sexta-feira, 15 de abril de 2011

O DNA das Igrejas de Cristo - 1

“O BATISMO NAS ÀGUAS E A CEIA DO SENHOR”

Introdução à série de artigos “O DNA das Igrejas de Cristo”

Em virtude do fato que o Brasil estará sendo a sede da nossa Convenção Mundial em 2012, na cidade de Goiânia (GO), estamos dando início a uma série de artigos sobre a nossa identidade, ou seja, o DNA das igrejas com origem no Movimento de Restauração ou Movimento Stone-Campbell: Discípulos de Cristo, Igrejas de Cristo (a capella) e Igreja Cristã / Igreja de Cristo (Discípulos independentes). Minha oração é que eles venham a ser úteis na preservação da nossa identidade e do testemunho pela unidade da Igreja de Cristo.

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O BATISMO NAS ÁGUAS

Antes de tudo, é bom deixar bem claro que as igrejas oriundas do Movimento de Restauração nunca tiveram uma confissão de fé ou manual para regular a adoração. Por essa razão sempre existiu uma enorme diversidade de opiniões e práticas, inclusive sobre o batismo . Este artigo está afinado com o que Isaac Errett em 1863 apresentou como a posição da Igreja de Cristo sobre o batismo nas águas.

Mas, o que é o batismo? O batismo é um mandamento perpétuo ordenado pelo Senhor Jesus (Mt 28:19), que ao ser batizado por João nos deixou o exemplo (Mt 3:5-6,13-17). A palavra grega transliterada para o português como batismo é “baptizo”. Se essa palavra fosse traduzida para o nosso idioma seria “mergulhar” ou “imergir”, pois é isso que ela significa. Se os escritores inspirados do Novo Testamento quisessem dizer “aspergir” usariam a palavra “rantizo” ou se quisessem falar “derramar” usariam o termo “ekqueo”. Portanto, no Novo Testamento, batismo é imersão. Isso fica evidenciado pelo que o batismo requer na Escritura:

1) Água (At 10:47; Mt 3:13);
2) Muita água (Jo 3:23);
3) Ir à água (Mt 3:5-6; At 8:36);
4) Entrar na água (At 8:38);
5) Sair da água (At 8:39; Mc 1:10).

Quem deve ser batizado? Quando? A Bíblia responde:

1) Os crentes em Jesus (Mc 16:16; At 18:8);
2) Arrependidos dos seus pecados (At 2:38);
3) Todos aqueles que ouviam e aceitavam a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo eram batizados imediatamente e assim deve ser feito hoje (At 2:41; 8:12; 8:35-38; 9:9,17-18; 10:44-48; 16:14-15; 16:30-33).

Segundo a Bíblia, não há cristão sem ser batizado e não há nenhum exemplo de pessoas adiando o batismo. Observem também nesses textos as expressões “aceitaram”, “deram crédito”, “crês” e “ouvindo, criam”. Não existe nenhuma discussão quanto ao fato do batismo dos que crêem em Cristo, mas quanto ao batismo de crianças (pedobatismo), que ainda não têm o discernimento para entender e crer há muita controvérsia. A imersão de crentes é universal, já o pedobatismo não. “Aceitamos, pois, a marca da universalidade e rejeitamos o que carece dela” .

O que diz o Novo Testamento sobre o propósito do batismo nas águas? Confira as seguintes passagens que relaciona aceitar Jesus com fé, arrependimento dos pecados e batismo nas águas com a salvação:

1) Arrependam-se e recebam o batismo para a remissão dos pecados (At 2:38);
2) Recebe o batismo e lava os pecados (At 22:16);
3) Quem crer e for batizado será salvo (Mc 16:16);
4) Somos batizados em Cristo (Rm 6:1-6; Cl 2:9-12; Gl 3:26-27);
5) O batismo é uma condição para o recebimento do dom do Espírito Santo (At 2:38).

O irmão Isaac Errett escreveu:

