sexta-feira, 15 de abril de 2011

A união e o crescimento do Movimento de Restauração

A UNIÃO E O CRESCIMENTO DO MOVIMENTO DE RESTAURAÇÃO


I. A União

Em 1832 os movimentos de Stone e Campbell se unificaram. Um dos mais importantes articuladores dessa união foi um advogado e pregador da Igreja em Great Crossing (associada aos “Discípulos”), chamado John T. Johnson. Ele e Barton Stone eram amigos e moravam em Georgetown, no Kentucky.

Johnson e Stone iniciaram um diálogo sobre a possibilidade de unidade entre os dois movimentos. A eles se juntaram Racoon John Smith (“Discípulo”) e John Rogers (“Cristão”) e os quatro decidiram convocar uma reunião geral e consultar os dois grupos sobre a unidade. A primeira reunião aconteceu em Georgetwon entre 23 e 26 de dezembro de 1831. A segunda foi realizada no final-de-semana do ano novo de 1832, em Lexington. Nessa última, Racoon John Smith fez um conhecido apelo à unidade dos dois grupos dizendo:

“Já não sejamos mais campbellistas ou stoneístas, de luz nova ou de velha luz, ou de nenhuma classe de luz, senão que voltemos à Bíblia, e somente à Bíblia, como o único livro no mundo que nos pode dar toda a Luz que necessitamos”.

Segundo o Dr. B. J. Humble afirmou, foram dados vários passos rumo à unidade. Entre eles Humble citou que Racoon John Smith e John Rogers foram enviados às igrejas para estimulá-las à união e o fato de Barton Stone convidar John T. Johnson para ser co-editor do seu periódico “O Mensageiro Cristão”, publicado desde 1826. Assim foi feita a união dos dois grupos. Barton Stone comentando sobre o que aconteceu em Lexington disse: “Eu considero essa união como o ato mais nobre de minha vida”.

II. Unidade na Diversidade

Os movimentos de Stone e Campbell se unificaram, mas a uniformidade nunca foi alcançada. Além de não reconhecerem nenhum credo formal, as igrejas desses dois movimentos eram muito diferentes entre si e não havia unidade doutrinária entre eles. No entanto, “campbellistas” e “stoneítas” eram semelhantes nos seguintes pontos:

a) Ambos os movimentos aceitavam a Bíblia como única autoridade em matéria de fé e prática cristã e concordavam que Credos ou Confissões de Fé não deviam ser impostos sobre a igreja;
b) Eles promoviam a unidade cristã com base em uma volta à Bíblia;
c) Eles reagiram contra a teologia calvinista da Igreja Presbiteriana aceitando muitas das idéias da teologia arminiana;
d) Ambos aceitavam o batismo de crentes, rejeitando o batismo de crianças (pedobatismo);
e) Procuravam se designar por nomes bíblicos: “cristãos” ou “discípulos”, “Igrejas Cristãs” ou “Igrejas de Cristo”;
f) Eles eram puramente congregacionais ou “independentes” e não aceitavam outras formas de governo além da igreja local.

As diferenças também eram muito claras. O historiador Leroy Garrett identifica seis diferenças entre os dois movimentos. Confira o quadro abaixo:

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS MOVIMENTOS DE STONE E CAMPBELL
– CAMPBELLISTAS STONEÍTAS
NOME PREFERIDO Igrejas de Cristo / Discípulos de Cristo Igrejas Cristãs / Cristãos

BATISMO CRISTÃO
Enfatizavam o batismo para o perdão dos pecados Imersão de crentes, mas não necessariamente para o perdão dos pecados
CEIA DO SENHOR
(OU COMUNHÃO) Periodicidade Semanal
(aos domingos) Não há nenhum mandamento bíblico quanto à periodicidade da Ceia do Senhor (eles faziam trimestralmente)
MINISTÉRIO CRISTÃO Não favoreciam um ministério ordenado Acreditavam que somente um ministério ordenado poderia batizar os conversos ou dirigir a Ceia do Senhor, por exemplo

A UNIDADE Estavam preocupados em restaurar um padrão ou modelo antigo para a Igreja Estavam mais interessados em unir todos os homens em Jesus Cristo


MÉTODO EVANGELÍSTICO Influenciados pela filosofia secular (o “racionalismo” e o “realismo sensato”) enfatizavam a “razão” ou no “linguajar evangélico” enfatizavam a Palavra Uso dos métodos do Segundo Grande Avivamento, onde as reuniões de avivamento organizadas se tornaram o meio mais comum de evangelizar, com pregações emocionais e conversões com manifestações físicas e sinais

O fato das igrejas do nosso movimento serem tão diferentes, desde o princípio, é tão verdadeiro que Augustus H. Strong, conceituado teólogo batista da época, fez referência em sua “Teologia Sistemática” à grande diversidade de opiniões entre as nossas igrejas. No entanto, o desejo de união foi maior do que suas diferenças.

