quarta-feira, 20 de abril de 2011

Biografia de Clara Hale Babcock, a primeira mulher ordenada ao ministério em nossas igrejas


CLARA HALE BABCOCK (1850-1924)

A primeira mulher ordenada ao ministério no Movimento Stone-Campbell

Clara Celestia Hale Babcock nasceu em 31 de maio de 1850 em Fitchville, Ohio, filha de Laura e John Hale Jr., que faleceu antes que ela completasse seu primeiro ano de vida.

Nascida em um lar metodista, Clara foi fortemente influenciada por seu tutor, Frederick Paine, ministro da Igreja Metodista e ativo proibicionista. Em 9 de agosto de 1865 ela casou-se com Israel Babcock e teve seis filhos, mas somente dois ficaram adultos.

O casal Israel e Clara Babcock aproximaram-se do Movimento Stone-Campbell em 1880, através do avivalista e evangelista George F. Adams da Igreja Cristã em Sterling, Illinois (obs.: as igrejas do nosso Movimento ainda hoje são identificadas pelos nomes de Igrejas Cristãs ou Igrejas de Cristo) e que estava conduzindo uma série de reuniões.

Depois de ouvirem uma mensagem sobre o batismo bíblico por imersão dos crentes arrependidos, Clara procurou seu pastor metodista e pediu para ser imersa e ele respondeu: “Não, não, você foi batizada de acordo com a fé de seus pais e os ensinamentos da Igreja”. Então ela respondeu: “O que a Bíblia ensina? Você pode mostrar-me onde a Escritura ordena a aspersão ou devo ir às para dentro das águas como foi o meu Salvador?”. Uma semana depois os Babcocks foram batizados por George Adams. Nathaniel S. Haynes escreveu que ela foi de porta em porta com a Bíblia na mão e muitos deles se converteram ao Senhor.

Clara Hale Babcock foi muito ativa em várias organizações da sociedade civil e chegou à presidência da WCTU (Woman’s Christian Temperance Union) no condado de Whiteside em 1887.

A pioneira Clara Babcock começou a pregar na Igreja Cristã em Erie no mês de novembro de 1888 e no dia 2 de agosto de 1889 foi ordenada por Andrew Scott da Igreja em Sterling. Ela foi uma evangelista muito popular e, também, uma palestrante pela temperança por toda região. Clara Babcock exerceu seu pastorado em Erie, Thompson, Rapid City e Savanna em Illinois; LeClaire e Dixon em Iowa; Ellendale, Dakota do Norte e Port Arthur, Ontário (Canadá). Durante os seus trinta e seis anos de ministério, sempre com o apoio moral e cordial do seu marido, Clara Babcock batizou 1.502 novos convertidos.

Clara Babcock é considerada a primeira mulher ordenada ao ministério em nosso Movimento. Além dela, outras pioneiras também foram ordenadas: Jessie Coleman Monser (1891), Sadie McCoy Crank (1892), Bertha Mason Fuller (1896) e Clara Espy Hazelrigg (1897). Clara Babcock faleceu no dia 12 de dezembro de 1924.


Fontes:
HULL, Debra B. Women in Ministry, The Enciclopedia of the Stone-Campbell Movement, p. 776-777.
PEREIRA, Mary Ellen Lantzer Pereira, The Encyclopedia of the Stone-Campbell Movement, p. 54.
HAYNES, Nathaniel S. History of the Disciples of Christ in Illinois 1819-1914, Cincinnati: Standard Publishing Company, 1915. Pages 464-467. This online edition © 1997, James L. McMillan.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O DNA das Igrejas de Cristo - 1

“O BATISMO NAS ÀGUAS E A CEIA DO SENHOR”

Introdução à série de artigos “O DNA das Igrejas de Cristo”

Em virtude do fato que o Brasil estará sendo a sede da nossa Convenção Mundial em 2012, na cidade de Goiânia (GO), estamos dando início a uma série de artigos sobre a nossa identidade, ou seja, o DNA das igrejas com origem no Movimento de Restauração ou Movimento Stone-Campbell: Discípulos de Cristo, Igrejas de Cristo (a capella) e Igreja Cristã / Igreja de Cristo (Discípulos independentes). Minha oração é que eles venham a ser úteis na preservação da nossa identidade e do testemunho pela unidade da Igreja de Cristo.

***

O BATISMO NAS ÁGUAS

Antes de tudo, é bom deixar bem claro que as igrejas oriundas do Movimento de Restauração nunca tiveram uma confissão de fé ou manual para regular a adoração. Por essa razão sempre existiu uma enorme diversidade de opiniões e práticas, inclusive sobre o batismo . Este artigo está afinado com o que Isaac Errett em 1863 apresentou como a posição da Igreja de Cristo sobre o batismo nas águas.

Mas, o que é o batismo? O batismo é um mandamento perpétuo ordenado pelo Senhor Jesus (Mt 28:19), que ao ser batizado por João nos deixou o exemplo (Mt 3:5-6,13-17). A palavra grega transliterada para o português como batismo é “baptizo”. Se essa palavra fosse traduzida para o nosso idioma seria “mergulhar” ou “imergir”, pois é isso que ela significa. Se os escritores inspirados do Novo Testamento quisessem dizer “aspergir” usariam a palavra “rantizo” ou se quisessem falar “derramar” usariam o termo “ekqueo”. Portanto, no Novo Testamento, batismo é imersão. Isso fica evidenciado pelo que o batismo requer na Escritura:

1) Água (At 10:47; Mt 3:13);
2) Muita água (Jo 3:23);
3) Ir à água (Mt 3:5-6; At 8:36);
4) Entrar na água (At 8:38);
5) Sair da água (At 8:39; Mc 1:10).

Quem deve ser batizado? Quando? A Bíblia responde:

1) Os crentes em Jesus (Mc 16:16; At 18:8);
2) Arrependidos dos seus pecados (At 2:38);
3) Todos aqueles que ouviam e aceitavam a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo eram batizados imediatamente e assim deve ser feito hoje (At 2:41; 8:12; 8:35-38; 9:9,17-18; 10:44-48; 16:14-15; 16:30-33).

Segundo a Bíblia, não há cristão sem ser batizado e não há nenhum exemplo de pessoas adiando o batismo. Observem também nesses textos as expressões “aceitaram”, “deram crédito”, “crês” e “ouvindo, criam”. Não existe nenhuma discussão quanto ao fato do batismo dos que crêem em Cristo, mas quanto ao batismo de crianças (pedobatismo), que ainda não têm o discernimento para entender e crer há muita controvérsia. A imersão de crentes é universal, já o pedobatismo não. “Aceitamos, pois, a marca da universalidade e rejeitamos o que carece dela” .

O que diz o Novo Testamento sobre o propósito do batismo nas águas? Confira as seguintes passagens que relaciona aceitar Jesus com fé, arrependimento dos pecados e batismo nas águas com a salvação:

1) Arrependam-se e recebam o batismo para a remissão dos pecados (At 2:38);
2) Recebe o batismo e lava os pecados (At 22:16);
3) Quem crer e for batizado será salvo (Mc 16:16);
4) Somos batizados em Cristo (Rm 6:1-6; Cl 2:9-12; Gl 3:26-27);
5) O batismo é uma condição para o recebimento do dom do Espírito Santo (At 2:38).

O irmão Isaac Errett escreveu:

“E quanto ao propósito do batismo, não vamos na companhia dos batistas; nós falamos mais conforme com o partido oposto, apesar de não poder dizer que nossa posição seja exatamente a mesma de nenhum dos que o formam. Dizem os batistas que batizam a seus adeptos por estar estes perdoados, insistindo com isto que devem ter a evidência do perdão antes de ser batizados. Tão claro e nada ambíguo é todavia a linguagem empregada pelas Escrituras para dizer qual é o objetivo do batismo que a maioria dos protestantes e também os católicos romanos reconhecem em seus credos que, em algum sentido, é para a remissão dos pecados, mas estes e muitos daqueles unem ao batismo a idéia da regeneração e insistem que naquele é efetivamente conferida esta pelo Espírito Santo. Até a célebre Confissão de Westminster parece favorecer a idéia, ainda que expliquem de outra maneira aos seus aderentes na atualidade. Estamos tão longe desse exagero ritualístico como do anti-ritualismo que os batistas têm se deixado levar. Entre nós, a regeneração deve ser realizada antes do batismo, quando menos o suficiente para que a pessoa possa estar mudada em seu coração, e haver rendido este a Cristo, movido pela fé e arrependimento, porque de outra maneira não passa o batismo de ser uma forma vazia. O perdão, porém, é distinto da regeneração – (destaque do tradutor). Aquele é ato Soberano; não é a mudança do coração, e sim um bem outorgado quando há fé e arrependimento, convém que o seja em uma forma tal que o pecador penitente tome posse da promessa de perdão dada pelo Senhor, confiando nos testemunhos divinos: "Quem crer e for batizado será salvo" e "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo". Desta maneira lança mão da promessa do Senhor, tomando posse dela. Não é que a mereça, procure nem ganhe com o batismo, mas que toma por seu o que a Divina Misericórdia do Senhor tem provido e oferecido segundo o Evangelho...
Ensinamos, pois, aos que se batizam que, ao trazer para o batismo um coração que renuncia ao pecado e confia absolutamente no poder que tem Jesus Cristo para salvar, podem descansar na promessa do mesmo Salvador, a saber, que "o que crer e for batizado será salvo” .

Portanto, o batismo nas águas não é a regeneração ou o novo nascimento, que antecede o rito do batismo. Mas, é no batismo nas águas, precedido de arrependimento e fé, que encontramos a evidência ou certeza do perdão.
Estão perdidos os que foram batizados por imersão, mas não com o propósito correto? Nesse ponto devemos ter a mesma atitude de Alexander Campbell, maduro e muito mais experiente, que em resposta a uma carta (A Carta de Lunenberg) disse:

"O que deduz que só é cristão aquele que tenha sido submergido está em tão grave erro como aquele que afirma que ninguém está vivo, senão os que têm uma visão clara e completa... Eu pecaria contra as minhas próprias convicções se ensinasse que alguém por não haver entendido o significado de um sacramento (instituição), ainda que sua alma anele conhecer por completo a vontade de Deus, deva perecer eternamente” .

As Igrejas de Cristo batizam por imersão nas águas os crentes, a partir da idade de responsabilidade moral, que tenham confessado publicamente a Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal, em cumprimento da ordem do Senhor Jesus. Ele é um símbolo da nova vida em Cristo e representa a união com Jesus na sua vida, morte e ressurreição. Dessa forma, concluímos que o batismo não é meramente um símbolo (a posição batista) nem é a regeneração ou novo nascimento (a posição católica), mas é parte da resposta do homem ao chamado de Deus para a salvação e nele, como já foi dito, temos a confortável evidência do perdão: “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16:16).

***

A CEIA DO SENHOR

A Ceia do Senhor é um rito contínuo da Igreja, foi estabelecida por Cristo na sua última páscoa com os discípulos (Mt 26:17-29; Mc 14:12-26; Lc 22:19) e em comparação com a essa festa judaica é muito mais simples (Dt 16:1-12). A Ceia do Senhor é chamada:

1) Partir o pão (At 2:42; 20:7);
2) Mesa do Senhor (1Co 10:21);
3) Ceia do Senhor, porque Ele a instituiu (1Co 11:20);
4) Comunhão (1Co 10:16-17).

Quanto ao seu significado, a Ceia do Senhor é:

1) Uma recordação da morte de Cristo (1Co 11:24; 15:3);

2) Uma proclamação:

a) Da morte do Senhor (1Co 11:26; Lc 22:20);
b) Da Sua volta (1Co 11:26);

3) Um símbolo da unidade dos cristãos (1Co 10:17).

E os elementos usados na Ceia do Senhor são:

1) Pão. Durante a páscoa judaica, ocasião da instituição da Ceia do Senhor, o pão que era comido naquela semana pelos judeus era sem fermento ou ázimo. Todavia, afirmar com base nisso que o pão da Ceia do Senhor hoje deve ser sem fermento é equivocado sob o ponto de vista da hermenêutica. A Ceia do Senhor não é a páscoa judaica e o Novo Testamento não descreve que tipo de pão deve ser usado;

2) Suco da Videira. Se este suco de uva era fermentado (vinho) ou não tem sido motivo de grande polêmica desde os primórdios do cristianismo. Porém, sendo o contexto geral da Bíblia contrário à embriaguez, o contexto cultural brasileiro entender que o crente verdadeiro não usa bebidas alcoólicas e por ser o alcoolismo uma das maiores mazelas da nossa sociedade, sugerimos a substituição do vinho na Ceia do Senhor pelo suco de uva.


Quando devemos celebrar a Ceia do Senhor? Não há por todo o Novo Testamento nenhuma especificação sobre o tempo e a freqüência da Ceia do Senhor. A única ordem que temos, dada pelo próprio Senhor Jesus, é para fazê-la em memória dele (Lc 22:19). Isaac Errett, ao falar sobre a Ceia do Senhor na Igreja de Cristo, afirma:

“Entre nós também ocupa a Ceia do Senhor um lugar distinto do que comumente se lhe designam. Não a revestimos com o caráter imponente de um sacramento, senão que a vemos como uma festa desejosa e preciosa de santa comemoração, cujo desígnio é o de avivar nosso amor para com Cristo e cimentar nossa comum fraternidade. Por esta razão fazemos de sua observância uma parte de nosso culto regular, cada dia do Senhor, tendo ela por festa de amor solene mas gozosa e refrescante, se unir à qual todo discípulo de nosso Senhor deveria ter por um grande privilégio. "Consagrada à memória de nosso Senhor Salvador Jesus Cristo"; eis aqui o inscrito nesta festa de família simples e solene celebrada na casa do Senhor” .

O irmão Pablo Jimenez afirma que entre nós há a tradição de celebrar a Ceia do Senhor todo domingo “como o evento central da adoração congregacional” e que “os fundadores de nossa igreja “tomaram como base os ensinos de 1Coríntios 11:23-26 e a tradição da Igreja Primitiva (At 2:42,46; 20:7) para afirmar que a Bíblia nos ordena celebrar a ceia semanalmente em memória de Jesus” . Já Wayne Grudem disse que “se a Ceia do Senhor for planejada e praticada para ser um momento de auto-exame, de confissão, de ação de graças e de louvor, não me parece que celebrá-la uma vez por semana seja exagero, e certamente ela pode ser celebrada com tal freqüência ‘para a edificação’” . Justino Mártir, discípulo de Policarpo, que foi discípulo do Apóstolo João escreveu em cerca de 150 d.C.:

“E no dia chamado domingo os que viviam nas cidades ou fora delas se reúnem em um lugar onde lêem as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, tanto como o tempo o permita. Então, quando for terminada a leitura, o presidente instrui oralmente e exorta à imitação das boas obras; depois nos levantamos todos, oramos e, como dissemos antes, terminada a nossa oração, se traz o pão, vinho e água; e o presidente oferece orações e ações de graças e o povo responde dizendo: amém. Em seguida se distribui a cada um e participam disso todos os que deram graças. Aos ausentes se lhes envia uma parte com os diáconos” .

O irmão Denver Sizemore ainda diz que é evidente que a Igreja Primitiva celebrou a Ceia do Senhor semanalmente por cerca de 200 anos e a Igreja Grega a praticou por 700 anos de tal maneira que aquele não participava por três semanas consecutivas era excomungado . As igrejas com origem no Movimento Stone-Campbell, imitando a Igreja Primitiva, têm como uma das suas características distintivas a celebração semanal (aos domingos) da Ceia do Senhor.


Fontes:

JIMENEZ, Pablo A. El Bautismo en la Iglesia Cristiana (Discípulos de Cristo), disponível na internet no site www.disciples.org , pag 05.

No ano de 1840 Isaac Errett foi ordenado Evangelista e de 1844 a 1849 foi pregador na Igreja de Cristo em New Lisbon, Ohio. Chegou a ser secretário da Sociedade Missionária Cristã Americana e co-editor do periódico "The Millenial Harbinger", juntamente com Alexander Campbell. Isaac Errett foi editor do “The Christian Standard”, que circula ainda hoje, e autor do livro “Nossa Posição: uma sinopse da fé e da prática da Igreja de Cristo” escrito em 1863, um clássico das Igrejas de Cristo e um dos três mais importantes textos históricos do Movimento conhecido em seu tempo como “A Reforma Atual”, hoje Movimento Stone-Campbell.

ERRETT, Isaac. Nossa Posição: uma sinopse da fé e da prática da Igreja de Cristo, disponível na internet no site www.movimentoderestauracao.com , pág. 07 e 08.

ERRETT, ob. cit., pág. 08 e 09.