“E quanto ao propósito do batismo, não vamos na companhia dos batistas; nós falamos mais conforme com o partido oposto, apesar de não poder dizer que nossa posição seja exatamente a mesma de nenhum dos que o formam. Dizem os batistas que batizam a seus adeptos por estar estes perdoados, insistindo com isto que devem ter a evidência do perdão antes de ser batizados. Tão claro e nada ambíguo é todavia a linguagem empregada pelas Escrituras para dizer qual é o objetivo do batismo que a maioria dos protestantes e também os católicos romanos reconhecem em seus credos que, em algum sentido, é para a remissão dos pecados, mas estes e muitos daqueles unem ao batismo a idéia da regeneração e insistem que naquele é efetivamente conferida esta pelo Espírito Santo. Até a célebre Confissão de Westminster parece favorecer a idéia, ainda que expliquem de outra maneira aos seus aderentes na atualidade. Estamos tão longe desse exagero ritualístico como do anti-ritualismo que os batistas têm se deixado levar. Entre nós, a regeneração deve ser realizada antes do batismo, quando menos o suficiente para que a pessoa possa estar mudada em seu coração, e haver rendido este a Cristo, movido pela fé e arrependimento, porque de outra maneira não passa o batismo de ser uma forma vazia. O perdão, porém, é distinto da regeneração – (destaque do tradutor). Aquele é ato Soberano; não é a mudança do coração, e sim um bem outorgado quando há fé e arrependimento, convém que o seja em uma forma tal que o pecador penitente tome posse da promessa de perdão dada pelo Senhor, confiando nos testemunhos divinos: "Quem crer e for batizado será salvo" e "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo". Desta maneira lança mão da promessa do Senhor, tomando posse dela. Não é que a mereça, procure nem ganhe com o batismo, mas que toma por seu o que a Divina Misericórdia do Senhor tem provido e oferecido segundo o Evangelho...
Ensinamos, pois, aos que se batizam que, ao trazer para o batismo um coração que renuncia ao pecado e confia absolutamente no poder que tem Jesus Cristo para salvar, podem descansar na promessa do mesmo Salvador, a saber, que "o que crer e for batizado será salvo” .

Portanto, o batismo nas águas não é a regeneração ou o novo nascimento, que antecede o rito do batismo. Mas, é no batismo nas águas, precedido de arrependimento e fé, que encontramos a evidência ou certeza do perdão.
Estão perdidos os que foram batizados por imersão, mas não com o propósito correto? Nesse ponto devemos ter a mesma atitude de Alexander Campbell, maduro e muito mais experiente, que em resposta a uma carta (A Carta de Lunenberg) disse:

"O que deduz que só é cristão aquele que tenha sido submergido está em tão grave erro como aquele que afirma que ninguém está vivo, senão os que têm uma visão clara e completa... Eu pecaria contra as minhas próprias convicções se ensinasse que alguém por não haver entendido o significado de um sacramento (instituição), ainda que sua alma anele conhecer por completo a vontade de Deus, deva perecer eternamente” .

As Igrejas de Cristo batizam por imersão nas águas os crentes, a partir da idade de responsabilidade moral, que tenham confessado publicamente a Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal, em cumprimento da ordem do Senhor Jesus. Ele é um símbolo da nova vida em Cristo e representa a união com Jesus na sua vida, morte e ressurreição. Dessa forma, concluímos que o batismo não é meramente um símbolo (a posição batista) nem é a regeneração ou novo nascimento (a posição católica), mas é parte da resposta do homem ao chamado de Deus para a salvação e nele, como já foi dito, temos a confortável evidência do perdão: “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16:16).

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A CEIA DO SENHOR

A Ceia do Senhor é um rito contínuo da Igreja, foi estabelecida por Cristo na sua última páscoa com os discípulos (Mt 26:17-29; Mc 14:12-26; Lc 22:19) e em comparação com a essa festa judaica é muito mais simples (Dt 16:1-12). A Ceia do Senhor é chamada:

1) Partir o pão (At 2:42; 20:7);
2) Mesa do Senhor (1Co 10:21);
3) Ceia do Senhor, porque Ele a instituiu (1Co 11:20);
4) Comunhão (1Co 10:16-17).

Quanto ao seu significado, a Ceia do Senhor é:

1) Uma recordação da morte de Cristo (1Co 11:24; 15:3);

2) Uma proclamação:

a) Da morte do Senhor (1Co 11:26; Lc 22:20);
b) Da Sua volta (1Co 11:26);

3) Um símbolo da unidade dos cristãos (1Co 10:17).

E os elementos usados na Ceia do Senhor são:

1) Pão. Durante a páscoa judaica, ocasião da instituição da Ceia do Senhor, o pão que era comido naquela semana pelos judeus era sem fermento ou ázimo. Todavia, afirmar com base nisso que o pão da Ceia do Senhor hoje deve ser sem fermento é equivocado sob o ponto de vista da hermenêutica. A Ceia do Senhor não é a páscoa judaica e o Novo Testamento não descreve que tipo de pão deve ser usado;

2) Suco da Videira. Se este suco de uva era fermentado (vinho) ou não tem sido motivo de grande polêmica desde os primórdios do cristianismo. Porém, sendo o contexto geral da Bíblia contrário à embriaguez, o contexto cultural brasileiro entender que o crente verdadeiro não usa bebidas alcoólicas e por ser o alcoolismo uma das maiores mazelas da nossa sociedade, sugerimos a substituição do vinho na Ceia do Senhor pelo suco de uva.