Segundo Leroy Garrett, “hoje o nosso lema deveria ser, à luz do que temos visto, a unidade na diversidade” (grifo nosso). Ele disse que “esse lema caracterizava o movimento em seu início; eles tinham liberdade de divergir, mas não para se dividir” (grifo nosso). Os “reformadores” aceitaram o famoso provérbio de Maldenius: “Na unidade dos fundamentos, na liberdade dos não-fundamentos, em todas as coisas caridade”. Sobre ele, J. H. Garrison escreveu que Rupertus Maldenius sussurrou às gerações futuras esse provérbio, pois ele foi dito por volta de 1627 ou 1628, durante a Guerra dos Trinta Anos, e cinqüenta anos mais tarde Richard Baxter fez uma referência a ele. Penso que uma melhor tradução para o português desse provérbio, que é um dos lemas mais antigos do nosso movimento, é a seguinte: “No essencial, unidade; No secundário, tolerância; Em tudo, amor” (grifo nosso).

T. P. Haley escreveu que “havia uma grande diversidade de opinião em referência às matérias de fé e de prática” e que esse fato levou Alexander Campbell a proferir a seguinte sentença:

“Nós temos entre nós toda a sorte de doutrinas pregadas por toda a sorte de homens”.

Haley continua dizendo que toda essa diversidade é, provavelmente, o resultado do abuso de sua liberdade. Para os “reformadores”:

“O único teste da verdade era sua atitude para Jesus o Cristo, filho de Deus vivo; que ser verdadeiro sobre o Cristo é ser ou se tornar verdadeiro sobre cada outra doutrina ou prática essencial”.

Em um artigo publicado no Restauration Review, com o título “Unidade na Diversidade”, Leroy Garrett diz o seguinte:

“Nossa própria história está repleta com exemplos da unidade na diversidade. Em ensaios recentes nessa coluna nós relatamos as diferenças entre os nossos pioneiros... Não somente diferenças entre si, que não romperam a sua comunhão, mas diferenças entre suas visões e práticas... Um ensaio dizia que não haveria maneira para Alexander Campbell ser aceito hoje por muitas igrejas de Cristo desde que não acreditava que o batismo era absolutamente essencial à salvação, ele mesmo não batizava para a remissão dos pecados, acreditava haver cristãos nas denominações e por ter servido por dezesseis anos como presidente da nossa primeira sociedade missionária. Thomas Campbell também não poderia ser irmão pela maioria das razões e, ainda, porque era calvinista em sua teologia”.
Ele continua dizendo que:
“Barton Stone acreditou na “sociedade aberta” ou na sociedade “ecumênica”, que lhe causaria graves dificuldades entre as Igrejas Cristãs assim como as Igrejas de Cristo. Muitos dos pregadores do movimento de Stone... nunca aceitaram a ênfase campbelista no "batismo para a remissão dos pecados”. Acreditavam na imersão, mas não aceitaram nem pregavam essa doutrina, que seria bastante para os barrar nas nossas faculdades e escolas de pregadores”.

E mais:

“Há em nossa história um exemplo nobre da unidade na diversidade... Ambos os grupos fizeram de Cristo seu único credo, rejeitando nomes e credos humanos, e fizeram da Bíblia sua única autoridade em matéria de fé e prática... Eles compartilharam uma paixão pela unidade da igreja. Tinham mudado da aspersão para a imersão e estavam procurando recuperar as ordenanças primitivas da igreja”.

Falando sobre as diferenças entre os movimento de Stone e Campbell, que colocamos no quadro acima, ele afirma:

“Essas diferenças eram tão substanciais quanto qualquer coisa que nos divide hoje. No entanto eles eram pessoas que estavam se unindo, quando nós somos pessoas que continuam se dividindo. Seu segredo era simples: aprenderam que a unidade pode ser realizada somente nos fundamentos da fé, permitindo diferenças nos não-essenciais. Isso não quer dizer que as coisas que divergiam não eram importantes, mas reconheceram que as coisas podem ser importantes sem ser essenciais. Trabalharam para mais concordância, que conseguiram gradualmente, mas como um povo unido e dentro da comunhão. Se tivessem que esperar até que vissem tudo igualmente, jamais teria existido o nosso movimento. Esse exemplo da história, junto com os exemplos similares de unidade na diversidade no próprio Novo Testamento, nos ajudam a superar uma falácia prejudicial: que nós devemos alcançar a concordância em tudo ou na maioria das coisas antes que nós pudéssemos ter comunhão.