SOTO, Fernando. La Reforma Presente (citando “Memoirs of Alexander Campbell”, de Robert Richardson), pág. 79.

ERRETT, ob. cit., pág. 06 e 07.

JIMENEZ, ob. cit., pag 03.

GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática, Editora Vida Nova, 1999, pág. 844.

SIZEMORE, Denver. Lecciones de Doctrina Bíblica, volumen I, American Rehabilitation Ministries and The American Bible Academy, Joplin, Missouri (citando “Los Padres Apostólicos con Justino Martir y Irenaeus” de A. Cleveland Moxe, pág. 185 e 186), pág. 47.

SIZEMORE, ob. cit., (citando “Esquema de la Redención” de Robert Millingan, pág. 440), pág. 47 e 48.

Confissão de pecado e afirmação da fé

Roger Dickson, que foi missionário em São Paulo, escreveu um “livrinho” muito popular entre os membros das Igrejas de Cristo no Brasil (A capella) e conhecido como “A Espada”. Em minha casa existem dois exemplares, um que me acompanha desde os tempos de solteiro e outro que veio com minha esposa. Nele, Dickson escreveu que a “divisão é um pecado (Gl 5:19-20; 1Co 1:10-13; 3:3-4), provocado por mentes facciosas, por falsos mestres ou pela deturpação das Escrituras, entre outras coisas (1Co 3:3; Hb 5:14; Tt 3:10; 2Jo 11; 2Pe 3:16; Gl 1:6-10; Rm 16:17-18; 2:8; 2Pe 2:1-2)”. Todos nós concordamos com suas afirmações, até porque elas estão de acordo com as Escrituras.

Conscientes de que a divisão constitui pecado, desde 1999 os irmãos nos EUA têm promovido um diálogo entre as Igrejas de Cristo, a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo) e as Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo que é conhecido como “Stone-Campbell Dialogue”. Em busca da unidade entre as igrejas com origem no Movimento Stone-Campbell, esses irmãos propuseram uma “Confissão de Pecado e Afirmação da Fé”, que no entendimento deles deveria ser feita por todos nós. Por concordar com essa iniciativa de promover a nossa “unidade na diversidade”, transcrevo abaixo o citado documento com a esperança de ver no Brasil algo semelhante.

CONFISSÃO DE PECADO E AFIRMAÇÃO DA FÉ
Um Convite do Diálogo Stone-Campbell – Junho / 2000

Apresentado ao Diálogo Stone-Campbell, Igreja de Cristo em Madison, Nashville, Tenn., 01 e 02 de junho de 2000.


A divisão no Corpo de Cristo é pecado – contrário à vontade de Deus (João 17)

Como cristãos, nós que somos membros das Igrejas de Cristo, das Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo e da Igreja Cristã (Discípulos de Cristo), somos parte de um movimento que desde o seu início tem dado uma atenção especial à promoção da unidade visível da Igreja de Cristo. Esse movimento, iniciado no século XIX por Barton W. Stone e Alexander Campbell, tem uma grande herança em focalizar a unidade cristã.

No entanto, nós somos culpados de dividir o Corpo de Cristo no pensamento, na palavra e na ação. Muitos de nós fortaleceram o espírito da divisão e não fizeram o que deveriam ter feito para impedir ou superar a divisão.

Essa traição da nossa confiança tem empobrecido a igreja de Cristo inteira e enfraquecido a sua missão.

Nós ferimos profundamente uns aos outros com depreciação, suspeita, desconfiança e difamação.

Nós, participantes do Diálogo Stone-Campbell, fomos sediciosos. Confessamos a Deus que somos culpados do pecado da divisão e de abrigar e manter um espírito de divisão.

Nós trazemos agora a Deus a nossa “interrupção” e o arrependimento do pecado da divisão. Nós pedimos perdão a Deus. Nós pedimos que Deus cure-nos de modo que nosso movimento, dentro da Igreja de Cristo, possa personificar mais perfeitamente a unidade a que nós somos chamados.

Assegurados da misericórdia e do perdão de Deus, nós prometemos avançar no serviço pela unidade dentro desta família da fé, para beneficiar a igreja inteira e o mundo.


Uma Afirmação da Fé

Como discípulos de Jesus Cristo:

Nós confessamos que Jesus é o Cristo, filho do Deus vivo, e o proclamamos Senhor e Salvador do mundo;

No nome de Cristo, e por sua graça, nós aceitamos a missão de proclamar o Evangelho ao mundo e viver servindo e amando a todos;

Nós nos alegramos em Deus, o Criador do céu e da terra, e na aliança de amor que nos liga a Ele e uns aos outros;

Com o batismo em Cristo nós participamos na novidade de vida e somos feitos um com todo o povo de Deus;

Pelo dom do Espírito Santo nós somos colocados juntos no discipulado e na obediência a Cristo;

Na Ceia do Senhor, a cada semana, nós comemoramos com ação de graças os atos da salvação, a presença de Cristo e proclamamos a morte do Senhor até que ele venha;

Dentro do Corpo de Cristo nós recebemos os dons do ministério e aceitamos a testemunha autoritativa da Escritura;

Nos vínculos da fé cristã nós nos rendemos a Deus, e um ao outro a quem nós podemos servir, esse cujo Reino não tem nenhuma extremidade.

O Louvor, a Glória e a Honra sejam a Deus para sempre. Amém.

Nós convidamos todos aqueles dessa herança para juntar-se a nós nesta confissão e afirmação da fé, e para fazer-lhes seus próprios.

Assinam:

Mike Armour, Pulpit Minister, Skillman Church of Christ, Dallas, Texas – Igrejas de Cristo
Paul Blowers, professor, Emmanuel School of Religion – Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo
Raymond Brown, retired minister – Igreja Cristã (Discípulos de Cristo)
Douglas Foster, professor, Abilene Christian University, Abilene, Texas – Igrejas de Cristo
Richard Hamm, General Minister and President – Igreja Cristã (Discípulos de Cristo)
Susan Higgins, professor, Milligan College, Milligan, Tennessee – Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo
Byron Lambert, retired, Professor of Philosophy – Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo
John Mills, minister, Remsen Christian Church, Brunswick, Ohio – Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo
Peter Morgan, president, Disciples of Christ Historical Society, Nashville, Tennessee – Igreja Cristã (Discípulos de Cristo)
Phillip Morrison, editor, Wineskins Magazine, Franklin, Tennessee – Igrejas de Cristo
James B. North, vice-president for Academic Affairs, Cincinnati Bible College and Seminary – Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo
Gary Pearson, minister, Westminster Church of Christ, Westminster, Maryland – Igrejas de Cristo
Jimmy Sites, Pulpit Minister, Madison Church of Christ, Nashville, Tennessee – Igrejas de Cristo
Sharon Watkins, Senior Minister, Disciples Christian Church, Bartlesville, Oklahoma – Igreja Cristã (Discípulos de Cristo)
Henry Webb, retired professor, Milligan, Tennessee – Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo
Robert Welsh, president, Council on Christian Unity – Igreja Cristã (Discípulos de Cristo)
Newell Williams, professor, Christian Theological Seminary, Indianapolis, Indiana – Igreja Cristã (Discípulos de Cristo)

As controvérsias e as divisões no Movimento de Restauração

AS CONTROVÉRSIAS E AS DIVISÕES NO MOVIMENTO DE RESTAURAÇÃO


Como dissemos anteriormente, os editores foram muito importantes para o nosso Movimento. E nas controvérsias que abalaram a irmandade, eles tiveram um papel ainda mais decisivo, pois os irmãos iam tomando posição a favor ou contra um ou outro.

Segundo Fernando Soto, os EUA têm uma característica que, para ele, pode ser a origem das divisões do nosso Movimento: a diferença que existe entre o norte e o sul. Confira as suas próprias palavras:

“O norte sempre foi progressista, industrializado e economicamente mais rico. O sul era agrícola, tradicional e dependente dos recursos econômicos e tecnológicos do norte. Terminada a Guerra de Secessão em 1865, o sul ficou muito empobrecido e ressentido contra seus irmãos do norte. Foi assim que, devido a abundância de recursos, as igrejas do norte puderam construir belos locais de reunião aos que se incorporaram órgãos. Também, devido a sua prosperidade, se permitiram contratar pastores com boa preparação acadêmica e bíblica para trabalhar em tempo integral no ministério cristão. As igrejas do sul e da fronteira, ao contrário, tinham um ancião como pregador dominical ao qual apoiavam financeiramente pouco ou nada. Essa diferença nos explica a controvérsia suscitada em diversas áreas: o uso de instrumentos musicais na adoração, a construção de “templos”, a criação de institutos bíblicos, a contratação de um pastor, etc. Os grupos a favor e contra foram ficando cada vez mais apaixonados e as feridas foram criadas irremediavelmente”.1

Podemos, ainda, citar como uma outra razão para a divisão do movimento a amargura decorrente da Guerra Civil.

I. A Controvérsia Sobre as Sociedades das Igrejas para a Cooperação

A primeira grande controvérsia na Igreja de Cristo foi a respeito das sociedades que promoviam a colaboração entre as igrejas nas mais diversas áreas (missionárias, bíblicas e etc.). Alexander Campbell, que foi o nosso principal organizador e teólogo, escreveu entre os anos de 1831 e 1832 sete artigos sobre a colaboração entre igrejas. O Dr. B. J. Humble resumiu o pensamento de Campbell sobre esse assunto da seguinte maneira:

“Campbell cria que o mundo nunca poderia ser evangelizado a menos que as igrejas colaborassem com a proclamação do Evangelho e seus artigos eram um chamamento à colaboração. Campbell argumentava que o Novo Testamento provia exemplos de igrejas colaborando com outras (2Co 8) e isso estabelecia uma autoridade escritural para a colaboração da igreja”. 2

Alexander Campbell estava correto ao afirmar que as Escrituras fornecem a base bíblica do princípio da cooperação. Podemos ver esse princípio sendo aplicado na solução de problemas na eleição de Matias como substituto de Judas (At 1:12-26), na assistência às viúvas pobres (At 6:1-6), no relato da conversão dos primeiros gentios (At 11:1-18), nas questões doutrinárias polêmicas com a formação do primeiro concílio das Igrejas de Cristo (At 15:1-35), na expansão do Reino de Deus com o envio de missionários (At 13:1-3), no sustento dos mesmos (2Co 11:8-9; Fp 2:25; 4:15-18), no encontro em Trôade (At 20:4-7), no relatório da primeira viagem missionária (At 14:21-28), também podemos ver a cooperação como meio de assistência às igrejas (At 12:22-26; 14:21-23; 2Co 11:28). Humble continua resumindo o pensamento de Campbell sobre esse assunto dizendo que ele:

“sugeriu como um exemplo de como as igrejas poderiam trabalhar juntas: que todas as igrejas em seu próprio condado poderiam ter uma reunião geral, anual, na qual se fariam planos para evangelizar a área, se escolheria um evangelista e se planejava o seu sustento”. 3

Assim, a década de 1830 foi marcada pela adoção gradual da colaboração de igrejas.

Em 1841, Campbell começou a escrever uma série de dezesseis artigos com o título “A Natureza da Organização Cristã”. No fim, em 1843, ele fez um chamado à organização e propôs “o estabelecimento de uma “organização geral” entre as igrejas. A igreja, argumentava Campbell, é descrita como “o corpo de Cristo” e um corpo deve ser necessariamente organizado”. 4 Para ele, essa “organização geral” deveria ser fruto do consenso das igrejas e não poderia ser imposta sobre nenhuma igreja local.

Benjamin Franklin, e o seu “American Christian Review”, foi um opositor radical das sociedades, embora no início tenha sido favorável. No entanto, a maioria das publicações da irmandade foi favorável à colaboração das igrejas nas sociedades.

Como dissemos no capítulo anterior, David Burnet organizou a Sociedade Bíblica em 1845 e a Sociedade da Escola Dominical e Tratados. E a Primeira Convenção Nacional, em 1849, determinou a formação da Sociedade Missionária Cristã Americana.

Segundo escreveu Fernando Soto, o primeiro missionário enviado foi o Dr. James Barclay, proprietário de escravos, mandado para Jerusalém. O segundo foi J. O. Beardslee, um abolicionista, enviado para a Jamaica. E o terceiro missionário foi Alexander Cross, um escravo que a Sociedade comprou, educou e enviou para Libéria, na África. 5 Pelo visto, a diversidade entre os “Discípulos” não era apenas no campo doutrinário, mas também no campo econômico, social e cultural. E isso não foi um obstáculo à unidade.

Em 1875 Isaac Errett e W. T. Moore lideraram a organização da Sociedade Cristã de Missões Forâneas. Logo havia missões na Dinamarca, França, Índia, Inglaterra, Japão, Panamá e Turquia. Errett foi eleito presidente, cargo que exerceu até o seu falecimento em 1888.

Os opositores da cooperação continuaram com suas posições, inclusive não cooperando com as Sociedades. Ninguém foi afastado da comunhão por isso, pelo contrário. No entanto, esse foi um dos fatores que levaram à divisão do movimento posteriormente.

II. A Controvérsia Sobre a Música Instrumental

No início do nosso movimento não houve nenhum debate a respeito do uso de instrumentos musicais na adoração. Como a maioria das igrejas evangélicas da época, não se usava instrumentos, pois um órgão – o instrumento mais usado nas igrejas daquele tempo – era muito caro e somente as igrejas mais ricas podiam ter um. Fernando Soto disse que em nosso movimento

“as igrejas da fronteira não contavam com órgãos, eles não eram adequados para ser carregados em uma diligência, mas a medida que a estrada de ferro chegou mais adiante das Montanhas Apalaches se puderam transportar móveis e mercadorias, entre eles pequenos órgãos manuais e harmônios”. 6

A primeira discussão que se tem notícia na irmandade se deu em 1851 e foi registrada no periódico “Ecclesiastical Reformer”, editado por J. B. Henshall. Um leitor perguntou se a música instrumental não seria um acréscimo à adoração. Henshall se posicionou contra, mas permitiu a publicação de outros artigos favoráveis ao uso. Naquela ocasião, Alexander Campbell, inquirido sobre o assunto disse que para “as igrejas que não tinham uma devocional ou espiritualidade real a música com instrumentos para a adoração podia ser um requisito essencial”.7 Ele, com essa declaração, penso eu, não aprovou o seu uso, mas não podemos dizer que Campbell afirmou ser contrário às Escrituras o uso de instrumentos, como veremos mais adiante através do posicionamento do seu periódico quatorze anos depois.

Entre 1864 e 1865 se deu a primeira grande controvérsia sobre esse assunto, pois algumas igrejas começavam a introduzir órgãos na adoração. A primeira foi a igreja em Midway, Kentucky, em 1859. Embora concordando que a música instrumental não foi usada nos primeiros séculos da era cristã, Alexander Campbell e W. K. Pendleton, co-editor do “Arauto do Milênio”, além de A. S. Hayden, concordaram que esse assunto era de simples conveniência. Isaac Errett, inclusive, afirmou que não há nenhuma lei contra os instrumentos. Para ele esse assunto era de opinião e não de fé, “e que ninguém tinha o direito, por nenhum lado, de considerá-lo uma prova de comunhão”.8

Já Moses E. Lard, Benjamin Franklin, J. W. McGarvey e David Lipscomb se posicionaram radicalmente contra o uso dos instrumentos. Os debates se concentraram nas igrejas do norte, pois no sul, devido a influência do “Gospel Advocate”, de David Lipscomb, as igrejas rejeitaram desde o princípio os instrumentos. Limpscomb, Lard, Franklin, McGarvey e outros estavam usando os princípios elaborados pelo jovem e polemista Alexander Campbell no começo do movimento para fundamentar suas opiniões. O próprio Benjamin Franklin reconheceu que as atitudes da irmandade estavam mudando. E David Lipscomb, ironicamente, dizia que quem apoiava as Sociedades Missionárias podia introduzir instrumentos sem nenhum problema.

A discussão se radicalizou e houve quem propusesse a proibição da comunhão com aqueles que introduziram instrumentos. Ainda hoje há quem diga que não terá comunhão com àqueles que introduzirem instrumentos na adoração, embora possa os considerar irmãos. Talvez “irmãos no erro”. Naquela época, Moses E. Lard, sintetizando o espírito de intolerância que alguns encarnaram nesse e em outros assuntos, estabeleceu três regras em relação ao uso dos instrumentos musicais na adoração: 9

1) Nenhum pregador deve entrar em uma igreja onde haja um órgão;
2) Ninguém deve se apresentar com uma carta de transferência a uma igreja que use órgão, porque é melhor viver sem igreja que se meter em uma pocilga;
3) Quando em uma igreja se introduza o uso de um órgão, os que se opõe deveriam fazê-lo gentilmente, se não os ouvirem devem abandonar a igreja sem nem pedir uma carta de transferência.

