve ser batizado? Quando? A Bíblia responde:

1)      Os crentes em Jesus (Mc 16:16; At 18:8);
2)      Arrependidos dos seus pecados (At 2:38);
3)      Todos aqueles que ouviam e aceitavam a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo eram batizados imediatamente e assim deve ser feito hoje (At 2:41; 8:12; 8:35-38; 9:9,17-18; 10:44-48; 16:14-15; 16:30-33).

Segundo a Bíblia, não há cristão sem ser batizado e não há nenhum exemplo de pessoas adiando o batismo. Observem também nesses textos as expressões “aceitaram”, “deram crédito”, “crês” e “ouvindo, criam”. Não existe nenhuma discussão quanto ao fato do batismo dos que creem em Cristo, mas quanto ao batismo de crianças (pedobatismo), que ainda não têm o discernimento para entender e crer há muita controvérsia. A imersão de crentes é universal, já o pedobatismo não. “Aceitamos, pois, a marca da universalidade e rejeitamos o que carece dela” (Errett, 7 e 8).

O que diz o Novo Testamento sobre o propósito do batismo nas águas? Confira as seguintes passagens que relacionam aceitar Jesus com fé, arrependimento dos pecados e batismo nas águas com a salvação:

1)     Arrependam-se e recebam o batismo para a remissão dos pecados (At 2:38);
2)     Recebe o batismo e lava os pecados (At 22:16);
3)     Quem crer e for batizado será salvo (Mc 16:16);
4)     Somos batizados em Cristo (Rm 6:1-6; Cl 2:12; Gl 3:26-27);
5)     O batismo é uma condição para o recebimento do dom do Espírito Santo (At 2:38).

O irmão Isaac Errett escreveu:

“E quanto ao propósito do batismo, não vamos na companhia dos batistas; nós falamos mais conforme com o partido oposto, apesar de não poder dizer que nossa posição seja exatamente a mesma de nenhum dos que o formam. Dizem os batistas que batizam a seus adeptos por estar estes perdoados, insistindo com isto que devem ter a evidência do perdão antes de ser batizados. Tão claro e nada ambíguo é todavia a linguagem empregada pelas Escrituras para dizer qual é o objetivo do batismo que a maioria dos protestantes e também os católicos romanos reconhecem em seus credos que, em algum sentido, é para a remissão dos pecados, mas estes e muitos daqueles unem ao batismo a ideia da regeneração e insistem que naquele é efetivamente conferida esta pelo Espírito Santo. Até a célebre Confissão de Westminster parece favorecer a ideia, ainda que expliquem de outra maneira aos seus aderentes na atualidade. Estamos tão longe desse exagero ritualístico como do anti-ritualismo que os batistas têm se deixado levar. Entre nós, a regeneração deve ser realizada antes do batismo, quando menos o suficiente para que a pessoa possa estar mudada em seu coração, e haver rendido este a Cristo, movido pela fé e arrependimento, porque de outra maneira não passa o batismo de ser uma forma vazia. O perdão, porém, é distinto da regeneração – (destaque do tradutor). Aquele é ato Soberano; não é a mudança do coração, e sim um bem outorgado quando há fé e arrependimento, convém que o seja em uma forma tal que o pecador penitente tome posse da promessa de perdão dada pelo Senhor, confiando nos testemunhos divinos: "Quem crer e for batizado será salvo" e "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo". Desta maneira lança mão da promessa do Senhor, tomando posse dela. Não é que a mereça, procure nem ganhe com o batismo, mas que toma por seu o que a Divina Misericórdia do Senhor tem provido e oferecido segundo o Evangelho...

Ensinamos, pois, aos que se batizam que, ao trazer para o batismo um coração que renuncia ao pecado e confia absolutamente no poder que tem Jesus Cristo para salvar, podem descansar na promessa do mesmo Salvador, a saber, que "o que crer e for batizado será salvo” (Errett, 8 e 9).

Portanto, o batismo nas águas não é a regeneração ou o novo nascimento, que antecede o rito do batismo. Mas, é no batismo nas águas, precedido de arrependimento e fé, que encontramos a evidência ou certeza do perdão.

Estão perdidos os que não foram batizados por imersão e com o propósito correto? Nesse ponto devemos ter a mesma atitude de Alexander Campbell, maduro e muito mais experiente, que em resposta a uma carta (A Carta de Lunenberg) disse:

"O que deduz que só é cristão aquele que tenha sido submergido está em tão grave erro como aquele que afirma que ninguém está vivo, senão os que tem uma visão clara e completa... Eu pecaria contra as minhas próprias convicções se ensinasse que alguém por não haver entendido o significado de um sacramento (instituição), ainda que sua alma anele conhecer por completo a vontade de Deus, deva perecer eternamente” (Soto, 79).

As Igrejas de Cristo batizam por imersão nas águas os crentes, a partir da idade de responsabilidade moral, que tenham confessado publicamente a Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal, em cumprimento da ordem do Senhor Jesus. Ele é um símbolo da nova vida em Cristo e representa a união com Jesus na sua vida, morte e ressurreição. Dessa forma, concluímos que o batismo não é meramente um símbolo (a posição batista) nem é a regeneração ou novo nascimento (a posição católica), mas é parte da resposta do homem ao chamado de Deus para a salvação e nele, como já foi dito, temos a confortável evidência do perdão: “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16:16).