Ainda sobre esse assunto, continua:

“Nós temos dificuldade em aceitar divergências entre cristãos como inevitáveis. Desde os apóstolos, a igreja e eles mesmos não concordaram em todas as coisas, algumas delas antes significativas, senão essenciais... Haverá sempre as diferenças entre nós...”.

Para Garrett é o amor que une e não concordância doutrinária. “O amor une perfeitamente aquilo que é dividido”. Concordo com ele quando diz que mesmo que alcançássemos uma concordância perfeita em todos os pontos da doutrina, ainda assim não significaria a unidade perfeita:

“Somente o amor faz a unidade perfeita, e isso quando as pessoas puderem ser completamente diversas em sua interpretação de muito da Bíblia. Stone e Campbell diferiram até na natureza de Cristo, mas não permitiram que isso rompesse sua comunhão em Cristo. O amor uniu-os!”

T. P. Haley escreveu que essa diferença sobre a natureza de Cristo é “a ilustração mais notável da unidade na diversidade” no nosso movimento:

“O movimento Cristão de Reforma na Bíblia”, conduzido por Barton W. Stone, no Kentucky e em partes do sul, antecipou o movimento dos Campbells por diversos anos, e pelo ano de 1830 numeraram não menos de dez mil membros, “foram marcados por determinadas tendências anti-trinitárias, pronunciada com mais ou menos vigor.” Para o Unitarianismo, o movimento de Stone tendeu não somente, mas em quase cada detalhe foi afirmado. Mas o movimento de Stone estava em acordo com o movimento conduzido pelos Campbells na rejeição de credos humanos e na adoção da Bíblia como a única regra da fé e da prática. Tinham vindo também a aceitar a imersão de crentes arrependidos como o único batismo do N.T.. Com o partido de Stone, por um momento, foi associado o movimento de reforma que foi conduzido por Abner Jones, Elias Smith e provavelmente John Dunlevy que, com seus seguidores, transformou-se em Unitarianos , e foram chamados “os cristãos claros novos”. É um fato incontestável que, apesar das diferenças entre o partido de Stone e os Discípulos na doutrina importante e fundamental da divindade de Cristo, maior influência teve os pontos de acordo em outras matérias, indubitavelmente, os dois partidos se uniram.
É também um fato incontestável é que Stone nunca consentiria ser chamado um Trinitariano”.

Também havia unidade na diversidade em nossas igrejas quanto ao governo das igrejas locais:

“Os Discípulos e os pregadores que vieram das igrejas Batistas eram favoráveis ao Congregacionalismo – com controle democrático – um governo do povo, para o povo e pelo povo, e muitas das igrejas praticaram no começo.
Aqueles que vieram dos Presbiterianos, e este incluiu o partido de Stone, estavam a favor do governo por um líder (presbitério). Esta discussão era séria e continuou por muito tempo. Encontrou-se que nenhum extremo poderia prevalecer, e um acordo foi feito concordando ao governo por um presbitério, mas os pareceres e as decisões do presbitério eram sujeitos à aprovação, à emenda ou à rejeição pela voz e pelo voto do povo”.

Garrett ainda afirma, e eu assino embaixo, que “Deus nos chamou para sermos unidos, não em uma seita, mas em um Corpo. Nós aceitamo-nos nessa base, fomos chamados para sermos unidos em um só corpo. Por isso nós devemos ser gratos” (cf. Cl 3:14-15). Para ele nossos antepassados aprenderam essa lição e preservaram a unidade do espírito na paz de Cristo.

III. O Crescimento

Na primeira década de existência das Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo, logo após a unificação, seu número de membros multiplicou por dez. Em 1832, os “reformadores” contavam entre vinte mil e vinte e cinco mil irmãos. Trinta anos depois era aproximadamente duzentos mil membros. Em 1860, pelo menos em dezessete estados havia no mínimo mil irmãos. Os números colocados na tabela que segue abaixo foram catalogados segundo os dados que os irmãos J. H. Garrison e A. T. DeGroot tinham à sua disposição. Eles foram copilados pelo Dr. B. J. Humble em seu livro “La Historia de La Restauración”.