Lamentavelmente, ainda hoje, no século XXI, têm irmãos que se referem aos que não têm nenhuma objeção ao uso de instrumentos (ou qualquer outro assunto de opinião) com grosserias semelhantes as acima citadas, tais como ser acusado de heresia ou ser chamado de ex-irmão.

Walter Yancey, conhecido escritor das Igrejas de Cristo (Anti-Instrumental) disse:

“Nossa posição acerca da música instrumental tem feito mais dano a nossa reputação que qualquer outro assunto. Ao tomar esta nossa posição, a qual é obviamente errada (para todo o mundo, menos para nós), temos destruído a credibilidade de nossa interpretação total da Bíblia e tem arruinado nossa reputação na cristandade... as pessoas não nos vão tomar a sério, principalmente porque temos destruído nossa credibilidade com o assunto da música”. 10

Sou como os que consideram o uso de instrumentos musicais na adoração como um assunto de opinião e não de fé. Considero os que pensam diferente de mim como irmãos em Cristo e com os quais quero ter comunhão, apesar das nossas divergências. Jamais irei impor a concordância com as minhas opiniões como uma condição para a comunhão. Como membro de uma Igreja de Cristo que usa os instrumentos musicais na adoração, quando vou pregar ou visitar uma igreja anti-instrumental adoro ao Senhor – em espírito e em verdade – com os irmãos. Jamais exigirei, com arrogância ou com muitíssima educação, que mudem suas práticas como condição para eu ir adorar com eles. Eu rejeito a intolerância e todo espírito sectarista. E você, o que acha? Devemos repetir os erros do passado, radicalizar as nossas posições, excomungar uns aos outros? Ou aprender com eles?

III. As Amarguras Decorrentes da Guerra Civil

A Guerra de Secessão dividiu os EUA em uma guerra civil fratricida entre norte e sul. O norte que queria a libertação dos escravos e o sul que queria manter o sistema escravocrata. Igrejas evangélicas históricas, como batistas e metodistas, se dividiram “antes da guerra civil por razões políticas relacionadas à escravidão, é por isso que temos os batistas do sul e os do norte”. 11

Em 1860 as igrejas do nosso movimento somavam mil e duzentas congregações no norte e oitocentas no sul. Muitas delas estavam concentradas nos estados da fronteira entre o norte e o sul como Kentucky (quarenta e cinco mil irmãos) e Missouri (vinte mil crentes). As famílias e as igrejas se dividiam.

Entre os anos de 1861 a 1863, a Sociedade Missionária Cristã Americana aprovou resoluções favoráveis àqueles que defendiam a causa abolicionista. Benjamin Franklin afirmou que com essa atitude a Sociedade abandonou seu trabalho legítimo e desde então se tornou o seu mais forte opositor. 12

Em 1866, um anos após o fim da guerra, Tolbert Fanning sugeriu que os cristãos do sul fizessem uma grande reunião geral de consulta para avaliar a igreja. Ela aconteceu em Murfreesboro, Tennessee, em junho sem a participação dos irmãos do norte, pois eles não haviam sido convidados. No mesmo ano, David Lipscomb, em seu periódico “Gospel Advocate” escreveu sobre o fato da Sociedade ter apoiado o norte:

“Encontramos somente um espírito vingativo e homicida governando seu conselho e apoiando o trabalho cristão (?) dos cristãos do norte em roubar e matar os cristão do sul... “13

Como você observou, as amarguras da guerra civil deixaram sérias feridas entre os irmãos. Não faz muito tempo, inclusive, que o reitor da Universidade Cristã de Abilene, no Texas, onde muitos dos missionários estudaram e uma das mais conceituadas instituições de ensino superior ligadas às Igrejas "a capella", pediu perdão pelo apoio que os irmãos e as igrejas do sul deram à escravidão. Seguindo, assim, o exemplo de outras autoridades eclesiásticas, como o Papa João Paulo II, que pediram perdão pelos erros do passado da sua denominação. Ainda hoje nos EUA há igrejas exclusivamente de afro-americanos (raça negra). Nos EUA, como no Brasil, a integração racial é um desafio para ser superado com a ajuda de Deus. Amém.

IV. As Divisões

Vimos acima que houve uma sensível mudança na teologia e na prática de Alexander Campbell e dos “Discípulos”, que associada à Guerra Civil Americana foram os principais fatores que apressaram a divisão em nosso movimento. Segundo o Dr. B. J. Humble,

“o Departamento de Censos dos Estados Unidos reconheceu oficialmente a realidade de uma divisão entre as Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo em seu censo religioso de 1906, publicado em 1910”. 14

Ele continua:

“Em 17 de julho de 1907, S. N. D. North, diretor de censos escreveu a David Lipscomb e lhe perguntou se havia um corpo religioso chamado “igreja de Cristo” não identificado com os discípulos de Cristo, ou qualquer outro grupo batista. E se acaso houvesse tal igreja, North desejava informação sobre sua organização e princípios, e como o departamento de Censos poderia conseguir uma lista completa de igrejas. Respondendo a carta de North, Lipscomb esboçou os princípios básicos do movimento de restauração de acordo com a “Declaração e Discurso” de Thomas Campbell. Em seguida Lipscomb afirmou que esses princípios haviam sido traídos quando se introduziu a sociedade missionária e o instrumento musical”. 15

David Lipscomb ainda explicou que, por serem “igrejas puramente congregacionais, as influências operaram lentamente e a divisão ocorreu gradualmente”. 16

Existem hoje nos EUA três igrejas cuja principal raiz histórica é o Movimento Stone-Campbell: a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo), as Igrejas de Cristo (Anti-Cooperativa e Anti-Instrumental) e as Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo (Independentes). Uma só nascente e três rios.


Extraído da apostila "Nossa Herança"
Pedro Agostinho Jr.,
Ministro do Evangelho de Cristo

www.igrejadecristope.blogspot.com




1. SOTO, Fernando. La Reforma Presente, pág. 104.
2. HUMBLE, Dr. B. J. La Historia de La Restauración, pág. 22.
3. Ob. cit., pág. 22.
4. Ob. cit., pág. 23.
5. Ob. cit., pág. 82-83.
6. SOTO, Fernando. La Reforma Presente, pág. 104.
7. HUMBLE, Dr. B. J. La Historia de La Restauración, pág. 28.
8. Ob. cit., pág. 105.
9. SOTO, Fernando. La Reforma Presente (citando "The Stone-Campbell Movement: Na Anedoctal History of Three Churches" de Leroy Garrett, 467), pág. 104.
10. Ob. cit. (citando "In Search of Christian Unity: A History of The Restoration Movement" de Henry E. Webb, 420, nota 24), pág. 109.
11. Ob. cit., pág. 105.
12. HUMBLE, Dr. B. J. La Historia de La Restauración, pág. 26.
13. Ob. cit., pág. 27.
14. Ob. cit., pág. 35.
15. Ob. cit., pág. 35 e 36.
16. Ob. cit., pág. 36.

A união e o crescimento do Movimento de Restauração

A UNIÃO E O CRESCIMENTO DO MOVIMENTO DE RESTAURAÇÃO


I. A União

Em 1832 os movimentos de Stone e Campbell se unificaram. Um dos mais importantes articuladores dessa união foi um advogado e pregador da Igreja em Great Crossing (associada aos “Discípulos”), chamado John T. Johnson. Ele e Barton Stone eram amigos e moravam em Georgetown, no Kentucky.

Johnson e Stone iniciaram um diálogo sobre a possibilidade de unidade entre os dois movimentos. A eles se juntaram Racoon John Smith (“Discípulo”) e John Rogers (“Cristão”) e os quatro decidiram convocar uma reunião geral e consultar os dois grupos sobre a unidade. A primeira reunião aconteceu em Georgetwon entre 23 e 26 de dezembro de 1831. A segunda foi realizada no final-de-semana do ano novo de 1832, em Lexington. Nessa última, Racoon John Smith fez um conhecido apelo à unidade dos dois grupos dizendo:

“Já não sejamos mais campbellistas ou stoneístas, de luz nova ou de velha luz, ou de nenhuma classe de luz, senão que voltemos à Bíblia, e somente à Bíblia, como o único livro no mundo que nos pode dar toda a Luz que necessitamos”.

Segundo o Dr. B. J. Humble afirmou, foram dados vários passos rumo à unidade. Entre eles Humble citou que Racoon John Smith e John Rogers foram enviados às igrejas para estimulá-las à união e o fato de Barton Stone convidar John T. Johnson para ser co-editor do seu periódico “O Mensageiro Cristão”, publicado desde 1826. Assim foi feita a união dos dois grupos. Barton Stone comentando sobre o que aconteceu em Lexington disse: “Eu considero essa união como o ato mais nobre de minha vida”.

II. Unidade na Diversidade

Os movimentos de Stone e Campbell se unificaram, mas a uniformidade nunca foi alcançada. Além de não reconhecerem nenhum credo formal, as igrejas desses dois movimentos eram muito diferentes entre si e não havia unidade doutrinária entre eles. No entanto, “campbellistas” e “stoneítas” eram semelhantes nos seguintes pontos:

a) Ambos os movimentos aceitavam a Bíblia como única autoridade em matéria de fé e prática cristã e concordavam que Credos ou Confissões de Fé não deviam ser impostos sobre a igreja;
b) Eles promoviam a unidade cristã com base em uma volta à Bíblia;
c) Eles reagiram contra a teologia calvinista da Igreja Presbiteriana aceitando muitas das idéias da teologia arminiana;
d) Ambos aceitavam o batismo de crentes, rejeitando o batismo de crianças (pedobatismo);
e) Procuravam se designar por nomes bíblicos: “cristãos” ou “discípulos”, “Igrejas Cristãs” ou “Igrejas de Cristo”;
f) Eles eram puramente congregacionais ou “independentes” e não aceitavam outras formas de governo além da igreja local.

As diferenças também eram muito claras. O historiador Leroy Garrett identifica seis diferenças entre os dois movimentos. Confira o quadro abaixo:

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS MOVIMENTOS DE STONE E CAMPBELL
– CAMPBELLISTAS STONEÍTAS
NOME PREFERIDO Igrejas de Cristo / Discípulos de Cristo Igrejas Cristãs / Cristãos

BATISMO CRISTÃO
Enfatizavam o batismo para o perdão dos pecados Imersão de crentes, mas não necessariamente para o perdão dos pecados
CEIA DO SENHOR
(OU COMUNHÃO) Periodicidade Semanal
(aos domingos) Não há nenhum mandamento bíblico quanto à periodicidade da Ceia do Senhor (eles faziam trimestralmente)
MINISTÉRIO CRISTÃO Não favoreciam um ministério ordenado Acreditavam que somente um ministério ordenado poderia batizar os conversos ou dirigir a Ceia do Senhor, por exemplo

A UNIDADE Estavam preocupados em restaurar um padrão ou modelo antigo para a Igreja Estavam mais interessados em unir todos os homens em Jesus Cristo


MÉTODO EVANGELÍSTICO Influenciados pela filosofia secular (o “racionalismo” e o “realismo sensato”) enfatizavam a “razão” ou no “linguajar evangélico” enfatizavam a Palavra Uso dos métodos do Segundo Grande Avivamento, onde as reuniões de avivamento organizadas se tornaram o meio mais comum de evangelizar, com pregações emocionais e conversões com manifestações físicas e sinais

O fato das igrejas do nosso movimento serem tão diferentes, desde o princípio, é tão verdadeiro que Augustus H. Strong, conceituado teólogo batista da época, fez referência em sua “Teologia Sistemática” à grande diversidade de opiniões entre as nossas igrejas. No entanto, o desejo de união foi maior do que suas diferenças.

Segundo Leroy Garrett, “hoje o nosso lema deveria ser, à luz do que temos visto, a unidade na diversidade” (grifo nosso). Ele disse que “esse lema caracterizava o movimento em seu início; eles tinham liberdade de divergir, mas não para se dividir” (grifo nosso). Os “reformadores” aceitaram o famoso provérbio de Maldenius: “Na unidade dos fundamentos, na liberdade dos não-fundamentos, em todas as coisas caridade”. Sobre ele, J. H. Garrison escreveu que Rupertus Maldenius sussurrou às gerações futuras esse provérbio, pois ele foi dito por volta de 1627 ou 1628, durante a Guerra dos Trinta Anos, e cinqüenta anos mais tarde Richard Baxter fez uma referência a ele. Penso que uma melhor tradução para o português desse provérbio, que é um dos lemas mais antigos do nosso movimento, é a seguinte: “No essencial, unidade; No secundário, tolerância; Em tudo, amor” (grifo nosso).

T. P. Haley escreveu que “havia uma grande diversidade de opinião em referência às matérias de fé e de prática” e que esse fato levou Alexander Campbell a proferir a seguinte sentença:

“Nós temos entre nós toda a sorte de doutrinas pregadas por toda a sorte de homens”.

Haley continua dizendo que toda essa diversidade é, provavelmente, o resultado do abuso de sua liberdade. Para os “reformadores”:

“O único teste da verdade era sua atitude para Jesus o Cristo, filho de Deus vivo; que ser verdadeiro sobre o Cristo é ser ou se tornar verdadeiro sobre cada outra doutrina ou prática essencial”.

Em um artigo publicado no Restauration Review, com o título “Unidade na Diversidade”, Leroy Garrett diz o seguinte:

“Nossa própria história está repleta com exemplos da unidade na diversidade. Em ensaios recentes nessa coluna nós relatamos as diferenças entre os nossos pioneiros... Não somente diferenças entre si, que não romperam a sua comunhão, mas diferenças entre suas visões e práticas... Um ensaio dizia que não haveria maneira para Alexander Campbell ser aceito hoje por muitas igrejas de Cristo desde que não acreditava que o batismo era absolutamente essencial à salvação, ele mesmo não batizava para a remissão dos pecados, acreditava haver cristãos nas denominações e por ter servido por dezesseis anos como presidente da nossa primeira sociedade missionária. Thomas Campbell também não poderia ser irmão pela maioria das razões e, ainda, porque era calvinista em sua teologia”.
Ele continua dizendo que:
“Barton Stone acreditou na “sociedade aberta” ou na sociedade “ecumênica”, que lhe causaria graves dificuldades entre as Igrejas Cristãs assim como as Igrejas de Cristo. Muitos dos pregadores do movimento de Stone... nunca aceitaram a ênfase campbelista no "batismo para a remissão dos pecados”. Acreditavam na imersão, mas não aceitaram nem pregavam essa doutrina, que seria bastante para os barrar nas nossas faculdades e escolas de pregadores”.

E mais:

“Há em nossa história um exemplo nobre da unidade na diversidade... Ambos os grupos fizeram de Cristo seu único credo, rejeitando nomes e credos humanos, e fizeram da Bíblia sua única autoridade em matéria de fé e prática... Eles compartilharam uma paixão pela unidade da igreja. Tinham mudado da aspersão para a imersão e estavam procurando recuperar as ordenanças primitivas da igreja”.

Falando sobre as diferenças entre os movimento de Stone e Campbell, que colocamos no quadro acima, ele afirma:

“Essas diferenças eram tão substanciais quanto qualquer coisa que nos divide hoje. No entanto eles eram pessoas que estavam se unindo, quando nós somos pessoas que continuam se dividindo. Seu segredo era simples: aprenderam que a unidade pode ser realizada somente nos fundamentos da fé, permitindo diferenças nos não-essenciais. Isso não quer dizer que as coisas que divergiam não eram importantes, mas reconheceram que as coisas podem ser importantes sem ser essenciais. Trabalharam para mais concordância, que conseguiram gradualmente, mas como um povo unido e dentro da comunhão. Se tivessem que esperar até que vissem tudo igualmente, jamais teria existido o nosso movimento. Esse exemplo da história, junto com os exemplos similares de unidade na diversidade no próprio Novo Testamento, nos ajudam a superar uma falácia prejudicial: que nós devemos alcançar a concordância em tudo ou na maioria das coisas antes que nós pudéssemos ter comunhão.

Ainda sobre esse assunto, continua:

“Nós temos dificuldade em aceitar divergências entre cristãos como inevitáveis. Desde os apóstolos, a igreja e eles mesmos não concordaram em todas as coisas, algumas delas antes significativas, senão essenciais... Haverá sempre as diferenças entre nós...”.