Quando devemos celebrar a Ceia do Senhor? Não há por todo o Novo Testamento nenhuma especificação sobre o tempo e a freqüência da Ceia do Senhor. A única ordem que temos, dada pelo próprio Senhor Jesus, é para fazê-la em memória dele (Lc 22:19). Isaac Errett, ao falar sobre a Ceia do Senhor na Igreja de Cristo, afirma:

“Entre nós também ocupa a Ceia do Senhor um lugar distinto do que comumente se lhe designam. Não a revestimos com o caráter imponente de um sacramento, senão que a vemos como uma festa desejosa e preciosa de santa comemoração, cujo desígnio é o de avivar nosso amor para com Cristo e cimentar nossa comum fraternidade. Por esta razão fazemos de sua observância uma parte de nosso culto regular, cada dia do Senhor, tendo ela por festa de amor solene mas gozosa e refrescante, se unir à qual todo discípulo de nosso Senhor deveria ter por um grande privilégio. "Consagrada à memória de nosso Senhor Salvador Jesus Cristo"; eis aqui o inscrito nesta festa de família simples e solene celebrada na casa do Senhor” .

O irmão Pablo Jimenez afirma que entre nós há a tradição de celebrar a Ceia do Senhor todo domingo “como o evento central da adoração congregacional” e que “os fundadores de nossa igreja “tomaram como base os ensinos de 1Coríntios 11:23-26 e a tradição da Igreja Primitiva (At 2:42,46; 20:7) para afirmar que a Bíblia nos ordena celebrar a ceia semanalmente em memória de Jesus” . Já Wayne Grudem disse que “se a Ceia do Senhor for planejada e praticada para ser um momento de auto-exame, de confissão, de ação de graças e de louvor, não me parece que celebrá-la uma vez por semana seja exagero, e certamente ela pode ser celebrada com tal freqüência ‘para a edificação’” . Justino Mártir, discípulo de Policarpo, que foi discípulo do Apóstolo João escreveu em cerca de 150 d.C.:

“E no dia chamado domingo os que viviam nas cidades ou fora delas se reúnem em um lugar onde lêem as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, tanto como o tempo o permita. Então, quando for terminada a leitura, o presidente instrui oralmente e exorta à imitação das boas obras; depois nos levantamos todos, oramos e, como dissemos antes, terminada a nossa oração, se traz o pão, vinho e água; e o presidente oferece orações e ações de graças e o povo responde dizendo: amém. Em seguida se distribui a cada um e participam disso todos os que deram graças. Aos ausentes se lhes envia uma parte com os diáconos” .

O irmão Denver Sizemore ainda diz que é evidente que a Igreja Primitiva celebrou a Ceia do Senhor semanalmente por cerca de 200 anos e a Igreja Grega a praticou por 700 anos de tal maneira que aquele não participava por três semanas consecutivas era excomungado . As igrejas com origem no Movimento Stone-Campbell, imitando a Igreja Primitiva, têm como uma das suas características distintivas a celebração semanal (aos domingos) da Ceia do Senhor.


Fontes:

JIMENEZ, Pablo A. El Bautismo en la Iglesia Cristiana (Discípulos de Cristo), disponível na internet no site www.disciples.org , pag 05.

No ano de 1840 Isaac Errett foi ordenado Evangelista e de 1844 a 1849 foi pregador na Igreja de Cristo em New Lisbon, Ohio. Chegou a ser secretário da Sociedade Missionária Cristã Americana e co-editor do periódico "The Millenial Harbinger", juntamente com Alexander Campbell. Isaac Errett foi editor do “The Christian Standard”, que circula ainda hoje, e autor do livro “Nossa Posição: uma sinopse da fé e da prática da Igreja de Cristo” escrito em 1863, um clássico das Igrejas de Cristo e um dos três mais importantes textos históricos do Movimento conhecido em seu tempo como “A Reforma Atual”, hoje Movimento Stone-Campbell.

ERRETT, Isaac. Nossa Posição: uma sinopse da fé e da prática da Igreja de Cristo, disponível na internet no site www.movimentoderestauracao.com , pág. 07 e 08.

ERRETT, ob. cit., pág. 08 e 09.

SOTO, Fernando. La Reforma Presente (citando “Memoirs of Alexander Campbell”, de Robert Richardson), pág. 79.

ERRETT, ob. cit., pág. 06 e 07.

JIMENEZ, ob. cit., pag 03.

GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática, Editora Vida Nova, 1999, pág. 844.

SIZEMORE, Denver. Lecciones de Doctrina Bíblica, volumen I, American Rehabilitation Ministries and The American Bible Academy, Joplin, Missouri (citando “Los Padres Apostólicos con Justino Martir y Irenaeus” de A. Cleveland Moxe, pág. 185 e 186), pág. 47.

SIZEMORE, ob. cit., (citando “Esquema de la Redención” de Robert Millingan, pág. 440), pág. 47 e 48.

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