sábado, 12 de novembro de 2011

O DNA das Igrejas de Cristo - 2

   Unidade, Diversidade e Liberdade


Sabemos que o Movimento de Restauração surgiu oficialmente com a união das Igrejas Cristãs (Cristãos) e das Igrejas de Cristo (Discípulos de Cristo) em 1832. Os cristãos tinham como seu principal líder Barton W. Stone e os discípulos eram dirigidos por Thomas e Alexander Campbell.

Todavia, uma uniformidade doutrinária e prática nunca foi alcançada entre as igrejas do nosso Movimento. As igrejas eram muito diferentes uma das outras, mas eles buscaram e alcançaram a união. Tanto que Barton W. Stone comentou: “Eu considero essa união como o ato mais nobre de minha vida” (Humble, 20).

Semelhanças entre os pioneiros

“Campbellistas” e “stoneítas” eram semelhantes nos seguintes pontos:

A Bíblia e os credos ou confissões: A Bíblia era para eles a única autoridade em matéria de fé e prática cristã e concordavam que Credos ou Confissões de Fé não deviam ser impostos sobre a igreja;
Unidade cristã: Eles promoviam a unidade cristã;
Rejeição do calvinismo: Eles reagiram contra a teologia calvinista da Igreja Presbiteriana e passaram a aceitar as idéias da teologia reformada arminiana;
Rejeição do pedobatismo: Ambos aceitavam o batismo de crentes, rejeitando o batismo de crianças (pedobatismo);
Nomes bíblicos: Procuravam se designar por nomes bíblicos: “cristãos” ou “discípulos”, “Igrejas Cristãs” ou “Igrejas de Cristo”;
Governo congregacional: As igrejas eram congregacionais, ou seja, não aceitavam outras formas de governo além da igreja local.

Principais diferenças

Leroy Garrett, um dos grandes historiadores do nosso Movimento, também identificou algumas diferenças entre eles (Soto, 32):

Nome: os campbellistas usavam Igrejas de Cristo / Discípulos de Cristo. Os stoneístas Igrejas Cristãs / Cristãos;
Batismo: os campelistas enfatizavam o batismo para o perdão dos pecados. Os stoneístas a imersão de crentes, mas não necessariamente para o perdão dos pecados;
Ceia do Senhor: os campbellistas praticavam semanalmente (domingos). Os stoíneístas afirmavam que não há nenhum mandamento bíblico quanto à periodicidade da Ceia do Senhor;
Ministério cristão: os campbellistas não favoreciam um ministério ordenado. Os stoneístas criam que somente um ministério ordenado poderia batizar os novos convertidos, por exemplo;
Modelo de Unidade: os campbellistas estavam preocupados em restaurar um padrão ou modelo antigo para a igreja. Os stoneístas estavam mais interessados em unir todos os homens em Jesus Cristo;
Método evangelístico: os campbellistas, influenciados pela filosofia secular (o racionalismo e o realismo sensato) enfatizavam a razão ou no “linguajar evangélico” enfatizavam a Palavra. Os stoneístas usavam os métodos do Segundo Grande Avivamento, onde as reuniões de avivamento organizadas se tornaram o meio mais comum de evangelizar, com pregações emocionais e conversões com manifestações físicas e sinais.

O testemunho evangélico da época

Um dos maiores teólogos de todos os tempos, Augustus H. Strong, registrou em sua Teologia Sistemática, a obra mais usada entre os batistas há quase 200 anos, a enorme diversidade de opiniões entre nossas igrejas (Strong, 720). Todavia, o desejo de união foi maior do que suas diferenças.

Unidade na diversidade

Para Garrett o que caracteriza o nosso Movimento é a unidade na diversidade e até Alexander Campbell, o principal teólogo e organizador das Igrejas de Cristo no século XIX afirmou:

“Nós temos entre nós toda a sorte de doutrinas pregadas por toda a sorte de homens” (Haley, 3).

Era Alexander Campbell um mentiroso? Claro que não.