Para Garrett é o amor que une e não concordância doutrinária. “O amor une perfeitamente aquilo que é dividido”. Concordo com ele quando diz que mesmo que alcançássemos uma concordância perfeita em todos os pontos da doutrina, ainda assim não significaria a unidade perfeita:

“Somente o amor faz a unidade perfeita, e isso quando as pessoas puderem ser completamente diversas em sua interpretação de muito da Bíblia. Stone e Campbell diferiram até na natureza de Cristo, mas não permitiram que isso rompesse sua comunhão em Cristo. O amor uniu-os!”

T. P. Haley escreveu que essa diferença sobre a natureza de Cristo é “a ilustração mais notável da unidade na diversidade” no nosso movimento:

“O movimento Cristão de Reforma na Bíblia”, conduzido por Barton W. Stone, no Kentucky e em partes do sul, antecipou o movimento dos Campbells por diversos anos, e pelo ano de 1830 numeraram não menos de dez mil membros, “foram marcados por determinadas tendências anti-trinitárias, pronunciada com mais ou menos vigor.” Para o Unitarianismo, o movimento de Stone tendeu não somente, mas em quase cada detalhe foi afirmado. Mas o movimento de Stone estava em acordo com o movimento conduzido pelos Campbells na rejeição de credos humanos e na adoção da Bíblia como a única regra da fé e da prática. Tinham vindo também a aceitar a imersão de crentes arrependidos como o único batismo do N.T.. Com o partido de Stone, por um momento, foi associado o movimento de reforma que foi conduzido por Abner Jones, Elias Smith e provavelmente John Dunlevy que, com seus seguidores, transformou-se em Unitarianos , e foram chamados “os cristãos claros novos”. É um fato incontestável que, apesar das diferenças entre o partido de Stone e os Discípulos na doutrina importante e fundamental da divindade de Cristo, maior influência teve os pontos de acordo em outras matérias, indubitavelmente, os dois partidos se uniram.
É também um fato incontestável é que Stone nunca consentiria ser chamado um Trinitariano”.

Também havia unidade na diversidade em nossas igrejas quanto ao governo das igrejas locais:

“Os Discípulos e os pregadores que vieram das igrejas Batistas eram favoráveis ao Congregacionalismo – com controle democrático – um governo do povo, para o povo e pelo povo, e muitas das igrejas praticaram no começo.
Aqueles que vieram dos Presbiterianos, e este incluiu o partido de Stone, estavam a favor do governo por um líder (presbitério). Esta discussão era séria e continuou por muito tempo. Encontrou-se que nenhum extremo poderia prevalecer, e um acordo foi feito concordando ao governo por um presbitério, mas os pareceres e as decisões do presbitério eram sujeitos à aprovação, à emenda ou à rejeição pela voz e pelo voto do povo”.

Garrett ainda afirma, e eu assino embaixo, que “Deus nos chamou para sermos unidos, não em uma seita, mas em um Corpo. Nós aceitamo-nos nessa base, fomos chamados para sermos unidos em um só corpo. Por isso nós devemos ser gratos” (cf. Cl 3:14-15). Para ele nossos antepassados aprenderam essa lição e preservaram a unidade do espírito na paz de Cristo.

III. O Crescimento

Na primeira década de existência das Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo, logo após a unificação, seu número de membros multiplicou por dez. Em 1832, os “reformadores” contavam entre vinte mil e vinte e cinco mil irmãos. Trinta anos depois era aproximadamente duzentos mil membros. Em 1860, pelo menos em dezessete estados havia no mínimo mil irmãos. Os números colocados na tabela que segue abaixo foram catalogados segundo os dados que os irmãos J. H. Garrison e A. T. DeGroot tinham à sua disposição. Eles foram copilados pelo Dr. B. J. Humble em seu livro “La Historia de La Restauración”.

MEMBRESIA DAS IGREJAS CRISTÃS E IGREJAS DE CRISTO EM 1860
ESTADO NÚMERO
Kentucky 45.000
Indiana 25.000
Ohio 25.000
Missouri 20.000
Illinois 15.000
Tennessee 12.285
Iowa 10.000
Virginia 10.000
New York 2.500
North Carolina 2.500
Texas 2.500
Alabama 2.458
Mississippi 2.450
Arkansas 2.257
California 1.223
Georgia 1.100
Michigan 1.000

Entre os anos 1830 e 1840 havia vinte e oito periódicos sendo publicados pela irmandade, porém a nenhum deles foi dado o reconhecimento de porta-voz oficial do movimento. Os mais importantes periódicos e editores, antes e depois da Guerra de Secessão, foram:

1) “O Arauto do Milênio” editado por Alexander Campbell;
2) “O Mensageiro Cristão” editado por Barton Stone;
3) “O Evangelista” editado por Walter Scott;
4) O “The Lard’s Quarterly” (O Trimestral de Lard) foi fundado em 1863 por Moses E. Lard (1818-1880), que era considerado um “profeta do radicalismo, literalismo e conservadorismo”, um opositor ferrenho da música instrumental;
5) Benjamin Franklin, chamado “o príncipe do movimento do sul”, editou um dos mais influentes periódicos depois da guerra civil, a “American Cristian Review” (Revista Cristã Americana). Franklin foi opositor dos instrumentos musicais, das sociedades e escolas dominicais;
6) Tolbert Fanning editou a revista “The Cristian Review” (A Revista Cristã) em 1844 e com David Lipscomb o “The Gospel Advocate” (O Advogado do Evangelho) em 1855. Por volta de 1868 Lipscomb passou a ser o único editor do “The Gospel Advocate”, que se tornou o boletim mais influente entre as igrejas do sul dos EUA e tinha uma posição contrária às sociedades missionárias, músical instrumental e etc;
7) Isaac Errett editou o “The Christian Standart” (A Norma Cristã), que foi o autor de “A Synopsis of the Faith and Pratice of the Chuch of Christ” (Uma Sinopse da Fé e da Prática da Igreja de Cristo), mais conhecido como “Nossa Posição”. Errett foi o mais equilibrado editor da Igreja de Cristo em seu período mais crítico, que veremos no próximo capítulo;
8) J. W. McGarvell, Moses E. Lard, Robert Graham, Winthrop e L. B. Wilkes editaram o “Apostolic Times” caracterizado pela sua oposição ao uso de instrumento na adoração.

Um historiador do nosso movimento disse que os “Discípulos” não têm bispos, mas editores.

Nesse período houve o estabelecimento das pioneiras instituições de ensino superior. Os primeiros “colégios” da nossa comunhão foram o “Bacon College” em Georgetown, com Walter Scott como seu primeiro presidente; depois, em 1840, foi fundado por Alexander Campbell o “Bethany College”; e o terceiro foi o “Franklin College”, fundado em Nashville por Tolbert Fanning em 1845.

Com o crescimento vertiginoso veio a necessidade de organização do nosso movimento. Alexander Campbell foi favorável à cooperação entre igrejas para levar adiante algumas atividades mais complexas. Porém, “David S. Burnet (1808-1867) foi o maior promotor dessas organizações”. Burnet iniciou com as igrejas de Cincinnati uma Sociedade Bíblica em 1845 e depois fundou a Sociedade da Escola Dominical e Tratados. Fernado Soto disse que Campbell não apoio essas organizações porque a sua meta era que as igrejas sustentassem com seus fundos o “Bethany College”. Porém, Humble disse que ele não as apoiou porque achava que elas “tinham sido organizadas por poucos irmãos de Cincinnati e não por uma convenção de igrejas”. No entanto, Campbell deu a sua aprovação para organizar a Primeira Convenção Nacional das Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo dos EUA. Ela foi realizada na cidade de Cincinnati, Ohio, em 1849 com centenas de representantes das igrejas. A Convenção determinou a formação da Sociedade Missionária Cristã Americana.

No início do século XX os “Discípulos” ultrapassaram o número de um milhão duzentos e cinqüenta mil membros, se tornando a maior comunhão de igrejas de origem genuinamente norte-americana!

Infelizmente, o movimento dos “Discípulos” formado pelas Igrejas Cristãs ou Igrejas de Cristo, também chamado “A Reforma” e posteriormente “Movimento de Restauração” ou “Movimento Stone-Campbell” não permaneceu unido.


Extraído da apostila "Nossa Herança"
Pedro Agostinho Jr.,
Ministro do Evangelho de Cristo

De volta ao Novo Testamento: os movimentos de restauração do cristianismo apostólico

DE VOLTA AO NOVO TESTAMENTO:
Os Movimentos de Restauração do Cristianismo Apostólico



Introdução

Reconhecemos que o desejo de restaurar as formas e os padrões da Igreja do Novo Testamento é um tema muito antigo. Ele tem origem na Pré-Reforma, foi desenvolvido pela tradição suíça da Reforma Protestante e levado ao extremo pelos Puritanos nos séculos XVI e XVII no Reino Unido e nos EUA, tanto que ainda hoje é identificado como um dos seus lemas.

Em meados do século XVIII e por todo o século XIX surgiram nos EUA e Reino Unido vários movimentos que resgataram o tema puritano da restauração do cristianismo primitivo. Portanto, podemos afirmar com toda certeza que os fundadores do nosso Movimento não foram os primeiros a buscar a unidade e a simplicidade do cristianismo bíblico. Havia, inclusive, outros movimentos similares, mas nunca iguais, e alguns contemporâneos ao dos nossos pioneiros. Podemos citar alguns deles:

1. Os Batistas Separatistas;
2. Os Batistas Escoceses;
3. O Movimento de James O'Kelly (Igreja Cristã);
4. O Movimento Smith-Jones (Igreja Cristã);
5. A Conexão Cristã (O'Kelly/Smith-Jones);
6. O Movimento de Barton W. Stone (Igreja Cristã/Igreja de Cristo);
7. O Movimento dos Campbell's (Discípulos de Cristo);
8. O Movimento Stone-Campbell;
9. O Movimento de Chester Bullard;
10. O Movimento Wright-Hostetler (Igreja de Cristo);
11. As Igrejas de Cristo no Reino Unido;
12. Os Cristãos-Evangélicos da Rússia.

Neste artigo apresentaremos um sumário destes movimentos de restauração do cristianismo do Novo Testamento. Alguns influenciaram fortemente o Movimento de Restauração de Stone e Campbell, ao qual somos afiliados e herdeiros, outros se unificaram com o nosso Movimento e, por fim, há os que nunca se associaram conosco, apesar das similaridades.

Vale salientar que a lista dos movimentos acima citados e as informações aqui contidas não são completas e estamos abertos às correções e sugestões pelo e-mail: pedrojrosalia@hotmail.com . Confira abaixo um sumário destes grupos.

1. Os Batistas Separatistas

Durante o Primeiro Grande Avivamento nos EUA os evangélicos ficaram divididos entre os que se opunham a ele (Velhas Luzes) e os que o apoiavam (Novas Luzes). Estes últimos, por fim, estavam divididos em Moderados (que queriam permanecer em suas igrejas) e Separatistas (radicais que queriam deixar as igrejas estabelecidas).

Os Batistas Separatistas da década de 1750 eram Novas Luzes e foram influenciados pelos puritanos norte-americanos quanto a um retorno ao cristianismo do primeiro século. Eles foram liderados por Isaac Backus, Shubal Stearns e Daniel Marshall na Nova Inglaterra e no sul dos EUA (Carolina do Norte, Virgínia, Carolina do Sul, Kentucky e Tennessee). Os Batistas Separatistas tinham a Bíblia como a "regra perfeita", rejeitavam os credos e buscavam resgatar a forma da Igreja do Novo Testamento. Entre suas práticas estavam o batismo, a ceia do Senhor, a refeição da comunhão, o lava-pés, o ósculo santo, a unção dos doentes, a imposição de mãos, a dedicação de crianças e a destra da comunhão. Eles também ordenavam presbíteros, diáconos e diaconisas. Os Batistas Separatistas prepararam o solo para vários outros movimentos restauracionistas norte-americanos. Isto é tão verdadeiro que até 1811 mais de 13.000 deles se uniram ao movimento de Barton Stone e no Kentucky, entre 1824 e 1832, outros 500 fizeram o mesmo com o movimento dos Campbell's1.

2. Os Batistas Escoceses

Alexander Campbell, que foi o principal teólogo e organizador do nosso Movimento de Restauração (Stone-Campbell), foi muito influenciado pelo movimento iniciado pelos irmãos Robert Haldane e James Haldane em 1790. Estes reformadores imersionistas escoceses defendiam “um reavivamento evangélico e um maior zelo missionário na Igreja da Escócia”. Os Haldane’s iniciaram uma igreja “independente” em 1799, pregavam a autonomia congregacional e celebravam a Ceia do Senhor semanalmente. James Haldane afirmou em 1805 que “todos os cristãos têm a obrigação de observar as práticas universais aprovadas pelas primeiras Igrejas registradas nas Escrituras”.2

O Dr. B. J. Humble escreveu que este movimento estabeleceu muitas igrejas pelo Reino Unido (Escócia, Inglaterra e Irlanda) e, também, nos EUA. Ele também afirmou que o contato de Alexander Campbell com eles se deu através de Greville Ewwing, que estava dirigindo um seminário em Glasgow e se tornou amigo da família.3 Os Batistas Escoceses estabeleceram igrejas na Virgínia, Vermont, New Hampshire, Connecticut, Kentucky, Pensilvânia e Nova Iorque.

3. O Movimento O'Kelly (Igreja Cristã)

Alguns metodistas reclamaram da concentração de poder nas mãos do Bispo Francis Asbury, enviado por John Wesley. Não conseguindo seu intento de descentralização, no dia em 25 de dezembro de 1793, James O’Kelly e outros metodistas deixaram sua denominação e formaram a Igreja Metodista Republicana.

Em 1794, por sugestão de Rice Haggard, adotaram o nome de Igreja Cristã, declararam o Senhor Jesus como o único cabeça da Igreja e tomaram a Bíblia como seu único credo ou regra de fé e prática. Este movimento se estendeu pelos estados do Sul e Oeste dos EUA e em 1809 sua membresia era superior a vinte mil fiéis.4 Suas congregações eram independentes e tinham uma convenção anual, mas ela era apenas consultiva e não tinha autoridade sobre as igrejas ou ministros. Quanto ao batismo O'Kelly continuou aceitando a aspersão.

Alguns ministros do movimento liderado por O'Kelly, quando chegaram ao Oeste, se uniram ao movimento de Barton Stone (outro grande pioneiro do Movimento de Restauração que fazemos parte), pois eles estavam vivendo de acordo com os mesmos princípios que tinham aceitado no Norte. Entre estes ministros estavam Rice Haggard, David Haggard, Clement Nance, James Read e John O'Kelly.5 O movimento liderado por O'Kelly veio a se unir posteriormente com o movimento Smith-Jones que veremos a seguir.

4. O Movimento Smith-Jones (Igreja Cristã)

Um movimento similar ao anterior, porém independente deste, surgiu na Nova Inglaterra liderado pelos batistas Elias Smith e Abner Jones. Elias Smith era um pastor batista que ficou insatisfeito com o calvinismo em meio ao debate teológico daqueles anos e em 1808 iniciou a publicação do Arauto do Evangelho da Liberdade (Herald of Gospel Liberty). Já Abner Jones deixou os Batistas do Livre Arbítrio em 1801 e iniciou uma Igreja Cristã independente em Lyndon, Estado de Vermont, como protesto aos nomes e credos sectários. Após seis anos existiam quatorze congregações e doze ministros.6 Os grupos de Elias Smith e Abner Jones se uniram em 1812 e estabeleceram igrejas por toda a Nova Inglaterra. Mais tarde este movimento foi um dos que formaram a Conexão Cristã.

5. A Conexão Cristã (O'Kelly/Smith-Jones)

No início da década de 1840 o movimento liderado por James O'Kelly (Igreja Cristã) se uniu ao grupo homônimo de Elias Smith e Abner Jones. Este grupo ficou conhecido como Conexão Cristã.

Este movimento restauracionista permaneceu separado do Movimento Stone-Campbell. Uma das razões para isto foi a atitude beligerante do jovem e polemista Alexander Campbell no início do nosso Movimento. Ele desenvolveu seu trabalho na mesma região dos EUA (Noroeste) onde os grupos de O'Kelly e Smith-Jones haviam surgido e cujas posições, até então muito sectárias, eram conhecidas por todos.

Em 1930 a Conexão Cristã se uniu aos congregacionais formando a Igreja Cristã e Congregacional. Esta, por sua vez, se uniu à Igreja Evangélica e Reformada em 1957 dando origem a Igreja de Cristo Unida, uma denominação de teologia liberal.