MEMBRESIA DAS IGREJAS CRISTÃS E IGREJAS DE CRISTO EM 1860
ESTADO NÚMERO
Kentucky 45.000
Indiana 25.000
Ohio 25.000
Missouri 20.000
Illinois 15.000
Tennessee 12.285
Iowa 10.000
Virginia 10.000
New York 2.500
North Carolina 2.500
Texas 2.500
Alabama 2.458
Mississippi 2.450
Arkansas 2.257
California 1.223
Georgia 1.100
Michigan 1.000

Entre os anos 1830 e 1840 havia vinte e oito periódicos sendo publicados pela irmandade, porém a nenhum deles foi dado o reconhecimento de porta-voz oficial do movimento. Os mais importantes periódicos e editores, antes e depois da Guerra de Secessão, foram:

1) “O Arauto do Milênio” editado por Alexander Campbell;
2) “O Mensageiro Cristão” editado por Barton Stone;
3) “O Evangelista” editado por Walter Scott;
4) O “The Lard’s Quarterly” (O Trimestral de Lard) foi fundado em 1863 por Moses E. Lard (1818-1880), que era considerado um “profeta do radicalismo, literalismo e conservadorismo”, um opositor ferrenho da música instrumental;
5) Benjamin Franklin, chamado “o príncipe do movimento do sul”, editou um dos mais influentes periódicos depois da guerra civil, a “American Cristian Review” (Revista Cristã Americana). Franklin foi opositor dos instrumentos musicais, das sociedades e escolas dominicais;
6) Tolbert Fanning editou a revista “The Cristian Review” (A Revista Cristã) em 1844 e com David Lipscomb o “The Gospel Advocate” (O Advogado do Evangelho) em 1855. Por volta de 1868 Lipscomb passou a ser o único editor do “The Gospel Advocate”, que se tornou o boletim mais influente entre as igrejas do sul dos EUA e tinha uma posição contrária às sociedades missionárias, músical instrumental e etc;
7) Isaac Errett editou o “The Christian Standart” (A Norma Cristã), que foi o autor de “A Synopsis of the Faith and Pratice of the Chuch of Christ” (Uma Sinopse da Fé e da Prática da Igreja de Cristo), mais conhecido como “Nossa Posição”. Errett foi o mais equilibrado editor da Igreja de Cristo em seu período mais crítico, que veremos no próximo capítulo;
8) J. W. McGarvell, Moses E. Lard, Robert Graham, Winthrop e L. B. Wilkes editaram o “Apostolic Times” caracterizado pela sua oposição ao uso de instrumento na adoração.

Um historiador do nosso movimento disse que os “Discípulos” não têm bispos, mas editores.

Nesse período houve o estabelecimento das pioneiras instituições de ensino superior. Os primeiros “colégios” da nossa comunhão foram o “Bacon College” em Georgetown, com Walter Scott como seu primeiro presidente; depois, em 1840, foi fundado por Alexander Campbell o “Bethany College”; e o terceiro foi o “Franklin College”, fundado em Nashville por Tolbert Fanning em 1845.

Com o crescimento vertiginoso veio a necessidade de organização do nosso movimento. Alexander Campbell foi favorável à cooperação entre igrejas para levar adiante algumas atividades mais complexas. Porém, “David S. Burnet (1808-1867) foi o maior promotor dessas organizações”. Burnet iniciou com as igrejas de Cincinnati uma Sociedade Bíblica em 1845 e depois fundou a Sociedade da Escola Dominical e Tratados. Fernado Soto disse que Campbell não apoio essas organizações porque a sua meta era que as igrejas sustentassem com seus fundos o “Bethany College”. Porém, Humble disse que ele não as apoiou porque achava que elas “tinham sido organizadas por poucos irmãos de Cincinnati e não por uma convenção de igrejas”. No entanto, Campbell deu a sua aprovação para organizar a Primeira Convenção Nacional das Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo dos EUA. Ela foi realizada na cidade de Cincinnati, Ohio, em 1849 com centenas de representantes das igrejas. A Convenção determinou a formação da Sociedade Missionária Cristã Americana.

No início do século XX os “Discípulos” ultrapassaram o número de um milhão duzentos e cinqüenta mil membros, se tornando a maior comunhão de igrejas de origem genuinamente norte-americana!

Infelizmente, o movimento dos “Discípulos” formado pelas Igrejas Cristãs ou Igrejas de Cristo, também chamado “A Reforma” e posteriormente “Movimento de Restauração” ou “Movimento Stone-Campbell” não permaneceu unido.


Extraído da apostila "Nossa Herança"
Pedro Agostinho Jr.,
Ministro do Evangelho de Cristo

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