A declaração acima é verdadeira e fica provada, além das diferenças citadas acima, pelas razões que apresentaremos a seguir. Barton W. Stone teve enormes dificuldades para aceitar as formulações teológicas sobre a Trindade e foi simpatizante do ecumenismo. O próprio Campbell, já ancião, não ensinava e nem praticava a imersão com o propósito de perdoar os pecados, cria que havia cristãos nas denominações e etc. E Thomas Campbell permaneceu calvinista em suas convicções teológicas até ir para o Senhor (Garrett, Restauration Review). Quanto ao governo da igreja também havia diversidade. Os irmãos que tinham origem batista tinham um governo democrático. Os de origem presbiteriana eram favoráveis a um governo democrático representativo com um presbitério governando a igreja local (Haley, 4) e assim permaneceram.

Intolerância e Divisão

Infelizmente, mesmo tendo essa grande diversidade como herança, as igrejas do nosso Movimento enveredaram pela intolerância e a divisão. As diferenças entre o norte e o sul (Soto, 104) e a amargura decorrente da Guerra Civil nos Estados Unidos podem ser citados como aprofundadores das razões que causaram a divisão (para obter mais informações sobre esse assunto leia o artigo “As controvésias e as divisões no Movimento de Restauração”,  no site www.movimentoderestauracao.com ou em nosso blog sobre a historia das Igrejas de Cristo: www.historiadasigrejasdecristo.blogspot.com ).

O nosso Movimento teria se transformado em uma seita que se reproduz por divisões legalistas se não fosse a intervenção de homens como Isaac Errett, autor do clássico “Nossa Posição – Uma sinopse da fé e da prática da Igreja de Cristo”, traduzido em português pelo autor desse artigo, e disponível nos sites acima citados.

Conclusão

Devemos rejeitar o sectarismo, valorizar a tolerância e buscar a unidade entre os cristãos. Esse foi o caminho percorrido pelos pioneiros do Movimento de Restauração/Movimento Stone-Campbell. Negar a destra da comunhão por causa de diferenças doutrinárias ou práticas é ir na contra-mão da nossa tradição de unidade, diversidade e liberdade. Lembrem-se dos nossos antigos lemas:

“No essencial, unidade; Nas opiniões, liberdade; Em todas as coisas, o amor”;

“Não somos os únicos cristãos, mas unicamente cristãos”.

Como Errett disse: "Que o laço de união entre os batizados seja o caráter cristão em vez da ortodoxia; o correto fazer em vez do correto pensar; e, ao tomar em conta os secos preceitos, que se reconheça a liberdade de cada um sem buscar impor limitações aos irmãos fora da imposição da lei do amor". Os nossos antepassados aprenderam essa lição e preservaram a unidade do espírito na paz de Cristo (Soto, 32).

Ao chegar em Brasília-DF pela primeira vez para a Atualização Ministerial e Eclesiástica (AME), constatei a enorme diversidade que caracteriza as Igrejas de Cristo do centro-oeste brasileiro. Fiquei apaixonado. Como se parecem com o nosso Movimento no início. Unidade, diversidade e liberdade, eis a nossa principal virtude. E esse é o caminho para nós no século XXI: a unidade na diversidade!


Pedro Agostinho Jr.
Pastor da Igreja de Cristo

Fontes:

HUMBLE, B. J. La Historia de La Restauración, pág. 20.
SOTO, Fernando. La Reforma Presente (citando “The Stone-Campbell Movement: Na Anecdotal History of Three Churches” de Leroy Garrett, 282), pág. 32.
STRONG, A. H. Teologia Sistemática, pág. 720.
HALEY, T. P. Unidade na Diversidade (Relatório Convenção Centennial, 1910 – ed. W. R. Warren), pág. 01.
GARRISON, J. H., Union Christian, pág. 37.
GARRETT, Leroy. Restoration Review, Vol. 20, No. 10, dezembro de 1978.

Nenhum comentário:

Postar um comentário