6. O Movimento de Barton W. Stone (Igreja Cristã / Igreja de Cristo)

A origem desse movimento aponta para o ano de 1801, quando milhares de pessoas estiveram reunidas no Acampamento de Avivamento em Cane Ridge liderado pelo avivalista presbiteriano Barton W. Stone. Cerca de trinta mil pessoas estiveram presentes e responderam às pregações com confissões, orações fervorosas, ações de graça, louvor a Deus, libertação, testemunhos, exortações ao arrependimento dos pecados e fé em Jesus como Senhor e Salvador. Os presbiterianos reagiram forçando Barton Stone e outros pastores a deixarem a igreja. Eles formaram o Presbitério Independente de Springfield que foi dissolvido em 1804. Esse avivamento deu origem às Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo e seus membros gostavam de ser chamados unicamente de "cristãos".

Por volta de 1820 as igrejas desse novo movimento somavam cerca de vinte mil fiéis. Sobre os primeiros anos desse movimento os autores do livro “Raízes da Restauração” escreveram o seguinte:

“No início se concentrou na vida em santidade, buscando restaurar o estilo de vida da Igreja Bíblica. O ideal de liberdade era a pedra fundamental desse movimento e até o batismo era deixado a critério de cada um. O caráter cristão e a liberdade eram muito preciosos. Para eles a restauração da Igreja do Novo Testamento passava pela negação das tradições opressoras das igrejas estabelecidas e a unidade da Igreja Primitiva era a unidade na liberdade e não unidade na concordância”.7

Em 1832 os “Cristãos” se unificaram com os “Discípulos de Cristo”, um grupo que foi organizado pelo irlandês Thomas Campbell, pastor presbiteriano desde 1787 e Alexander Campbell, seu filho.

7. O Movimento dos Campbell's
(Discípulos de Cristo)

A origem dos Discípulos de Cristo se volta para o ano que o pastor Thomas Campbell e outros presbiterianos criaram a Associação Cristã de Washington no 17 de agosto de 1809, publicaram a "Declaração e Discurso" (o mais importante documento histórico do nosso Movimento de Restauração) e deram início a um movimento que buscava a unidade da igreja e a restauração do cristianismo primitivo.

Logo depois de desembarcar nos EUA, Alexander Campbell, seu filho, aderiu a este novo movimento e posteriormente assumiu a liderança do mesmo. Um outro grande pioneiro foi o batista Walter Scott, que com seu "exercício dos cinco dedos" (fé, arrependimento, batismo, remissão dos pecados e o dom do Espírito Santo) forneceu uma ordem em que as pessoas poderiam vir a Cristo e se associar à igreja. O grupo dos Campbell's se uniu ao de Barton Stone como veremos abaixo.

8. O Movimento Stone-Campbell

Os grupos de Stone e Campbell começaram a dialogar no início dos anos 1830 graças a articulação de John T. Johnson (“campbellista”), o próprio Barton W. Stone, Racoon John Smith (“campbellista”) e John Rogers (“stoneíta”). No fim-de-semana do ano novo de 1832 eles se unificaram, mas a uniformidade nunca foi alcançada. “Campbellistas” e “Stoneítas” eram semelhantes nos seguintes pontos:

1. Ambos os movimentos aceitavam a Bíblia como única autoridade em matéria de fé e prática cristã e concordavam que Credos ou Confissões de Fé não deviam ser impostos sobre a igreja;
2. Eles promoviam a unidade cristã com base em uma volta à Bíblia;
3. Eles reagiram contra a teologia calvinista da Igreja Presbiteriana aceitando muitas das idéias da teologia arminiana;
4. Ambos aceitavam o batismo de crentes, rejeitando o batismo de crianças (pedobatismo);
5. Procuravam se designar por nomes bíblicos: “cristãos” ou “discípulos”, “Igrejas Cristãs” ou “Igrejas de Cristo”;
6. Eles eram puramente congregacionais e não aceitavam outras formas de governo além da igreja local.

As diferenças também eram muito claras e o historiador Leroy Garrett identifica seis delas:

1. Nome: os "campbellistas" usavam Discípulos de Cristo. Os "stoneítas" Igrejas Cristãs/Igrejas de Cristo e cristãos;
2. Batismo: os "campbellistas" enfatizavam o batismo para o perdão dos pecados. Os "stoneítas" a imersão de crentes, mas não necessariamente para o perdão dos pecados;
3. Ceia do Senhor: os "campbellistas" mantinham uma periodicidade semanal (aos domingos). Os "stoneítas" diziam que não havia nenhum mandamento bíblico quanto à periodicidade da Ceia do Senhor (eles faziam trimestralmente);
4. Ministério Cristão: os "campbellistas" não favoreciam um ministério ordenado. Os "stoneítas" acreditavam que somente um ministério ordenado poderia batizar os conversos ou dirigir a Ceia do Senhor, por exemplo;
5. A Unidade Cristã: os "campbellistas" estavam preocupados em restaurar um padrão ou modelo antigo para a Igreja. Os "stoneítas" estavam mais interessados em unir todos os homens em Jesus Cristo.
6. Método Evangelístico: Os "campbellistas" foram muito influenciados pela filosofia secular (o “racionalismo” e o “realismo sensato”) enfatizavam a “razão” ou no “linguajar evangélico” enfatizavam a Palavra. Os "stoneítas" usavam os métodos do Segundo Grande Avivamento, onde as reuniões de avivamento organizadas se tornaram o meio mais comum de evangelizar, com pregações emocionais e conversões com manifestações físicas e sinais.8

As igrejas do nosso Movimento eram tão diferentes que o maior teólogo batista de todos os tempos e contemporâneo dos nossos pioneiros testemunhou sobre este fato.9

No entanto, não foi pequeno o número de igrejas locais do movimento de Barton W. Stone que recusaram a se unir ao de Alexander Campbell devido ao seu sectarismo, exclusivismo e arrogância. Estas atitudes, que ainda hoje influencia muitos da nossa família na fé (Movimento Stone-Campbell), pouco contribuiu para a unidade cristã. Naquela época, alguns movimentos similares ao nosso deixaram de caminhar conosco por causa disto.

Sabemos que a indiscutível liderança de Alexander Campbell sobre o nosso Movimento teve duas fases bem distintas. Na primeira fase, especialmente durante a publicação de “O Cristão Batista”, o jovem Campbell foi um discutidor vitalício, um polemista agressivo e radical. Thomas Campbell, seu pai, diversas vezes recomendou baixar o tom dos ataques, mas não foi atendido.10 Intransigente, o imaturo Alexander Campbell girava sua metralhadora contra todos que divergiam dele sobre "a restauração da antiga ordem das coisas"11 levantando uma enorme oposição ao nosso Movimento. Portanto, o exclusivismo e o sectarismo de Campbell prejudicou a união cristã. Além de ser uma doença infantil de alguns da nossa família na fé, esta postura também contamina muitos outros crentes e denominações evangélicas.

Graças a Deus, na segunda fase da sua liderança, que se iniciou por volta de 1840, Alexander Campbell percebeu que algumas das suas posições eram insustentáveis. Mais experiente e conciliador ele passou a aceitar a unidade na diversidade pluralista e minimizar a necessidade de uma postura rígida pelo ideal restauracionista.12 Para você ter uma idéia da natureza e profundidade destas mudanças observe a opinião do maduro Campbell quanto ao batismo cristão, assunto de tanta controvérsia no passado:

"O que deduz que só é cristão aquele que tenha sido submergido está em tão grave erro como aquele que afirma que ninguém está vivo, senão os que tem uma visão clara e completa... Eu pecaria contra as minhas próprias convicções se ensinar que alguém por não haver entendido o significado de um sacramento (instituição), ainda que sua alma anele conhecer por completo a vontade de Deus, deva perecer eternamente”.

E sobre as diferenças doutrinárias dentro do nosso Movimento ele disse: "Nós temos entre nós toda a sorte de doutrinas pregadas por toda a sorte de homens”.

Só não muda de opinião quem não tem opinião!!! O maduro Alexander Campbell, e os membros do nosso Movimento no Noroeste dos EUA que foram mais influenciados por ele nesta fase, mudaram de opinião.13 Mesmo com todos os seus erros e acertos Alexander Campbell foi considerado um dos líderes cristãos mais proeminentes de sua época.

Não nos envergonhamos nem tentamos esconder a nossa história. Pelo contrário, somos gratos a Deus por sermos herdeiros de uma tradição tão apaixonada pela Bíblia e pela Igreja. Porém, sabemos que os movimentos de "restauração" ou "reforma" da igreja, por serem esforços humanos, não são perfeitos e o Movimento Stone-Campbell não fugiu à regra. Não estamos cegos quanto aos erros cometidos no passado. Alexander Campbell percebeu o quanto era instável algumas das suas posições e passou a aceitar a pluralidade religiosa. Essa mudança na teologia e na prática do nosso Movimento apressou a sua divisão.

Em 1906 as Igrejas de Cristo (Anti-Instrumental), o ramo radical do nosso Movimento, que eram concentradas no Sul dos EUA e permaneceram mais próximas dos ideais do jovem Campbell,14 formaram um corpo separado e estão continuamente se dividindo desde então. Entre a década de 1920 e 1968 uma outra divisão ocorreu quando o grupo mais liberal e ecumênico se reorganizou como a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo). Os Discípulos que não desejaram ser parte dessa nova denominação formaram uma comunhão de Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo conhecida como os "Independentes".

9. O Movimento de Chester Bullard

O metodista Chester Bullard foi influenciado pelos escritos de Alexander Campbell e deixou a sua igreja quando esta se recusou a imergi-lo, segundo a sua compreensão sobre o batismo bíblico. Em dez anos estabeleceu cerca meia dúzia de igrejas na Virgínia e Carolina do Norte. Bullard não quis uma aproximação com Campbell devido às posições exclusivistas e sectárias que este defendia. Foi a mesma atitude que os movimentos de O'Kelly e Smith-Jones citados acima tiveram. Todavia, com o amadurecimento de Alexander Campbell, os "Bullarditas" se aproximaram e realizaram uma Convenção Estadual na Virgínia em conjunto com os seguidores de Campbell. Isto se deu em 1840, ocasião que se conheceram e deste ponto em diante marcharam juntos em união.15

10. O Movimento Wright-Hostetler (Igreja de Cristo)

No Estado de Indiana, em 1810, John Wrigth organizou a Igreja Batista Blue River (Livre-Arbítrio) e logo tinha dez congregações associadas. Em 1819 esta igreja passou a se chamar Igreja de Cristo Blue River e seus membros gostavam de ser chamados discípulos, amigos ou cristãos.

John Wright foi um personagem decisivo para unir várias igrejas em Indiana que enfatizavam o nome de “cristãos” ou “discípulos”. Em 1827 Wright promoveu a união do seu movimento com o de Joseph Hostetler, que havia liderado um ano antes a dissolução da Associação Batista Dunkards (alemã). O movimento Wright-Hostetler se uniu aos seguidores de Barton Stone em Edinburg, no mês de julho de 1828, quando estes chegaram a Indiana.

Um outro grupo deixou a Associação Batista Silver Creek liderado por Absalom Littell, que foi influenciado pelos escritos de Alexander Campbell em "O Cristão Batista". Em 1829 a Igreja Silver Creek abandonou os artigos de fé aceitando "somente a Bíblia".16

11. As Igrejas de Cristo no Reino Unido

Os Batistas Escoceses dos irmãos Robert e James Haldane tinham um forte desejo de restaurar o cristianismo bíblico e exerceram uma grande influência sobre Alexander Campbell. Quando os seus escritos chegaram na Inglaterra e Escócia nos anos 1830 encontraram solo fértil no coração e nas mentes de homens como William Jones e James Wallis que eram batistas escoceses e passaram a formar Igrejas de Cristo. Por volta de 1840 a imigração de membros das Igrejas de Cristo das ilhas britânicas para a Austrália e Nova Zelândia contribuiu para a formação das Igrejas de Cristo na Oceania.17

12. Os Cristãos-Evangélicos da Rússia

No norte da Rússia por volta de 1860 um grupo deixou a Igreja Ortodoxa Russa buscando restaurar a fé e a prática da Igreja Bíblica. Os "cristãos-evangélicos", era assim que se chamavam, em sessenta anos alcançaram a membresia de mais de 2.000.000 de fiéis espalhados pela Rússia, Polônia e outras nações do Leste europeu. Após terem acesso ao periódico "Christian Standard" em 1918 eles descobriram as similaridades com as Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo do EUA. Após muito diálogo estes grupos resolveram se unir em 1920.18

Conclusão

O nosso Movimento de Restauração, que é mais conhecido hoje como Movimento Stone-Campbell, não foi o primeiro nem o único movimento que buscava restaurar o cristianismo do Novo Testamento. Muitos outros tiveram a mesma iniciativa. E nesta caminhada, tudo aquilo que representava um impedimento foi paulatinamente deixado de lado: as estruturas denominacionais sufocantes; a imposição dos credos, confissões de fé ou qualquer outro documento doutrinário como condição de aceitação e comunhão na Igreja; as opiniões e pareceres humanos e etc.

Assim como o nosso Movimento, muitos outros pregaram uma volta à Bíblia, a união em Cristo Jesus e a simplicidade da fé dos primeiros cristãos. Acredito que todos estavam com boas intenções, porém muitos enveredaram pelo exclusivismo e sectarismo se achando os únicos cristãos e apenas criaram mais divisões entre os cristãos. Outros foram enlaçados pelo liberalismo teológico e "a alta crítica da Bíblia" que predominou entre o fim do século XIX e início do século XX e se tornaram altamente ecumênicos e humanistas.

Todavia, penso que a mensagem do nosso Movimento continua atual no século XXI. A Igreja, no sentido universal, não está unida. Há milhares de denominações cristãs competindo uma com as outras e seus membros vivem, muitas vezes, oscilando entre a indiferença e a hostilidade. O ideal da unidade dos cristãos, segundo o ensino do próprio Senhor Jesus Cristo na sua oração em João 17:20-23, deve ser buscado continuamente por todos nós. E unidade não significa uniformidade doutrinária, pois as páginas do Novo Testamento mostram que os Apóstolos e as igrejas bíblicas não concordavam em tudo. Pelo contrário, naquilo que era essencial eles tinham unidade, mas nas opiniões usufruíam da liberdade que há no Espírito.

Este é o desejo da Igreja de Cristo no Brasil (Independentes) desde quando o Pr. David Sanders, o pioneiro do Movimento de Restauração em nossa nação, aqui chegou em 1948 e estabeleceu a primeira igreja da nossa comunhão no Estado de Goiás.


Pedro Agostinho Jr.,
Ministro do Evangelho de Cristo

www.igrejadecristope.blogspot.com
www.movimentoderestauracao.com
www.worldconvention.org



1. ALLEN. C. Leonard. "Raízes da Restauração" / C. Leonard Allen e Richard T. Hughes ; tradução Newton Bernardi. - São Paulo : Editora Vida Cristã, 1998, pág. 80 a 82.
2. HUMBLE. B. J. "La Historia de La Restauración" / disponível na Internet, pág. 09 e 10.
3. Ob. cit., pág. 10.
4. Ob. cit., pág. 03 e 04.
5. Ob. cit., pág. 04.
6. Ob. cit., pág. 07.
7. ALLEN, pág. 111 a 113.
8. SOTO. Fernando. "La Reforma Presente" / Fernando Soto : Literature and Teaching Ministries, 1997 (citando “The Stone-Campbell Movement: Na Anecdotal History of Three Churches” de Leroy Garrtett, 282), pág. 32.
9. STRONG. Augustus H. "Teologia Sistemática" / Augustus Hopkins Strong ; prefácio de Russell Shedd ; [tradução Augusto Vitorino]. - São Paulo : Hagnos, 2003, pág. 720.
10. SOTO, pág. 67.
11. HUMBLE, pág. 16.
12. ALLEN, pág. 116.
13. Ob. cit., pág. 116.
14. Ob. cit., pág. 116.
15. NORTH. James B. "União em Verdade", artigo em inglês publicado no Christian Standard, 2008 / James B. North, prof. de História na Cincinnati Christian University. / disponível na Internet, pág. 02.
16. Ob. cit., pág. 02 e 03.
17. Ob. cit., pág. 03.
18. MALLETT. Robert. "O Que Dizer Sobre o Movimento de Restauração?", artigo em inglês disponível na Internet, pág. 04 e 05.

Nossa posição: uma sinopse da fé e da prática da Igreja de Cristo

Introdução à Versão Brasileira

Dos antigos documentos históricos do Movimento de Restauração (ou Movimento Stone-Campbell) este texto é um dos três mais importantes, juntamente com a "Declaração e Discurso" de Thomas Campbell (1809) e "A Última Vontade e Testamento do Presbitério de Springfield" de Barton W. Stone (1804). Ele foi escrito em 1863 por Isaac Errett (1820-1888), o fundador do "The Christian Standard", uma publicação conhecida por sua atitude firme na defesa da liberdade cristã individual e eclesiástica e que está em circulação até hoje (Christian Church / Church of Christ). A ele é atribuído o fato de ter impedido que o nosso movimento tivesse se transformado em uma seita que se reproduz por divisão de legalistas sectários e discordantes.