A Ceia do Senhor

A Ceia do Senhor é um rito contínuo da Igreja, foi estabelecida por Cristo na sua última páscoa com os discípulos (Mt 26:17-29; Mc 14:12-26; Lc 22:19) e em comparação com essa festa judaica é muito mais simples (Dt 16:1-12). A Ceia do Senhor é chamada:

1)     Partir o pão (At 2:42; 20:7);
2)     Mesa do Senhor (1Co 10:21);
3)     Ceia do Senhor, porque Ele a instituiu (1Co 11:20);
4)     Comunhão (1Co 10:16-17).

Quanto ao seu significado, a Ceia do Senhor é:

1)     Uma recordação da morte de Cristo (1Co 11:24; 15:3);
2)     Uma proclamação:
a)     Da morte do Senhor (1Co 11:26; Lc 22:20);
b)     Da Sua volta (1Co 11:26);
3)     Um símbolo da unidade dos cristãos (1Co 10:17).

E os elementos usados na Ceia do Senhor são:

1)     Pão. Durante a páscoa judaica, ocasião da instituição da Ceia do Senhor, o pão que era comido naquela semana pelos judeus era sem fermento ou ázimo. Todavia, afirmar com base nisso que o pão da Ceia do Senhor hoje deve ser sem fermento é equivocado sob o ponto de vista da hermenêutica. A Ceia do Senhor não é a páscoa judaica. O Novo Testamento não descreve que tipo de pão deve ser usado;
2)     Suco da Videira. Se este suco de uva era fermentado (vinho) ou não tem sido motivo de grande polêmica desde os primórdios do cristianismo. Porém, sendo o contexto geral da Bíblia contrário à embriaguez, o contexto cultural brasileiro entender que o crente verdadeiro não usa bebidas alcoólicas e por ser o alcoolismo uma das maiores mazelas da nossa sociedade, substituímos o vinho na Ceia do Senhor pelo suco de uva.

Quando devemos celebrar a Ceia do Senhor? Não há por todo o Novo Testamento nenhuma especificação sobre o tempo e a freqüência da Ceia do Senhor. A única ordem que temos, dada pelo próprio Senhor Jesus, é para fazê-la em memória dele (Lc 22:19). Isaac Errett, ao falar sobre a Ceia do Senhor na Igreja de Cristo, afirma:

“Entre nós também ocupa a Ceia do Senhor um lugar distinto do que comumente se lhe designam. Não a revestimos com o caráter imponente de um sacramento, senão que a vemos como uma festa desejosa e preciosa de santa comemoração, cujo desígnio é o de avivar nosso amor para com Cristo e cimentar nossa comum fraternidade. Por esta razão fazemos de sua observância uma parte de nosso culto regular, cada dia do Senhor, tendo ela por festa de amor solene mas gozosa e refrescante, se unir à qual todo discípulo de nosso Senhor deveria ter por um grande privilégio. "Consagrada à memória de nosso Senhor Salvador Jesus Cristo"; eis aqui o inscrito nesta festa de família simples e solene celebrada na casa do Senhor” (Errett, 6 e 7).

O irmão Pablo Jimenez afirma que entre nós há a tradição de celebrar a Ceia do Senhor todo domingo “como o evento central da adoração congregacional” e que “os fundadores de nossa igreja “tomaram como base os ensinos de 1Coríntios 11:23-26 e a tradição da Igreja Primitiva (At 2:42,46; 20:7) para afirmar que a Bíblia nos ordena celebrar a ceia semanalmente em memória de Jesus” (Jimenez, 3). Grudem disse que “se a Ceia do Senhor for planejada e praticada para ser um momento de auto-exame, de confissão, de ação de graças e de louvor, não me parece que celebrá-la uma vez por semana seja exagero, e certamente ela pode ser celebrada com tal freqüência ‘para a edificação’” (Grudem, 844). Justino Mártir, discípulo de Policarpo que foi discípulo do Apóstolo João escreveu em cerca de 150 d.C.:

“E no dia chamado domingo os que viviam nas cidades ou fora delas se reúnem em um lugar onde lêem as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, tanto como o tempo o permita. Então, quando for terminada a leitura, o presidente instrui oralmente e exorta à imitação das boas obras; depois nos levantamos todos, oramos e, como dissemos antes, terminada a nossa oração, se traz o pão, vinho e água; e o presidente oferece orações e ações de graças e o povo responde dizendo: amém. Em seguida se distribui a cada um e participam disso todos os que deram graças. Aos ausentes se lhes envia uma parte com os diáconos” (Sizemore, 47).

O irmão Denver Sizemore ainda diz que é evidente que a Igreja Primitiva celebrou a Ceia do Senhor semanalmente por cerca de 200 anos e a Igreja Grega a praticou por 700 anos de tal maneira que aquele não participava por três semanas consecutivas era excomungado (Sizemore, 47 e 48). As igrejas com origem no Movimento Stone-Campbell, imitando a Igreja Primitiva, têm como uma das suas características distintivas a celebração semanal (aos domingos) da Ceia do Senhor.


Pedro Agostinho Jr.,
Pastor da Igreja de Cristo

Fontes:

ERRETT, Isaac. Nossa Posição: uma sinopse da fé e da prática da Igreja de Cristo, disponível na internet no site www.movimentoderestauracao.com .
SOTO, Fernando. La Reforma Presente (citando “Memoirs of Alexander Campbell”, de Robert Richardson).
JIMENEZ, Pablo A. La Cena del Señor en la Iglesia Cristiana (Discípulos de Cristo), disponível na internet no site www.disciples.org .
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Vida Nova.
SIZEMORE, Denver. Lecciones de Doctrina Bíblica, volumen I, American Rehabilitation Ministries and The American Bible Academy, Joplin, Missouri (citando “Los Padres Apostólicos con Justino Martir y Irenaeus” de A. Cleveland Moxe, pág. 185 e 186).

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