Este documento histórico já evidencia o amadurecimento do nosso Movimento, sob a influência do maduro, muito mais experiente e conciliador Alexander Campbell. Como os pioneiros, devemos continuar amadurecendo, revendo as posições que se tornaram insustentáveis e nos contextualizando com a cultura contemporânea brasileira. Todavia, não podemos perder a nossa identidade, ou seja, o DNA do Movimento de Restauração. Por essa razão, e com grande alegria, disponibilizamos este clássico do nosso Movimento. Ele mesmo se define como uma breve declaração em defesa do retorno ao Evangelho e à Igreja do Novo Testamento, apelo este que sempre fez parte da mensagem das igrejas do nosso Movimento, desde seu início cerca de duzentos anos atrás, e que deve continuar sendo feito por nós até vermos a plena unidade cristã ou Jesus voltar.

Esta versão brasileira foi preparada especialmente para o primeiro site em língua portuguesa e latino-americano sobre o Movimento de Restauração de Stone e Campbell: www.movimentoderestauracao.com . Soli Deo Gloria!



Pedro Agostinho Jr.
Ministro do Evangelho de Cristo
28 de fevereiro de 2008

Dia do 90º Aniversário do Pr. David Sanders
Pioneiro do Movimento de Restauração em Terras Brasileiras
(Christian Church / Church of Christ)

Ano do 60º Aniversário da Igreja de Cristo no Brasil






NOSSA POSIÇÃO
UMA SINOPSE DA FÉ E DA PRÁTICA DA IGREJA DE CRISTO


Por Isaac Errett, 1863


Editor do "The Christian Standard"


Breve declaração em defesa do retorno ao Evangelho e à Igreja dos Tempos Apostólicos, encorajada pelas Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo1.


Em resposta a inúmeras consultas e pedidos, cremos que convém expor em termos breves e diretos uma declaração sobre a posição e o que pretendem os Discípulos em defesa da restauração do cristianismo primitivo. Nosso propósito não é argumentar, mas simplesmente dizer que posição temos tomado e por isso mesmo não ocuparemos muito espaço. Tudo o que se precisa dizer sobre isto cabe facilmente em três pontos:

1. O que estamos de acordo com os demais grupos evangélicos;
2. O que não estamos de acordo com eles;
3. O que estamos em desacordo com alguns, mas não com todos.

1 - O QUE ESTAMOS DE ACORDO COM DEMAIS GRUPOS EVANGÉLICOS

Primeiro, diremos que grande parte da nossa fé é também a de todos que se chamam evangélicos. Realmente, quase nada do que eles têm por essencial ou vital deixamos de sustentar tão certo e firmemente como eles. Unidos a eles estamos na profissão e apresentação dos pontos doutrinais abaixo:

1. A inspiração divina das Santas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos;
2. A revelação de Deus, especialmente no Novo Testamento, em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo;
3. A suficiência da Bíblia, por si só e toda ela, como revelação do caráter e vontade divinos e do Evangelho da graça pelo qual somos salvos; e também na qualidade de regra de fé e prática;
4. A excelência e dignidade divina do Senhor Jesus como Filho de Deus; sua humanidade perfeita como Filho do Homem; e sua autoridade e glória oficiais como Cristo, Profeta, Sacerdote e Rei Ungido, que nos instrui no caminho da vida, nos redime do pecado e da morte, e que reina em nós e sobre nós como Soberano legítimo de nossa existência e Árbitro de nossos destinos. Portanto, de boa fé aceitamos a religião sobrenatural que o Novo Testamento nos apresenta e que abarca em suas revelações o seguinte:

a) A encarnação do Divino Verbo Eterno na pessoa de Jesus de Nazaré;
b) A vida e ensinamentos do Divino Senhor e Salvador Ungido, por serem a manifestação mais elevada e completa que temos do caráter e dos fins divinos no que se relacionam a nossa raça pecaminosa e perdida, e por ser o fim de toda controvérsia tocante a questões de salvação, do dever e do destino;
c) A morte do Senhor com o caráter de oblação pelo pecado, a qual nos proporciona redenção mediante seu sangue, a saber, o perdão dos pecados;
d) A ressurreição do Senhor dentre os mortos, com a qual aboliu a morte e manifestou a clara luz da vida e a imortalidade;
e) Sua ascensão aos céus e sua glorificação, onde vive para sempre, Mediador entre Deus e o homem, Grande Sacerdote nosso que intercede pelos seus. Rei nosso que dominará até ver subjugados a todos seus inimigos e cumpridos todos os propósitos sublimes de seu reinado mediador;
f) A Autoridade suprema do mesmo Senhor.

5. A missão perpétua e pessoal do Espírito Santo, de convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo, e habitar nos fiéis com caráter de Consolador, Fortalecedor e Santificador;
6. A separação de Deus efetuada em nossa raça, e na dependência absoluta desta na misericórdia, fidelidade e favor divinos manifestos no Cristo Salvador, revelados e confirmados no Evangelho pelo Espírito Santo para nossa regeneração, santificação, adoção e vida eterna;
7. A necessidade de fé e arrependimento para chegar a gozar da salvação desde agora, e da vida obediente para alcançar a vida eterna;
8. A perpetuidade do Batismo e da Ceia do Senhor na classe de ordenanças divinas por todos os séculos vindouros;
9. A obrigação de guardar o primeiro dia da semana como dia do Senhor, comemorando com isso a morte e a ressurreição do Senhor, mediante atos de cultos que não diferem dos ensinados no Novo Testamento, nem perturbem a cultura de espírito, própria desse dia memorial;
10. A Igreja de Cristo, instituição divina composta dos que já têm confessado abertamente o nome de Cristo mediante a fé e o batismo, com seus dirigentes, ministros e culto determinados, que edifiquem aos cristãos e se converta o mundo;
11. A necessidade de justiça, benevolência e santidade de parte dos cristãos professos, seja que se trate da salvação destes mesmos ou da missão encomendada a eles de atrair o mundo a Deus;
12. A totalidade e gratuidade da salvação oferecida no Evangelho a todos os que aceitam os termos propostos;
13. O castigo final dos ímpios por morte eterna na presença do Senhor e por seu glorioso poder.

Estes treze pontos certamente apresentam uma ampla base de consenso cheia de conceitos da verdade divina que pode legitimamente ser chamada universal. Seria muito estranho que os que calorosamente e inequivocamente professam verdades e princípios tão fundamentais não sejam tidos por evangélicos, ainda que não conhecêssemos a obstinação do preconceito religioso e a sorte inevitável de todos os que advogam por reformas religiosas de ser mal compreendidos e deturpados. Mas o tempo isola este preconceito, e ao sair nossos opositores do nevoeiro para uma visão mais clara das posições que têm atacado, fazem por crer que tem havido uma mudança admirável em nós e que já nos "falta pouco" para sermos ortodoxos! Desta maneira podem com graça nos conceder a posse atual da verdade sem que pareça que confessem o erro em que estavam ao ter nos compreendido tão mal em outro tempo. Mas nós não queremos parar para uma controvérsia sobre este assunto. Menos importa saber quem estava certo ou errado no passado, como ter a certeza de que é direito hoje. Diremos simplesmente que, pelo que toca aos pontos acima indicados, ocupamos o mesmo lugar que sempre temos defendido. Não ousamos afirmar por certo que nenhum de nós haja contrariado jamais a verdade ou princípios que temos enunciado, pois é de se supor que em mais de cinqüenta anos de controvérsias, deve ser esperado que alguns de mentes imaturas ou equivocadas emitiram verdades pela metade que necessariamente são erros. Tampouco dizemos que até os que têm advogado com maior inteireza o nosso argumento não tenham cedido, às vezes, à tentação de se permitir visões parciais e expressões infundadas. Eles deveriam ter sido mais que homens para escapar da operação das leis que regem a mente ao romper com os extremos e se absorver na discussão de pontos doutrinais determinados. Resultado inevitável disso é o radicalismo em maior ou menor escala. Mas nós afirmamos, e isto com ênfase, que desde o primeiro dia em que este apelo para um retorno ao cristianismo primitivo começou até este dia, quanto ao treze pontos acima mencionados, não houve dúvida e nem controvérsia entre seus principais defensores, nem tampouco na generalidade de seus adeptos inteligentes. Não somente têm aceitado os ensinamentos a que nos referimos, mas eles foram preparados para defendê-los contra os incrédulos e os equivocados, quaisquer que tenham sido estes.

Não dizemos isto com a idéia de solicitar lugar entre os evangélicos. Por nossa parte olhamos com crescente indiferença as normas convencionais da ortodoxia. Pequena coisa é que nos julguem os homens. Desejamos nos encontrar nas fileiras dos que integramente advogam pela verdade, que esta defesa nos eleve na aprovação das multidões ou que nos afunde debaixo da pesada sentença da vontade popular. As testas franzidas dos homens não podem nos matar, nem os seus sorrisos nos salvam. Melhor é ter parte na cruz de Jesus que a aprovação das multidões que o condenaram. Não nos compreenda mal nisto. Não escrevemos para atenuar qualquer dureza no nosso argumento, nem de alcançar favor mediante concessões para a oposição. Todavia, se tratando daquilo em que houver conformidade, desejamos que nos compreenda por amor da verdade. Importa também desculpar toda questão mal fundada e deixar de insistir nas diferenças que não sejam graves nem efetivas, agora que tanta falta faz a simpatia e o trabalho unido de todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo.

Vamos ser melhor compreendidos quando apresentarmos os pontos de diferença.

2 - O QUE NÃO ESTAMOS DE ACORDO COM ELES

1. Ainda que estejamos de acordo quanto à inspiração divina do Antigo Testamento e do Novo, opinamos diversamente na questão deles exercerem igual autoridade sobre os cristãos. Cremos que o Antigo Testamento foi autoridade para os judeus, e que o Novo o é para os cristãos. Aceitamos por verdadeiro o Antigo e por essencial para a devida compreensão do Novo, e por continente de muitas lições inestimáveis de justiça e santidade, virtudes igualmente preciosas debaixo de toda dispensação ou economia. Mas na classe de livro autorizado que nos ensine o que temos de fazer, é nossa norma única o Novo, posto que compreende o total dos ensinos de Cristo e seus apóstolos.

2. Mesmo aceitando plenamente e sem reserva o que afirmam as Escrituras sobre o que usualmente se chama a Trindade de pessoas em Deus, rechaçamos todas as especulações filosóficas e teológicas dos Trinitarianos e Unitarianos, com todas as maneiras de se expressar desautorizadas sobre uma questão que transcende a Razão humana. E o que nos convém é falar "com palavras que ensina o Espírito Santo". Testemunhas de tantas contendas inúteis e ruinosas que se tem suscitado entre os crentes verdadeiros por querer definir o indefinível e dar maneiras humanas de se expressar que carecem de autoridade divina, nós resolvemos desconhecer todas essas especulações prejudiciais e as condições arbitrárias de comunhão, e insistir somente na "forma das sãs palavras" que nos foi dada nas Escrituras ao tratar do Pai, Filho e Espírito Santo.

3. Embora concordando que a Bíblia envolve a totalidade da revelação da vontade divina e que é a norma perfeita de fé e de prática, discordamos quando não se trabalha de acordo com este princípio e repudiamos o caráter de autoridade de todos os credos humanos. Não temos dificuldade em publicar como informe o que cremos e praticamos, parcial ou totalmente, segundo as circunstâncias o peçam e com as respectivas razões. Mas nós resolutamente nos recusamos a aceitar tais declarações como autoridade e a sua aceitação como condição para a comunhão, uma vez que Jesus Cristo o único Senhor da consciência e a sua Palavra é a única lei que pode nos reger. O que Ele tem revelado ou preceituado, pessoalmente ou por meio dos seus Apóstolos, reconhecemos como obrigatório e temos liberdade naquilo em que não nos têm ligado a Ele. E nos propomos a estar firmes na liberdade com que o Senhor nos têm feito livres, guardando cuidadosamente de todas as perversões dela em meio ou ocasião de contendas.

4. Entre nós o caráter divino e messiânico do Senhor Jesus é mais que mero ponto doutrinal. É a verdade cêntrica do sistema cristão, e em um sentido importante é o credo do cristianismo. É esta a verdade particular fundamental em menosprezo da qual zelosamente vigiamos para que nada se faça. O grande fim com que trabalhamos pregando o Evangelho é o de persuadir aos pecadores a amar, obedecer e confiar no Salvador Divino, tendo por seguro que estando os homens bem quanto a Cristo Jesus, este cuidará de que estejam bem quanto a tudo o mais. Portanto pregamos a este, e crucificado. Quanto ao batismo e a participação na igreja, não pretendemos que haja outra fé que a do coração em Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo. Tampouco temos outra condição ou pacto de comunhão que não seja a fé neste Redentor Divino e a obediência que se lhe deve. Todos os que confiam no Filho de Deus e lhe obedecem, são nossos irmãos, quaisquer que sejam seus erros por outra parte. Não o são, por excelentes e entendidos que sejam em tudo o mais, os que não confiam no Senhor para que os salve, nem obedecem seus mandamentos. Entre nós, pois, são a base e o pacto da comunhão cristã a fé no testemunho terminante dado acerca de Jesus, de sua encarnação, vida, ensinos, sofrimentos, morte pelo pecado, ressurreição, exaltação, e soberania e sacerdócio divinos, e ademais a obediência a quanto nos tem mandado claramente que façamos. Formando juízos meramente dedutivos, extraímos as conseqüências tão próximas à unanimidade como seja desejável, e quando não a logramos, não nos impacientamos, confiando em que o Senhor por fim nos guiará a ela. Quando se trata do que mais convenha, no que se nos tem deixado em liberdade de fazer como nos pareça melhor, consentimos no que quer a maioria. Em assuntos de opinião, é dizer, tratando de coisas que não menciona a Bíblia, ou acerca das quais é tão obscura em suas revelações que nada de firme se possa deduzir, concedemos liberdade ampla com tal que não se julgue o irmão, nem se queira que a força prevaleça sobre a opinião, nem se faça desta um motivo de contenda.

5. Confessando de todo coração a perpétua agência do Espírito Santo na obra da regeneração, dessecamos todas as teorias referentes às operações espirituais, e também as que referindo-se às naturezas divina e humana logicamente excluiriam a Palavra de Deus como se esta não fosse o instrumento na conversão e regeneração as que pintam ao pecador como objeto passivo e sem força alguma, que tem a regeneração por um milagre, e induzem a aqueles a buscar as provas de sua aceitação por Deus nas indicações sobrenaturais ou nas revelações especiais, mais bem que nos testemunhos e as promessas definitivas e invariáveis do Evangelho. Não exigimos que se dê assentimento a nenhuma teoria da regeneração nem da influência espiritual, se não que insistimos em que se tem de ouvir, crer, se arrepender e obedecer conforme o Evangelho, tendo por seguro que, sendo fiéis pelo lado humano ao que requer o Senhor, Este sempre será veraz e fiel a Si mesmo e para com nós pelo lado divino, efetuando o que for necessário. A nós nos cabe pregar o Evangelho, argüindo com os pecadores que devem se reconciliar com Deus, pedindo a Este que, plantando e regando nós, se sirva Ele dar o crescimento. Pouco nos importa a lógica de tal ou qual teoria acerca da regeneração, com tal que possamos persuadir aos pecadores a crer, se arrepender e obedecer.

6. Estando de acordo com todos os evangélicos quanto à necessidade de que haja fé e arrependimento, não o estamos no que a continuação manifestamos: Ao admitir às pessoas para que estas sejam batizadas e se façam membros da igreja, não lhes impomos mais condições que a fé e o arrependimento. Não lhes apresentamos mais artigos de fé que o referente ao caráter divino e messiânico do Senhor Jesus; não lhes pedimos narração alguma de experiências religiosas senão a expressada em sua confissão voluntária de fé nele; não estabelecemos tempo de prova alguma que determine a aptidão destas pessoas para pertencer a igreja, senão ao instante, antecipando sua confissão voluntária do Cristo e seu propósito de abandonar seus pecados e servir ao Senhor, a menos que haja boas razões para duvidar de sua sinceridade, são admitidas e batizadas em o nome do Senhor Jesus, e do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sendo assim seu consórcio com o mesmo Cristo, e não com uma série de doutrinas, nem com um partido eclesiástico.

7. Não só confessamos a perpetuidade do batismo, senão que insistimos em sua significação de acordo com os testemunhos divinos: "Quem crer e for batizado será salvo" e "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo". Pelo qual, ensinamos ao crente arrependido a buscar, mediante o batismo, a segurança divina do perdão dos pecados e aquele dom do Santo Espírito prometido pelo Senhor aos que lhe obedecem. Assim é como temos de buscar a segurança do perdão e a evidência de ser filhos a que nos encaminha o Evangelho, mediante o rendimento cordial e bíblico à autoridade do Senhor, e não mediante os sonhos, nem as visões nem as revelações.

Entre nós também ocupa a Ceia do Senhor um lugar distinto do que comumente se lhe designam. Não a revestimos com o caráter imponente de um sacramento, senão que a vemos como uma festa desejosa e preciosa de santa comemoração, cujo desígnio é o de avivar nosso amor para com Cristo e cimentar nossa comum fraternidade. Por esta razão fazemos de sua observância uma parte de nosso culto regular, cada dia do Senhor, tendo ela por festa de amor solene mas gozosa e refrescante, se unir à qual todo discípulo de nosso Senhor deveria ter por um grande privilégio. "Consagrada à memória de nosso Senhor Salvador Jesus Cristo"; eis aqui o inscrito nesta festa de família simples e solene celebrada na casa do Senhor.

8. O dia do Senhor, não o sábado judaico, é a observância neotestamentária não governada por estatuto, mas pelo exemplo apostólico e a devoção de corações amantes e leais.

9. A Igreja de Cristo, não as denominações, é uma instituição divina. Não reconhecemos por ramos desta as denominações com seus nomes, símbolos e condições sectárias; as temos por não bíblicas e ainda antibíblicas, pelas coisas que tem em abandonar para se unir à única Igreja de Deus revelada no Novo Testamento. Cremos que Deus tem um povo dentro dessas denominações; a este lhe chamamos para que saia separando-se de todas as organizações partidárias, renunciando todos os nomes e todas as condições de partido, buscando somente a união e a comunhão cristãs conforme o ensino apostólico. Apesar de reconhecer que aparentemente tenha havido necessidade em tempos passados dos diversos movimentos denominacionais por causa da confusão resultante da grande apostasia, cremos que chegou o tempo de insistir em indicar os males e prejuízos do espírito de denominação e da vida segundo este, e em aconselhar o abandono das denominações e o regresso à unidade de espírito, a união, com cooperação, que distinguia as igrejas do Novo Testamento. Com tal motivo, com empenho pomos a Palavra do Senhor contra os credos humanos, a fé em Cristo contra a fé nos sistemas de teologia, a obediência para com Cristo antes que a obediência para com a autoridade eclesiástica, a Igreja de Cristo em lugar das denominações, as promessas do Evangelho e não os sonhos, visões e experiências maravilhosas como prova do perdão; o caráter cristão em vez da ortodoxia na doutrina como elo de união e, por fim, as associações para a cooperação nas boas obras em lugar das associações encaminhadas a resolver questões de fé e de disciplina.

Com isto se verá que nosso caráter diferencial se encontra, não na propagação de novas doutrinas ou práticas, mas na reprovação daquilo que tem sido acrescentado à simples fé e prática originais da igreja de Deus. Todos poderiam regressar a estas, pondo fim a muitas contendas infelizes e unindo as forças hoje espalhadas e dissipadas, fazendo reviver a espiritualidade e o entusiasmo da igreja primitiva, pelo que não seria necessário se dobrar ante o mundo com suas modas e loucuras para poder conservar a existência precária, como tem que fazê-lo até certo ponto, debilitados como estamos pelo sectarismo. Assim poderia Sião voltar a pôr suas "roupas de formosura", resplandecer a luz de Deus, e sair com força irresistível a conquistar o mundo. Para esse feito, não estamos pedindo a ninguém que deixe sua confiança em Cristo, nem que se separe de algo divino, mas somente que deixe o humano e que promova a unidade abraçando o divino. Não é razoável isto? Não é justo? Acaso não é absolutamente necessário para que possa o povo de Deus levar adiante com eficácia a obra dele?

3. O QUE ESTAMOS EM DESACORDO COM ALGUNS, MAS NÃO COM TODOS

1. No que se refere à imersão, concordamos com todos os imersionistas. O significado do vocábulo grego, o uso literal e metafórico deste no Novo Testamento, as alusões incidentais à prática primitiva, o testemunho repetido da história referente ao mesmo e o dos reformadores principais como Lutero, Calvino e Wesley, e as confissões de um grande número de lexicógrafos e críticos, praticantes da efusão, mas obrigados na sua qualidade de eruditos a confessar a verdade quanto ao significado do vocábulo e também ao costume da igreja primitiva, tudo isto nos tem feito chegar a conclusão fixa e definida de ser a imersão o que Cristo ordenou. Além disto, sendo uma das características proeminentes de nosso trabalho o de restabelecer no possível a universalidade primitiva da igreja, não podemos deixar de reconhecer que a imersão é universal, enquanto o derramamento e o borrifamento não o são. Os defensores destes chamados batismos, ainda que insistam que são bíblicos, confessam também que a imersão é batismo. Alguns fazem isso se fundamentando na filologia e na história, mas mesmos os ultra defensores da aspersão e do derramamento aceitam a imersão com o fundamento de que a forma não é essencial para o batismo. Por isso, felizmente resulta que, por vários caminhos todos nós podemos chegar a um acordo a respeito da imersão como batismo, e respeitando a imersão somente. Aceitamos, pois, a marca da universalidade, e rejeitamos o que carece dela.

2. E quanto aos sujeitos do batismo, também nisto estamos de acordo com os corpos batistas e em desacordo com os pedobatistas. Isto do mesmo modo é ocupar terreno universal. Controvérsia nenhuma há acerca do batismo dos que crêem em Cristo; se questiona somente acerca do batismo dos que não crêem ou não podem crer. Carece de marca da universalidade o batismo infantil e a possui o de crentes.

3. E quanto ao propósito do batismo, não vamos na companhia dos batistas; nós falamos mais conforme com o partido oposto, apesar de não poder dizer que nossa posição seja exatamente a mesma de nenhum dos que o formam. Dizem os batistas que batizam a seus adeptos por estar estes perdoados, insistindo com isto que devem ter a evidência do perdão antes de ser batizados. Tão claro e nada ambíguo é todavia a linguagem empregada pelas Escrituras para dizer qual é o objeto do batismo que a maioria dos protestantes e também os católicos romanos reconhecem em seus credos que, em algum sentido, é para a remissão dos pecados, mas estes e muitos daqueles unem ao batismo a idéia da regeneração e insistem que naquele é efetivamente conferida esta pelo Espírito Santo. Até a célebre Confissão de Westminster parece favorecer a idéia, ainda que expliquem de outra maneira aos seus aderentes na atualidade. Estamos tão longe desse exagero ritualístico como do anti-ritualismo que os batistas têm se deixado levar. Entre nós, a regeneração deve ser realizada antes do batismo, quando menos o suficiente para que a pessoa possa estar mudada em seu coração, e haver rendido este a Cristo, movido pela fé e arrependimento, porque de outra maneira não passa o batismo de ser uma forma vazia. O perdão, porém, é distinto da regeneração. Aquele é ato Soberano; não é a mudança do coração, e sim um bem outorgado quando há fé e arrependimento, convém que o seja em uma forma tal que o pecador penitente tome posse da promessa de perdão dada pelo Senhor, confiando nos testemunhos divinos: "Quem crer e for batizado será salvo" e "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo". Desta maneira lança mão da promessa do Senhor, tomando posse dela. Não é que a mereça, procure nem ganhe com o batismo, mas que toma por seu o que a Divina Misericórdia do Senhor tem provido e oferecido segundo o Evangelho.

Ensinamos, pois, aos que se batizam que, ao trazer para o batismo um coração que renuncia ao pecado e confia absolutamente no poder que tem Jesus Cristo para salvar, podem descansar na promessa do mesmo Salvador, a saber, que "o que crer e for batizado será salvo".

4. No que se refere ao início da Igreja de Cristo, não estão de acordo os principais teólogos e historiadores eclesiásticos ao ter por verificada aquele dia de Pentecostes imediatamente depois da ressurreição do Senhor dentre os mortos? Mas não é este o ponto de vista aceito por qualquer um dos partidos religiosos. As igrejas pedobatistas ensinam que os judeus e as igrejas cristãs são um só povo, sendo esta última um mero alargamento e melhoria do primeiro. Os batistas limitam a Igreja de Cristo para o Novo Testamento, estando muitos deles dispostos a limitar tal princípio para o ministério de João Batista. Entre nós se ensina que foi iniciada a primeira igreja de Cristo na cidade de Jerusalém, no dia de Pentecostes citado, de que temos relato no capítulo 2 dos Atos. Ensinamos que a instituição judaica, com a autoridade de Moisés como legislador, faleceu quando Jesus dobrou sua cabeça sobre a cruz e disse: "Está consumado". Que o legislador, o pacto, as leis, as pessoas, as promessas da nova instituição, são outros distintos dos da antiga e que a partir dessa altura aprenderíamos de Cristo e seus apóstolos as condições de salvação, as regras da vida, as leis de associação, o espírito e caráter da religião, e de Moisés e dos profetas somente no que estes sinalizam para essa e preparem o caminho. Admite, pois, a Bíblia que a dividamos em partes de um modo simples e fácil. O Antigo Testamento introduz ao Novo. Apresentam os quatro Evangelhos o conhecimento de Jesus, e as evidências em que deve se basear a fé neste Redentor Divino. Dão a saber os Atos dos Apóstolos como no tempo destes se pregava e aceitava o Evangelho da salvação, ou seja, a maneira que foram feitos cristãos os pecadores, e depois associados na qualidade de irmandade espiritual. Foram dirigidas as Epístolas aos cristãos para instruí-los nos deveres, perigos, provas, esperanças que lhes tangem e prepará-los para que executem toda sorte de boas obras. O Apocalipse, se supõe, trata do porvir e destino final da Igreja de Cristo.

5. Quanto ao governo eclesiástico, estamos de acordo no principal com congregacionais e os batistas, ainda que não de todo. Não é conhecida entre nós a distinção entre clérigo e leigo. Sacerdotes reais para Deus são todos os cristãos. Em nenhum sentido constituem um casta de pregadores, mestres e regentes. Para a ordem e eficiência temos anciãos ou bispos, diáconos e evangelistas, mas ausentes estes, ensinados estão nossos membros a se reunir, a praticar as ordenanças e se estimular mutuamente ao amor e às boas obras; podem batizar, administrar a Ceia do Senhor, e executar tudo o que for necessário fazer a fim de promover o desenvolvimento próprio e a salvação dos pecadores. Não obstante, tão logo se descubram os dons convenientes, se elegem pessoas que desempenhem as funções de anciãos, diáconos e ministrem de qualquer outro modo que necessite a igreja. Em muitas partes se encarregam os anciãos de pormenores governamentais e disciplinares, sendo sempre responsáveis por seus atos à igreja.

Não temos nós nenhum tribunal eclesiástico, corretamente falando, fora das igrejas locais; mas já se tem introduzido o costume de relatar os casos difíceis a uma comissão nomeada pelos litigiantes de comum acordo, cuja palavra seja final. Nem discutem nem decidem pontos doutrinais e de disciplina nossas Assembléias de distrito, Estado e Nacional, mas de cooperação em boas obras.

6. Acerca da questão da união, quando teve seu princípio este movimento, o fundamento para a união dos cristãos lhe foi peculiar. Nos últimos anos, com o crescimento do sentimento unionista entre os cristãos, já não se pode dizer que nos é peculiar, com exceção de uma característica importante do dito sentimento que todavia o é. Embora exista uma confissão geral que o sectarismo tem seus males tem trazido um desejo generalizado de ver uma união de cristãos, não se tem apresentado ainda nenhuma base ou plano definitivo de união. Nesta parte andam todos tateando no escuro, sonhando os mais que lograram certa unidade desejável sem a união efetiva, guardando assim seus traços favoritos de denominação apesar de lisonjear-se que estão se libertando do sectarismo. Nós, porém, temos apresentado e posto em prática desde o princípio um plano definitivo de união. Corresponde a outro capítulo a apresentação desta característica de nosso argumento.

4. PLANO ÚNICO POSSÍVEL DE UNIÃO

Ao terminar esta resenha desejamos que se fixe a atenção em nossa atitude no que toca a questão da união. Ë muito geral o reconhecimento que há na atualidade dos males e prejuízos, quando não no pecado efetivo, do sectarismo. Não tem sido sempre assim. Quando este argumento em favor da restauração do cristianismo primitivo foi feito pela primeira vez, tinha por característica predominante a denúncia da loucura e da abominação das denominações entre os cristãos, acompanhada de um apelo em favor do restabelecimento da universalidade das igrejas apostólicas. Naquele tempo contava com poucos amigos este argumento. Encontrou a suspeita, a dúvida, a indiferença, as disputas sofisticas, as tempestades denunciatórias, a qualificação de idéia visionária e nada desejável. As denominações em geral se opuseram porque compreendiam que tal ensino as feria em suas mesmas raízes se opondo a tudo o pertencente a mera vida de denominação. Nos últimos anos, no entanto, houve uma grande revolução da opinião pública sobre esta questão tem se desenvolvido. Na maior parte das comunidades já não há necessidade de argüir a favor do quanto é desejável a união cristã, porque esta se concede desde logo, ou mais bem o defendem e ilustram com muita habilidade e eloqüência de línguas e de canetas nas diversas denominações.

Ainda é preciso confessar que o movimento em prol da união se acha ainda em estado nebuloso. O assunto é tratado pela maior parte dos escritores de uma forma cuidadosa. Há evidências dolorosas que existem mentes superiores estreitadas por suas afiliações eclesiásticas, que buscam tateando algum plano de união ou afiliação de denominações que evite o sacrifício dos ídolos de partido e permita aos sectários a posição de gozar os benefícios da mais ampla comunhão, mas pagando somente uma parte do preço.

Pode se dizer que as seguintes são as fases diferentes deste movimento unionista:

1. A fase Igreja-Ampla. Se temos compreendido esta, na forma de que se reveste na Inglaterra, prefere deixar sem resolver todas as questões, inclusive as mais vitais e fundamentais, como a divindade de Cristo e a inspiração das Escrituras, a favor de todos os que queiram dar seu consentimento ao que requer a Igreja Anglicana, ou outra obra estabelecida pelo Estado, com as reservas mentais que forem necessárias em cada caso, para ter mediante tal arranjo uma ou mais igrejas nacionais com disposições tão amplas e liberais em que caibam todos e se satisfaçam os desejos de todos. Enquanto vemos, assim, muito que elogiar nas vidas e nos trabalhos de homens de ricos dotes mentais que emprestam a influência de seus nomes poderosos, confessamos uma espécie de repulsa ao refletir na política sórdida que induz tais homens a permanecerem em um estabelecimento cujas doutrinas e rituais não lhes simpatizariam nem por um só dia se não fosse a questão dos soldos que ganham. Nada de generoso tem em minar a mesma instituição que lhes providencia o sustento. Nenhuma honra lhe faz o racionalismo deste século que tanto dos seus defensores comam e enriqueçam nos despojos de uma religião em que não tem fé, ocupando uma falsa posição por motivos puramente mercenários. A causa de Deus nada tem que esperar de uma origem tão egoísta e corrompida.

2. A fase de Unidade. Estes têm a unidade como desejável, mas a união como inviável. Eles defendem um sentimentalismo poético da universalidade de espírito que não pode ser efetivada na vida. Propõe que as denominações permaneçam intocadas em suas organizações e interesses, não exigindo mais do que o melhor comportamento para o outro. O fim mais elevado que se propõe é a confederação das denominações para propósitos gerais em que todos concordam, deixando as igrejas locais, rivais e competidoras, com suas doutrinas opostas entre si para se ajustarem como melhor puderem. Não há necessidade de argumentação mostrando que isto está muito distante do modelo bíblico de união.

3. A fase de União Orgânica. Esta encontra expressão variada. Uns a entendem simplesmente como a união orgânica de todas as denominações que têm semelhanças entre si ocupando um terreno comum, ou seja a conversão de várias denominações médias em uma grande denominação, deixando as outras às influências do tempo. Outros fazem dela um esforço enérgico e declarado cujo objetivo é juntar em uma as principais denominações evangélicas condensando todos seus credos em alguns artigos de ortodoxia que todos os cristãos poderiam aceitar e úteis, ao mesmo tempo, para excluir todos aqueles que forem suspeitos de uma falta de ortodoxia.

Há um ponto de vista que simpatizam com todas estas fases dos movimentos de união. Estamos felizes com toda manifestação que tende a quebrar as barreiras sectárias, de cada passo que reprova a loucura e a fraqueza do sectarismo. Talvez seja necessário que tais medidas preparatórias abram o caminho para uma coisa melhor. Levam boa direção, e uma vez afastada da opinião pública as antigas formas sectárias não será nada fácil voltar atrás os baluartes do sectarismo do passado. Como uma consumação, nenhuma destas medidas propostas são desejadas com alma como remédio. Elas não conseguem atingir as raízes da doença e não passam de tímidos corretivos passageiros.

Vejamos agora a doutrina da união cristã ensinada e praticada por nós.

1. Esta confessa francamente não só a insensatez, mas também o pecado do sectarismo, e ensina que ele deve ser abandonado, exatamente como se fosse qualquer outro pecado. Ele não propõe qualquer compromisso com as idéias sectárias, mas insiste que se opõe diretamente aos ensinos de Cristo e os nomes, os credos e as organizações de partido tem que ser abandonados. Ele distingue a diferença que há entre as denominações que vão se separando da Igreja de Deus para se unir à Babilônia e as que estão lhe deixando tentando encontrar a Igreja de Deus. Com estes últimos, temos muita simpatia e desculpamos as imperfeições dos seus muito importantes movimentos de reforma. Ainda assim insiste em que o retorno da Babilônia para Jerusalém estará incompleto enquanto houver denominações discordantes e rivais no lugar de uma só igreja universal apostólica dos tempos primitivos.

2. Ele insiste que a unidade e a união são praticáveis, que no primeiro século da Igreja estabeleceram o Senhor e seus apóstolos uma grande irmandade espiritual, incorporando nela pessoas de todas as classes e nacionalidades, contudo diversificada em seus sentimentos, gostos, hábitos e costumes das mesmas. Insistem, também, em que apresentavam obstáculos para a realização de uma tal união do que quaisquer que sejam os que existam agora entre os professos seguidores de Cristo. Com ânimo varonil, pois, devemos fazer frente às dificuldades que existam e vencê-las.

3. Ela propõe simplesmente um retorno "na letra e no espírito, em princípio e na prática" à base original da doutrina e da participação. Buscando isto, encontra:

a) Que todos os que colocaram a sua confiança em Jesus como o Cristo, o Filho de Deus, e por causa dele deixou seus pecados e renunciando a todo senhor que não seja Ele, foram admitidos como dignos de ter parte nesta comunhão. A única condição essencial de admissão é a fé no Senhor e Salvador divino. Sem esta fé ninguém poderia entrar, é pois impossível ter crianças como membros. A ninguém que tenha fé pode ser negada a admissão. Outra condição além da fé em Jesus Cristo e a submissão a Ele era imposta. Estamos, portanto, proclamando, em oposição a todos os grandes e pequenos credos da cristandade, que o credo original continha um só artigo: Que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Todos os outros devem ser abandonadas.

b) Que por meio do batismo eram admitidos nesta comunhão todos os crentes, com a autoridade de Jesus Cristo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Como dissemos antes, não deve haver nenhum tropeço aqui se existe de fato um desejo de união, já que todos confessam que é batismo a imersão e que não há outra coisa que seja admitida por todos. Só pode ser a teimosia do espírito de seita que impede a união naquilo que todos podem aceitar. A única dificuldade verdadeira que atravessa no caminho das pessoas que tenham recebido o derramamento ou a aspersão já adultos e têm escrúpulos de consciência contra a repetição, em seu modo de ver, de uma obediência já levado a cabo. Estes, porém, são casos excepcionais e em breve se ajustariam se doravante fosse praticado somente aquela forma que todos aceitam como o batismo válido.

c) Que entre os crentes batizados não houve casta espiritual e nenhuma diferença entre clero e leigos, mas que todos eram irmãos; e nenhum foi chamado para ser mestre ou padre. Com isto mesmo deveria estar em harmonia a ordem da igreja. Não deve se insistir em nada como condição de comunhão ou de autoridade divina sem que haja um claro "Assim diz o Senhor" em expressar um preceito ou precedente aprovado.

4. Em todas as questões em que não estão cobertos por algum preceito ou precedente, a lei do amor deve nos levar ao que promove a paz e a edificação.

a) Em assuntos que sejam de mera inferência, a unanimidade deve ser procurada, mas não forçada;

b) Nos assuntos que sejam de mera prudência, decida a maioria, tendo o cuidado de não exceder os limites da conveniência e trabalhando, assim, em sentido contrário a algum preceito divino; e tendo sempre em consideração o bem-estar e ainda as preocupações de todos;

c) No que diz respeito ao que Cristo nos deixou livre, ninguém tem o direito de julgar o seu irmão. Neste ponto deve haver a mais ampla liberdade, limitada somente pelo espírito do ensino apostólico: "Se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo".

O que brevemente temos exposto é aquilo que propomos como base de união. Não temos nenhum desejo de união orgânica sem o amor supremo à Jesus, que leva a unidade do espírito e nos prepara para o sacrifício voluntário de todos, menos a Cristo.

Não cremos na possibilidade de unir as denominações em base alguma meramente sectária, por liberal que seja. Não pode ser união cristã senão for uma união em Cristo, ou seja, que preceitue a Cristo, nem mais, nem menos. Inútil será toda tentativa de união de partidos, apesar de todo sentimento de união prevalecente, com toda a repugnância que há em se propor o abandono do nomes e interesses sectários. Portanto, não propomos a união das denominações, mas apelamos a todas as pessoas nas várias denominações a sair delas e se unir na fé e nas práticas do Novo Testamento. Desta forma propomos subverter o sectarismo, chamando os que amam a Jesus para fora delas e influenciando os que se negam a se separar com a doutrina do Novo Testamento até que estes também estejam prontos para abandonar a denominação para seguir a Cristo.

5. OBJEÇÕES À NOSSA POSIÇÃO

Existem algumas objeções ao plano de união que levamos adiante que convém contestar.

1. Que apesar de repudiar abertamente tudo o que é sectário e propor somente o que é universal, o que fazemos é praticamente estabelecer uma condição sectária, admitindo somente aos que aceitam nossa interpretação do significado do batismo. Isto é, que não permitimos a um partidário da aspersão ter a sua própria interpretação, mas que deve se dobrar à nossa.

A. Se isto fosse verdadeiro seria uma objeção séria. O certo é que para nós não há aqui uma questão de interpretação, mas de tradução. Propomos nos juntar com todos os crentes em Cristo Jesus fundamentados na Palavra de Deus, aceitando o que ela ensina e executar o que ela manda. Como a Palavra de Deus não foi originalmente escrita em português, é necessário que ela seja traduzida em palavras que fielmente comuniquem "a mente do Espírito". O que insistimos é que o vocábulo grego baptizo não está fielmente traduzido em português por "despejar", "borrifar" ou "lavar", mas por "submergir", "mergulhar" ou "imergir". Sendo assim, uma tradução fiel faz desnecessária uma interpretação partidária acerca do ato a ser feito. Repetimos, pois, que a ninguém impomos interpretações, somente pedimos que se traduza fielmente a Palavra de Deus. A questão é puramente filológica.

Se ele disser que está em dúvida quanto à tradução, respondemos que não há mais dúvida que pode ser suscitada quanto a qualquer outra expressão que se queira por em disputa. Nem tanto como poderia se alegar contra muitas outras expressões importantes do Novo Testamento e nenhuma dúvida que seja apresentada possa ser um obstáculo sério para a união, desde que o espírito de união exerça sua justa influência. Isso será visível à luz das seguintes afirmações:

a) Todos os lexicógrafos em sua notas dizem que "submergir", "mergulhar" e "imergir" é o significado literal de baptizo;
b) A história da Igreja comprova claramente que não só a imersão era a prática da Igreja Primitiva, mas que nos doze séculos seguintes continuou a ser a prática geral;
c) A Igreja Grega sempre praticou a imersão e continua praticando hoje;
d) A Igreja Católica Romana admite sem dificuldade que o praticado originalmente foi a imersão, não tendo a pretensão de basear a sua prática atual no significado da palavra, nem na autoridade das Escrituras, mas afirma a autoridade da Igreja para alterar o ordenado. Defendem os católicos romanos tanto a aspersão como a sua prática em crianças em razão da tradição, confessando publicamente que não podem comprovar seu direito com a Bíblia somente.

Na qualidade de herança católica, e não baseada na autoridade da Palavra de Deus, obtiveram admissão entre os reformadores Protestantes a aspersão e a admissão de membros infantis. Importaram estas idéias da Babilônia como fruto de sua formação religiosa e se acharam carregando estes fardos e o adicional de ter que encontrar ou inventar alguma autorização bíblica que os justificasse.

Lutero, Calvino e Wesley confessaram publicamente que a imersão foi a prática apostólica. Calvino justificou a aspersão afirmando que a Igreja tem autoridade de mudar a forma certa mantendo a substância. Mas, acrescentou que a palavra batizar significa mergulhar e que não há dúvida que a imersão foi a prática da igreja antiga.

A imersão foi o que a rubrica da Igreja Anglicana no momento em que os Presbiterianos chegaram ao poder na Inglaterra e formaram o seu Diretório de Culto Público. Eles a mudaram a fim de que lessem que não só a aspersão era legal, mas suficiente, prevalecendo a nova disposição pelo voto do Moderador, porque houve empate, não se atrevendo ninguém a negar a legalidade da imersão.

Agregando a estas considerações o que dissemos acima, a saber, que todos podem aceitar a imersão como batismo válido, se vê que não pretendemos impor interpretações nem tiranizar a consciência de ninguém. Insistimos naquilo que preceitua a Palavra de Deus e que todos podemos aceitar sem sacrificar consciências.

II. A segunda objeção é que nosso credo é demasiado amplo, que admitirá hereges de diversas matizes e que sufocará a Igreja com um encargo intolerável de erros. A isto respondemos:

1. Que a questão que tem que ser resolvida não é o bem ou mal calculado de trabalhar assim, nem acerca do que poderá resultar. Divertimo-nos com semelhantes alternativas quando se trata de coisas de caráter menos sagrado, quando se põe em pano de juízos as conveniências e não os métodos e ensinos apostólicos. Isto segue sem réplica. Não cabe controvérsia quanto a pregação do Evangelho e conversão dos pecadores a Cristo, os apóstolos nada souberam nem quiseram saber além de Cristo e este crucificado. É igualmente certo que eles receberam pecadores ao batismo logo que confessavam fé em Jesus como Cristo, o Filho de Deus vivo. Não seria impiedade de nossa parte questionar a sabedoria das ordens e disposições divinas? Como nos atreveríamos a levantar barreiras, sejam doutrinais ou práticas, onde nenhuma é imposta?

2. As invenções humanas para manter fora as heresias e os hereges não têm sido bem sucedidas. Elas têm produzido mais heresias do que têm prevenido ou curado, e em vez de impedir a multiplicação dos partidos, têm sido um manancial abundante de divisões. Se às vezes elas têm impedido a entrada de enfermos na fé, porventura não têm impedido também muitos que Deus aceitou porque não podiam admitir as tradições dos homens? A Igreja unida, nem ainda a Igreja pura, não será vista nunca como resultado da imposição das condições humanas, mas muito pelo contrário.

3. Se os homens estão cada vez persuadidos a amar e confiar em Jesus como o Salvador Divino, facilmente podem ser endireitados quanto ao mais. O desenvolvimento normal do amor de Cristo como poder soberano da alma vencerá e aniquilará muito mais facilmente que os acertos da autoridade usurpada do homem ou que a aprovação verbal dos dogmas da Igreja. Os primeiros convertidos ao cristianismo tiveram muitos erros, como é evidente no Novo Testamento, mas os apóstolos confiavam que, progredindo eles no conhecimento e amor de Cristo, iriam deixando para trás os erros com a mesma rapidez.

Com base nesta esperança eles os deixavam em paz e não procuraram impor à força aos demais, ou desde que estes erros não subvertessem a sua fé em Cristo. Tinham os apóstolos ciúmes de tudo que debilitava a fé da alma apartando-a de Cristo e de tudo que usurpava a autoridade dele, em tudo o mais eram tolerantes. Vamos aqui citar as palavras de um outro: "Ponha Cristo em seu templo e ele deixará fora tudo que não deve estar ali". A sua congregação se perturba na presença de aves ou bestas que a contaminam? Abra a porta ao Senhor e lhe dê plena posse, porque Ele é o único que tem poder para expulsá-los. Será que o templo do seu coração está infestado com as bestas do egoísmo, que manifestam a sua presença com as obras da carne? Você não pode expulsá-las sozinho. Ponha Cristo em seu templo. "Há ainda aqueles que estão em vão tentando limpar o templo da sua falsidade com um chicote de pequenas cordas doutrinais colocado para fora do seu próprio cérebro. Existem aqueles que estão tentando expulsar das igrejas os instrumentos musicais, as festas e etc., pela força de ameaças e não falta quem, crendo em suas próprias forças, se propõe purificar sua vida. Ponha a Cristo em seus templos e Ele expulsará de vocês tudo o que não deve estar ali" (Alex Procter).

4. É possível unir os homens na fé e no amor de Jesus, o Cristo, para que tenhamos na Terra uma fraternidade comum, inspirada por uma fé comum, esperança e amor. Mas não é possível estabelecê-la sobre a base de nenhum credo idealizado pelo homem. Nenhum credo humano teve a Igreja do primeiro e segundo séculos.

III. Argumenta-se que as escrituras ensinam muitas coisas além da divindade de Cristo e que os cristão devem estar devidamente instruídos, é indispensável ensiná-los as verdades da Bíblia com toda fidelidade.

Resposta:
1. Inquestionavelmente assim é. Os discípulos haverão de aprender estas verdades depois de entrar na Igreja, mas elas não são condições de admissão. Os professores devem instruir a Igreja em tudo o que a Bíblia ensina, mas os membros não são obrigados a aceitar essas instruções quando não creiam que são comprovadas mediante o testemunho bíblico. Mas, e se o professor chega a ser herético? Então, que a Igreja deixe de empregá-lo nessa qualidade.

2. Há questões especulativas que não podem entrar no ensino do púlpito, nem cabem propriamente em um credo, porque não são questões de fé, mas de opinião. Ainda que de um ponto de vista filosófico a sua discussão possa ser valiosa. Todas estas questões devem ser relegadas para as escolas de filosofia e ali devem ser discutidas sem perigo de interferência eclesiástica.

IV. Se objeta que os interesses dos diferentes sistemas de governo da Igreja impedirão a união.

Respondemos que, quando o Espírito de Cristo se torna superior ao orgulho denominacional, nenhuma questão da política eclesiástica poderá dividir os cristãos. Entre as condições da salvação não se encontra o governo da Igreja. Ao ser verdade o que tanto se afirma, a saber, que as Escrituras não prescrevem nenhuma forma definitiva de governo e, portanto, estas diversas formas são fruto das circunstâncias e amoldadas às exigências do tempo, razão para que sejam deixadas quando novas circunstâncias são requeridas. Não agiria como cristão quem permitisse que algo não divino atrapalhe a união do povo de Deus. Não pensamos em discutir detidamente esta questão por enquanto, porque uma vez que vencidas todas as dificuldades mais graves, certamente esta não ficará de pé por muito tempo.

V. Jamais poderemos estar unidos nas coisas não essenciais.

É certo, e não seria mais digno se fizéssemos. Eis aqui a linha de demarcação que tiramos. No essencial - o que é claramente ensinado e ordenado como a vontade de Deus, temos que ser um. No não essencial - em tudo o que Cristo não tenha ensinado e preceituado, devemos ser deixados livres, guiados somente pela lei do amor que nos leva a buscar as coisas que favorecem a paz, e com as quais podemos nos edificar mutuamente.

Fim.


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1 Por ser fruto dos esforços humanos, os movimentos de “restauração” ou “reforma” da igreja não são perfeitos e o nosso Movimento não fugiu à regra. Alexander Campbell, por volta de 1840, percebeu que algumas das suas posições eram insustentáveis. Mais experiente e conciliador passou “a aceitar a unidade na diversidade pluralista e minimizar a necessidade de uma postura rígida pelo ideal restauracionista”. Essa mudança na teologia e na prática dos Discípulos apressou a sua divisão. Em 1906 as Igrejas de Cristo (Anti-Instrumental e Anti-Cooperativa), o ramo sectário do nosso movimento, constituíram um corpo separado e estão continuamente se dividindo desde então. Entre a década de 1920 e 1968 uma outra divisão ocorreu quando o grupo mais liberal e ecumênico reestruturou-se como a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo). Os Discípulos que não desejaram ser parte dessa nova denominação formaram uma comunhão de Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo conhecida como os "independentes" - nota do tradutor.